sexta-feira, 27 de junho de 2014

O mundo ficou doido? - Tudo o que é sólido desmancha no ar Rafael Brasil - 21.07.2001


O mundo ficou doido? - Tudo o que é sólido desmancha no ar
Rafael Brasil
Certamente o velho Marx, esteja onde estiver, está dando umas boas risadas com a conjuntura política internacional, dita pós-moderna. As esquerdas são contra a globalização. A direita, e os sociais-democratas, são a favor. A cada reunião de países ricos, o pau quebra. Bem que eles podiam se reunir aqui em Caetés, secretamente, comendo uma buchada na casa do meu amigo Tonho Barbosa, no sítio Pedra Grande. Só assim discutiriam com tranquilidade, os rumos da globalização, e o fazer para, se não acabar, diminuir as desigualdades neste cada vez mais conturbado mundo. O interessante é que as forças de esquerda, sobretudo as mais tradicionais, subitamente esqueceram as tradições internacionalistas, lutando contra a globalização, e consequentemente as previsões mais proféticas do velho Marx, apontando para a internacionalização da economia, e suas consequentes relações sociais. Assim, paradoxalmente, a bandeira do nacionalismo, no passado propagada pela buguesia constitui-se agora na principal bandeira esquerdista. Proletários de todo o mundo: desuni-vos! Que coisa! Seria este o novo lema da esquerda tradicional? Todavia, como sabemos, não é com gritos e palavras de ordem que se pode barrar o desenvolvimento das forças produtivas, da base econômica, para usar uma terminologia marxista. A questão seria: como este desenvolvimento poderia chegar aos povos mais pobres do planeta? Como incluir os excluídos planetários numa sociedade moderna, tecnologicamente avançada, e com estruturas sociais compatíveis com o desenvolvimento humano relativamente saudável? Será que o velho nacionalista responde a essas questões? Ou mesmo o remedo de socialismos que se experimentou, totalitário e estatista? Quais os paradigmas para um novo socialismo?
As desigualdades entre as nações são extremamente gritantes. Por isso o muro de Berlim vem sendo paulatinamente substituído, por um muro, embora invisível, que separa cada vez mais acintosamente os povos ricos, dos pobres. Esta barreira está contida sobretudo nas legislações dos países ricos, que se restringem ao máximo a migração dos pobres e desvalidos do mundo. Os sem terra, sem teto, e sem países, sem estado ou nações. As barreiras ideológicas cedem lugar às economias. O que fazer? Qual o futuro de inúmeros países, sobretudo os africanos, que foram construídos artificialmente, ao sabor dos interesses neo-colonialistas? Onde a corrupção, o autoritarismo, e os assassinatos em massa dizimam populações inteiras? São as sociedades sem estado, vivendo em situações para lá de caóticas, em que milhões de seres humanos sobrevivem, deus sabe como. Em outros termos, como ajudar ou mesmo esperar que estes países façam sua revoluções democráticas, como o consequente reaparelhamento das instituições e do estado? É difícil.
Em relação a nós, países considerados "emergentes", estamos por assim dizer, no meio termo. Ou seja, de consolidação democrática, com o devagar reaparelhamento do estado e suas instituições. Só que as reformas ainda não foram concluídas, e dúvidas pairam no ar, com as perspectivas da sucessão presidencial, com as forças retrógadas e populistas, que se apresentam com chances de levar o pleito. Veremos. E o socialismo? Bem, para chegarmos lá, seria interessante desenvolvermos o nosso cartorial capitalismo, que ademais sempre sobreviveu, de certa forma, às custas do estado. O caminho, como vemos, é tortuoso, difícil, mas não impossível. Afinal, o processo de inserção no capitalismo global, implica mais tecnologia e produção, se conseguirmos fazer uma verdadeira revolução na educação. Existem outros caminhos? Talvez, mas são mais tortuosos e incertos. E de incertezas já estamos cheios. Ou não?

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