quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

AMANTES DO FUTEBOL, NÃO PERCAM! Histórias de Sandro Moreyra


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Histórias de Sandro Moreyra


Ele foi autor de um livro só (Histórias do Sandro Moreyra, Editora JB, 1985), mas dono de muitas histórias que poderiam render dezenas de livros. Sandro Moreyra era uma “figuraça” e tinha duas paixões: futebol e samba. Era botafoguense e mangueirense. A descontração e a fina ironia, duas de suas marcas registradas, foram herdadas do pai, o escritor e jornalista Alvaro Moreyra, e da mãe, Eugênia Moreyra, uma das primeiras feministas do Brasil. Sandro é pai da repórter Sandra Moreyra, da TV Globo.

No jornalismo, Sandro Moreyra começou em 1946, naTribuna Popular, jornal do Partido Comunista Brasileiro, transferindo-se depois para o Diário da Noite. Em 1958, chegou ao Jornal do Brasil, que o consagraria como grande cronista e fantástico contador de “causos”, especialmente quando o assunto era o seu Botafogo, time pelo qual não só torcia, mas era também sócio de carteirinha. No JB ficou famosa sua coluna “Bola Dividida”. A partir de 1981 ele também começou a escrever para a revista Placar histórias curiosas de personagens do futebol brasileiro. Muitas delas eram verídicas, mas outras deixavam o leitor em dúvida se eram fatos ou “causos” inventados. A coluna durou até sua morte, em agosto de 1987.

Entre tantos personagens eleitos para destilar seu humor, dois deles rechearam boa parte do seu único livro, “Histórias de Sandro Moreyra”, Garrincha e o goleiro Manga, ambos botafoguenses e escolhidos pelas “pérolas” que viviam deixando escapar durante as centenas de viagens que o jornalista cobriu pelo Botafogo e Seleção Brasileira.

Sobre o goleiro Manga, há algumas de chorar de rir. A primeira, envolvendo as duas figuras:

“A Caminho da Alemanha, Manga comprou, no aeroporto de Barajas, em Madri, um rádio de pilha por 180 dólares. Ao chegar ao hotel, em Frankfurt, ligou o rádio e ficou girando nervosamente o botão, e cada vez mais impaciente, Garrincha, seu companheiro de quarto, quis saber o que estava acontecendo.
- Não consigo pegar nenhuma estação nossa. Ele fala coisa que não entendo – disse Manga.
Malandramente, Garrincha pediu que ele procurasse entre os acessórios do rádio, um pequeno botão, que, introduzido num orifício ao lado, faria com que o rádio falasse português. Manga revirou a caixa do rádio e nada encontrou. Desesperado, achando que fora enganado, ia atirando o rádio pela janela, quando Garrincha ofereceu:
-Dou 20 dólares por ele, agora.
Manga tratou de vender logo e todo contente foi espalhar para os companheiros:
-Finalmente enganei aquele torto. Vendi para ele um rádio com defeito, que só fala língua de gringo”.

E outra:

“Ao sair de um treino do Botafogo, Manga esbarrou num sujeito gago, que lhe perguntou:
-Po-pode me in-for-for-mar onde fi-fica a es-co-co-la de gagos?
Mais por ingenuidade do que por maldade, Manguinha respondeu:
-Meu amigo, você não precisa de escola, já gagueja muito bem”.

Mais uma:

“De passagem pelo Rio, o goleiro manga participou da passeata pelas diretas, “pra depois contar lá no Recife”, e, mostrando o seu desbotado título eleitoral, comentou que, apesar de já ter completado 45 anos, só uma vez votou para Presidente.
-Ainda vivia no Recife.
-E em quem você votou, Manguinha?
-Não sei. Me deram um envelope pra meter na urna, quis dar uma olhada no nome, mas o coronel proibiu: disse que eu não podia olhar porque o voto era secreto”.

E, finalmente:

“Com o joelho machucado, o goleiro Manga procurou o consultório de um ortopedista. Mas, se acertou com o endereço, errou de sala: em vez de entrar na de número 501, do médico, invadiu a 503, de um advogado. Ao ser atendido, e sem se dar conta do engano, Manga explicou seu caso:
-Doutor. Estou com um problema no joelho esquerdo.
Surpreso, o advogado retrucou:
-Mas eu só trato de Direito.
Foi a vez de Manga se espantar, levantando-se contrariado:
-Puxa, doutor. Vá ser especializado assim no raio que o parta”.

Mas o personagem favorito mesmo de Sandro Moreyra era o ingênuo Mané Garrincha. Um outro botafoguense, exímio contador de histórias, o jornalista Roberto Porto, escreveu em seu blog (http://blogdorobertoporto.blogspot.com/ ), no ano de 2009, uma história que retrata bem quanta confusão Sandro arrumava até com os amigos jornalistas por causa das histórias que inventava sobre o craque botafoguense. A história acontece durante a cobertura da Copa de 1962, no Chile, com o Brasil recheado de craques do Botafogo, como Amarildo, Didi, Nílton Santos e, claro, Mané Garrincha:

“Havia um bando de jornalistas brasileiros cobrindo a Seleção, entre eles Sandro Luciano Moreyra (1919-1987), Mário Filho (1908-1966), Armando Nogueira (1927-2010) e Araújo Neto (1929-2003). Sandro, como sempre, divertia-se com os companheiros, principalmente com Mário Filho, que pretendia escrever um livro sobre aquele Mundial, assim como Armando Nogueira e Araújo Neto.

Mário Filho
Baseado na intimidade que tinha com os jogadores do Botafogo, titulares absolutos da Seleção Brasileira, Sandro passou a inventar notícias, passando-as para Mário Filho, àquela altura um jornalista mais de retaguarda, ou seja, mais editor do que repórter. A certa altura, Armando Nogueira ficou aborrecido com as mentiras de Sandro a Mário Filho e o repreendeu.

Sandro não tomou conhecimento da repreensão e foi adiante, inventando sonhos de Garrincha, premonições de Didi, palpites de Nílton Santos e assim por diante. Mário Filho acreditava em tudo. Foi então que Armando passou um pito em Sandro, seu colega do Jornal do Brasil. Sandro só lhe disse uma coisa: ‘Você, Armando, ainda vai colocar uma mentira minha em seu livro”.

Vida que segue, expressão usada por João Saldanha (1917-1990), que também estava lá, o Brasil conquistou o título e Armando e Araújo Neto colocaram na praça o livro “Drama e glória dos bicampeões do Mundo”. Sandro ficou quieto mas perguntou a Armando se tudo o que estava no livro era rigorosamente a verdade, nada mais que a verdade.

No livro, esgotado hoje em dia, há um capítulo sobre Garrincha, no qual Mané teria sido entrevistado por um radialista chileno após uma de suas exibições primorosas. Garrincha não queria dar a entrevista e o repórter insistiu. Garrincha voltou a negar. O chileno, então, sugeriu que ele cumprimentasse o público pelo microfone e se despedisse.
Garrincha foi curto e grosso:
- Adiós, micrófono...

Passado algum tempo, sempre sorrindo, Sandro perguntou a Armando:

- Não disse que iria colocar uma mentira em seu livro?
Armando retrucou sem graça:

- Que mentira, Sandro?

Sandro foi curto e grosso:

- Aquela do adiós micrófono... Isso nunca aconteceu...”

Sandro Moreyra deixou saudades na crônica esportiva. Como faz falta no jornalismo esportivo profissionais mais “bem humorados” e, principalmente, com o olhar atento não apenas ao que acontece dentro das quatro linhas de um jogo de futebol. E foi assim que, durante a Copa de 1982, Sandro Moreyra escreveu, talvez, a melhor de suas crônicas e que, não por acaso, abre seu livro “Histórias de Sandro Moreyra”:

“...Na monumental praça de toros de Sevilha, durante a Copa do Mundo de 82, um deslumbrado torcedor brasileiro ao ver passar o toureiro à sua frente ovacionado pela multidão que lhe atirava flores, leques e mantilhas, jogou-lhe como suprema homenagem, o pé direito de sua surrada e mal cheirosa conga.

Este foi um dos episódios de uma tarde inesquecível, em que os canarinhos brasileiros avacalharam completamente essa secular e sagrada instituição espanhola que são as touradas.

O torcedor da conga, na verdade, foi o único que durante todo o espetáculo se comportou corretamente, torcendo pelo toureiro como mandam as velhas e respeitadas regras das touradas. Os outros, ou seja, a imensa e vibrante torcida brasileira do futebol, com suas camisas amarelas, fitinha na testa e bandeira na mão, entrou na praça de Sevilha decidida a torcer pelo touro, fato que em qualquer parte da Espanha é considerado, no mínimo, uma heresia.

Mas, acima da tradição, falou a boa índole do brasileiro. Ele não se conforma com aquela luta desigual onde são dadas ao toureiro todas as vantagens e ao touro só se concede uma opção: a de se deixar matar. Ao tomar, porém, essa posição pró-touro, a torcida canarinho do Brasil ofereceu um espetáculo jamais visto em arenas e que será relembrado através dos tempos pelos amantes da tauromaquia com vergonha e indignação.

O primeiro impacto surgiu quando o touro ao entrar na arena, ainda meio tonto com a claridade forte, foi recebido em vigorosos aplausos das arquibancadas repletas de brasileiros. Facilmente identificados por suas camisas “amarelo-cheguei”, os canarinhos agitavam bandeiras saudando o touro com o entusiasmo que dedicam ao Flamengo quando adentra o gramado do Maracanã. Era, contudo, apenas o começo. Logo depois, quando o picador no seu cavalo cercou o touro e, num golpe rápido, cravou-lhe sua pontuda lança fazendo jorrar um sangue grosso e vermelho pelo seu pelo preto, uma tremenda vaia explodiu de mistura com gritos compassados de filho da puta e de pilhas de rádio atiradas em sua direção. O picador fugiu espavorido.

A entrada em seguida do moço das banderilhas, com suas calças justas e seu bolero bordado, foi de expectativa. Mas tão logo o viram dar aquela corridinha de bailarino na ponta dos pés os gritos ritmados de bicha, bicha, bichaacompanharam todo seu trajeto.

Nesta altura, os espanhóis estupefatos não entendiam o que estava acontecendo, julgando-se cercados por um bando de malucos. De seu canto, aguardando o momento de entrar em ação, o toureiro, famoso matador, olhava abismado sem compreender aquela unânime, inédita e feroz manifestação a favor do touro.

Chegou, então, o momento culminante. Ao som festivo de clarins, o toureiro, solene e grave, caminhando a passos firmes, com sua longa capa vermelha atirada aos ombros, entrou na arena, e cumprindo o ritual primeiro dirigiu-se à tribuna de honra. Lá, curvando-se num gesto elegante, atirou o seu solidéu, barrete ou que nome tenha a uma dama certamente ilustre. Em seguida, com a mesma pompa, voltou-se para o público e em galante reverência curvou-se numa saudação fidalga. E ainda estava curvado quando das arquibancadas estourou uma gritaria bem brasileira, forte e cadenciada: – Um, dois, três, quatro, cinco mil, eu quero que o toureiro vá pra puta que o pariu!

Boquiabertos, os espanhóis se interrogavam: – Que pasa, hombre? Los tipos son locos? Evidentemente não podiam compreender aquele comportamento de fazer corar de vergonha  Manolete, Dominguin, Paco Camacho, El Cordobés e todos os toureiros , vivos ou mortos.

Do outro lado, arquejante, já bastante ferido e lamentando não ter nascido vaca, o touro mantinha, no entanto, um ar embevecido. Jamais, qualquer de seus antepassados recebera tamanha solidariedade. Comovido, ele olhava cheio de gratidão para os canarinhos brasileiros. E tão encantado estava que nem viu quando o matador friamente e com imensa espada matou-o na primeira estocada.

Morreu feliz, certamente, por saber que na alma daqueles canarinhos brasileiros havia piedade por ele e repulsa por seu carrasco.

MÁXIMAS DO BARÃO DE ITARARÉ

Máximas do Barão de Itararé
Barão de Itararé


De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.
Quem empresta, adeus...
Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
Quando pobre come frango, um dos dois está doente.
Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco pobre.
Quem só fala dos grandes, pequeno fica.
Viúva rica, com um olho chora e com o outro se explica.
Depois do governo ge-gê, o Brasil terá um governo ga-gá. ( Ge-gê: apelido de Getulio Vargas. Ga-gá: referia-se às duas primeiras letras no sobrenome do novo presidente, Eurico Gaspar Dutra).
Um bom jornalista é um sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do jornal encher nababescamente a barriga.
Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim , afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
Os juros são o perfume do capital.
Urçamento é uma conta que se faz para saveire como debemos aplicaire o dinheiro que já gastamos.
Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.
O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
A gramática é o inspetor de veículos dos pronomes.
Cobra é um animal careca com ondulação permanente.
Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem.
É mais fácil sustentar dez filhos que um vício.
A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados.
Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai.
O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si.
Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você.
Mulher moderna calça as botas e bota as calças.
A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
Pão, quanto mais quente, mais fresco.
A promissória é uma questão "de...vida". O pagamento é de morte.
A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.

Complexo de vira-latas Nelson Rodrigues

Último texto
Complexo de vira-latas
Nelson Rodrigues


Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: “O Brasil não vai nem se classificar!”. E, aqui, eu pergunto:

— Não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?

Eis a verdade, amigos: — desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que nos ficou dos 2 x 1. E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo passou em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros, Obdulio arrancou, de nós, o título. Eu disse “arrancou” como poderia dizer: “extraiu” de nós o título como se fosse um dente.

E hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvida: — é ainda a frustração de 50 que funciona. Gostaríamos talvez de acreditar na seleção. Mas o que nos trava é o seguinte: — o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma coisa: — se o Brasil vence na Suécia, se volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e 60 milhões de brasileiros iam acabar no hospício.

Mas vejamos: — o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades concretas? Eu poderia responder, simplesmente, “não”. Mas eis a verdade:

— eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: — sou de um patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo. Tenho visto joga dores de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros, que apanharam, aqui, do aspirante-enxertado do Flamengo. Pois bem: — não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se num Puskas. Eu contra-argumento com um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho.

A pura, a santa verdade é a seguinte: — qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma:

— temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “com plexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor: — “O que vem a ser isso?” Eu explico.

Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Por que, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo. Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: — e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: — porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos.

Eu vos digo: — o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo.

O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota.
Insisto: — para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

POEMAS DE PAULO LEMINSKI

Poemas de Paulo Leminski


Dê uma olhada nos poemas de um dos maiores poetas da literatura brasileira.

Bem no fundo

Paulo Leminski


No fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto a partir desta data, aquela mágoa sem remédio é considerada nula e sobre ela -- silêncio perpétuo extinto por lei todo o remorso, maldito seja quem olhar pra trás, lá pra trás nã há nada, e nada mais mas problemas não se resolvem, problemas têm família grande, e aos domingos saem todos passear o problema, sua senhora e outros pequenos probleminhas.
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Um dia vai ser

Paulo Leminski
Pelos caminhos que ando um dia vai ser só não sei quando.
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Pergunte ao sapo

Paulo Leminski
Noite alta lua baixa pergunte ao sapo o que ele coaxa.
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Se

Paulo Leminski
Se nem for terra se trans for mar.
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Na minha a tua ferida

Paulo Leminski
Essa é a vida que eu quero, querida encostar na minha a tua ferida.
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Não fosse isso

Paulo Leminski
Não fosse isso e era menos não fosse tanto e era quase.
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Coração PRA CIMA

Paulo Leminski
Coração PRA CIMA escrito embaixo FRÁGIL.
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Quem for louco que volte

Paulo Leminski
Vida e morte amor e dúvida dor e sorte quem for louco que volte.
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Um bom poema leva anos

Paulo Leminski
Um bom poema leva anos cinco jogando bola, mais cinco estudando sânscrito, seis carregando pedra, nove namorando a vizinha, sete levando porrada, quatro andando sozinho, três mudando de cidade, dez trocando de assunto, uma eternidade, eu e você, caminhando junto.
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Três Metades

Paulo Leminski
Meio dia, um dia e meio, meio dia, meio noite, metade deste poema não sai na fotografia, metade, metade foi-se. Mas eis que a terça metade, aquela que é menos dose de matemática verdade do que soco, tiro, ou coice, vai e vem como coisa de ou, de nem, ou de quase. Como se a gente tivesse metades que não combinam, três partes, destempestades, três vezes ou vezes três, como se quase, existindo, só nos faltasse o talvez.
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Casa com cachorro brabo

Paulo Leminski
Casa com cachorro brabo meu anjo da guarda abana o rabo.
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É tudo o que sinto

Paulo Leminski
Inverno É tudo o que sinto Viver É sucinto.
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Rio do mistério

Paulo Leminski
  Rio do mistério que seria de mim se me levassem a sério?
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Matéria é mentira

Paulo Leminski
  Essa idéia ninguém me tira matéria é mentira.
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Esta vida é uma viagem

Paulo Leminski
Esta vida é uma viagem pena eu estar só de passagem.
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Amei em cheio

Paulo Leminski
Amei em cheio meio amei-o meio não amei-o.
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Saudosa Amnésia

Paulo Leminski
Memória é coisa recente. Até ontem, quem lembrava? A coisa veio antes, ou, antes, foi a palavra? Ao perder a lembrança. grande coisa não se perde. Nuvens, são sempre brancas. O mar? Continua verde.
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Perto do osso a carne é mais gostosa

Paulo Leminski
Sossegue coração ainda não é agora a confusão prossegue sonhos a fora calma calma logo mais a gente goza perto do osso a carne é mais gostosa.
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Nem fale em amor / que amor é isto

Paulo Leminski
Você está tão longe que às vezes penso que nem existo. Nem fale em amor que amor é isto.
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Amor Bastante

Paulo Leminski
Quando eu vi você tive uma idéia brilhante foi como se eu olhasse de dentro de um diamante e meu olho ganhasse mil faces num só instante basta um instante e você tem amor bastante.
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Amar é um elo

Paulo Leminski
Amar é um elo entre o azul e o amarelo.
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Por um lindésimo de segundo

Paulo Leminski
Tudo em mim anda a mil tudo assim tudo por um fio tudo feito tudo estivesse no cio tudo pisando macio tudo psiu tudo em minha volta anda às tontas como se as coisas fossem todas afinal de contas.

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O Hóspede Despercebido

Paulo Leminski


Deixei alguém nesta sala que muito se distinguia de alguém que ninguém se chamava, quando eu desaparecia. Comigo se assemelhava, mas só na superfície. Bem lá no fundo, eu, palavra, não passava de um pastiche. Uns restos, uns traços, um dia, meus tios, minhas mães e meus pais me chamarem de volta pra dentro, eu ainda não volte jamais. Mas ali, logo ali, nesse espaço, lá se vai, exemplo de mim, algo, alguém, mil pedaços, meio início, meio a meio, sem fim.
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Marginal é quem escreve à margem

Paulo Leminski
Marginal é quem escreve à margem, deixando branca a página para que a paisagem passe e deixe tudo claro à sua passagem. Marginal, escrever na entrelinha, sem nunca saber direito quem veio primeiro, o ovo ou a galinha.