domingo, 23 de novembro de 2014

"A ameaça do Estado Islâmico", por Merval Pereira O Globo


Os conceitos universais comuns às civilizações, como os direitos humanos, ou a democracia, são colocados em causa quando ações como as do Estado Islâmico não respeitam as diferenças, fazendo esvair-se a contemporaneidade do Estado-Nação diante da emergência dos califados. 


A Conferência de Omã também debaterá as mudanças conceituais da democracia, questionada pela falta de representatividade de sua representação política e a necessidade de ampliar-se a participação popular com plebiscitos e referendos.

O professor espanhol Daniel Innenarity abordará os riscos que a democracia pode trazer para si mesma com a baixa política. Dois especialistas farão palestras sobre as experiências locais com temas universais como direitos humanos e democracia. Radwan Al Sayyed, do Líbano, falará sobre os direitos humanos no pensamento contemporâneo islâmico. E Abdulrahman Al-Salimi, de Omã, abordará a experiência de seu país com a coexistência e o pluralismo e as perspectivas para sair do impasse. Marco Luchesi, da Academia Brasileira de Letras, falará sobre novas possibilidades de diálogo entre o Ocidente e o Oriente.

Os avanços conseguidos nas relações internacionais com a chegada dos Brics superando a premissa de globalização, ou a superação da relação de centro e periferia, estão confrontados pela existência do Estado Islâmico, e a Conferência de Omã pretende discutir como avançar nas relações internacionais na visão crítica da crença, muitas vezes ingênua, de que se possa chegar à convivência pela intrínseca virtude ou boa vontade do diálogo. 

Depois de quase 15 anos de atividade, a Academia da Latinidade chega à Conferência de Omã constatando que é preciso ir além da mera tolerância com o outro, pois o pluralismo não é mais apenas uma regra da coexistência, mas uma prática indispensável. 

O Estado Islâmico, no entanto, está aí para mostrar até que ponto o respeito pelo outro é afetado nos dias atuais. As dificuldades do momento por que passa o mundo podem ser compreendidas pelo título do trabalho de Candido Mendes: “A caminho da impossível coexistência internacional”.

Começa hoje em Omã, no Oriente Médio, mais uma conferência da Academia da Latinidade, que reúne intelectuais de diversas partes do mundo para discutir a melhoria da relação entre o Ocidente e o Oriente, desta vez sob a ameaça do que o sociólogo brasileiro Candido Mendes de Almeida, secretário-geral da organização, classifica de “repto-limite à própria noção da coexistência internacional”, o Estado Islâmico. A Academia da Latinidade vem se dedicando à aproximação entre as civilizações e vê com grande preocupação o desaparecimento “do reconhecimento do outro, que identifica a própria noção de progresso e do avanço da vida social contemporânea”.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Imagens em Movimento: Um ser encantado chamado Manoel de Barros - SYLVIO DO AMARAL ROCHA


unnamed (1)Nesta quinta-feira, 13 de novembro, Manoel de Barros virou árvore. Em 2006, aos 90 anos, quando ainda era gente, respondeu às provocações da jornalista Mariana Filgueiras, que transformou em perguntas os versos do poeta e realizou uma das mais belas entrevistas já publicadas no Jornal do Brasil. Seria muito bom se toda entrevista pudesse ser assim. Seria maravilhoso se todos os seres pudessem ser Manoel de Barros.
“Em poesia a Razão é acessório”, começa uma das respostas de Manoel. “Quem manda em poesia é a visão. Nem o ver é fundamental. O ver também é acessório. Quem manda é a visão. A visão vem completada de loucuras, fantasias e bobagens profundas”. Visão teve também o diretor Pedro Cezar, quando libertou o poeta em imagens. O longa Só dez por cento é mentira, de 2008, é um daqueles filmes que não deveriam acabar nunca. É  acessório ver o filme. Fundamental é entender que os sentimentos cabem todos na ponta de um lápis.
O gigante Manoel fará falta. Mas bastará abrir um de seus livros para entrar em contato com o que existe de mais importante na vida. As loucuras, fantasias e bobagens profundas que transbordavam dele tornam a vida mais encantada. Difícil? “Difícil é fotografar o silêncio”, como diz o título do poema – fundamental ─ declamado pela voz de Antonio Abujamra no vídeo abaixo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

MUDA - POEMA DE CIÇO POETA DE CAETÉS

Muda




Mesmo sendo o mesmo
Eu nunca fui igual a mim
Sempre fui mudando
Do começo até o fim
E mudando essas mudanças
Mudo o mundo e mudo a mim
Mesmo o mundo sendo o mesmo
Mudando desde o começo
Muda tudo e mesmo assim
Não muda o fato da vida
Ter começo, meio e fim.

Sobre a PETROBRAS, Paulo Francis estava certíssimo. Morreu sem saber o tamanho do buraco. E processado pelos bandidos que agora têm de mostrar a cara. - DO BLOG DE HADRIEL FERREIRA

Sobre a PETROBRAS, Paulo Francis estava certíssimo. Morreu sem saber o tamanho do buraco. E processado pelos bandidos que agora têm de mostrar a cara.

Caro Francis, você tinha que estar aqui pra ver isso.
No final de sua vida, o jornalista Paulo Francis foi atormentado por um processo judicial.

Francis havia dito no programa “Manhattan Connection” que “os diretores da Petrobras todos têm conta na Suíça.”

O então presidente da Petrobras, Joel Rennó, resolveu mover-lhe um processo nos EUA, usando, claro,advogados pagos pela empresa. E como tudo na Petrobras sempre tendeu ao superfaturamento, a estatal pediu logo 100 milhões de dólares de indenização, um dinheiro que Francis nunca teve nem jamais teria.

Atordoado pelo ‘assédio jurídico’, Francis perdeu o sono e, coincidência ou não, acabou tendo um ataque cardíaco que o matou em fevereiro de 1997.

Há vasta literatura contra e a favor da tese de que o processo foi o fator determinante para sua morte, mas pelo menos uma coisa já pode ser pacificada: as descobertas da operação Lava Jato e os mandados de prisão executados nesta sexta-feira mostram que Francis pôs o dedo na ferida certa.

De lá pra cá, a corrupção na Petrobras passou de endêmica a epidêmica, mas a empresa continua vivendo das boas graças do contribuinte brasileiro — não se esqueça, é o “orgulho nacional” — enquanto é usada para servir a interesses políticos e particulares.

Paulo Francis não está vivo para ver as entranhas da Petrobras expostas à sociedade, mas a sociedade já deveria estar madura o suficiente para discutir se as empresas estatais deveriam ser as vacas sagradas que ainda são — enquanto o contribuinte é a vaquinha de presépio da maior estatal de todas, a Roubobrás.

Com agradecimentos à GNT, a coluna dá a palavra a Paulo Francis, in memoriam.

Texto: Geraldo Samor. Mudei o título.

Ser “progressista” e odiar a classe média ganhando mais de R$ 20 mil é fácil… VEJAM O CASO DA USP E DE MARILENA CHAUÍ - POR RODRIGO CONSTANTINO


Ser “progressista” e odiar a classe média ganhando mais de R$ 20 mil é fácil…

Caro leitor, sei que já deve ter visto esse vídeo, mas nunca é demais revê-lo:
Temos aí uma das filósofas mais importantes do petismo, uma “intelectual” que ajudou a “vender” a imagem de Lula como um salvador da Pátria, como um ex-operário que iria finalmente fazer “justiça social” no Brasil. Quando Lula fala, o mundo se ilumina para Marilena Chaui.
Ela diz que odeia a classe média, que ela é o que há de mais reacionário, fascista, conservador (como se fossem sinônimos). Enquanto diz isso, Lula sorri ao lado, acha graça. A classe média, afinal, não tem tempo para ser “revolucionária” e “progressista”, para defender utopias socialistas, pois está ralando para pagar as contas do fim do mês e ainda os impostos que bancam as farras dos políticos e seus companheiros.
Agora vejam isso:
Marinela Chaui

Esses são os rendimentos mensais de Marilena Chaui na USP, obtidos pelo ranking de saláriosda universidade divulgado pela Folha. Quantos brasileiros ganham mais de R$ 20 mil por mês? Quantos da classe média poderiam ter esse luxo para dar aulas de filosofia e repetir para os alunos que a classe média é fascista?
A USP está quebrada. Deve ter um rombo de quase R$ 1 bilhão em 2015, sendo que R$ 845 milhões serão apenas com a folha de pagamento. A universidade vem perdendo lugar no ranking internacional, e não se encontra mais entre as 200 melhores do mundo. Mas os salários dos professores…
Agora entendem os motivos pelos quais esses “intelectuais” defendem tanto o modelo estatizante e esquerdista? Em que outro regime poderiam ganhar mais de R$ 20 mil mensais para criticar o capitalismo, a ganância, o lucro e a classe média?
No capitalismo de livre mercado, o mérito e as escolhas voluntárias são fundamentais. Marilena Chaui odeia isso. Ela quer elogiar a revolução marxista e encher a cabeça dos jovens com baboseira socialista, enquanto vai para casa com mais de R$ 20 mil por mês. Quem paga a conta? A classe média “fascista” e “reacionária”, claro!
Rodrigo Constantino

domingo, 16 de novembro de 2014

Barbie, o sonho de consumo bolivariano - MAC MARGOLIS


O ESTADÃO - 16/11


Não é fácil tocar a revolução socialista no século 21. Que o diga Nicolás Maduro, o presidente venezuelano que há 20 meses enfrenta consumidores em pé de guerra, manifestações de rua e uma batalha desigual contra o capitalismo internacional.

Na semana passada, o venezuelano fez o que faria qualquer general sitiado: rendeu-se ao inimigo. No caso, uma loura longilínea, de olhos azuis e 28 centímetros de altura. Sim, a boneca Barbie, o brinquedo consagrado da cultura americana, é a arma mais nova na luta para conquistar corações e mentes na revolução bolivariana.

Com o chavismo de crista baixa e o governo Maduro desaprovado por sete em cada dez venezuelanos, o Palácio de Miraflores resolveu apelar. Mandou importar contêineres da boneca americana e repassou-as ao comércio a preços de mãe para filha. Assim, a boneca padrão Barbie, que em outubro valia US$ 200, hoje é comercializada por US$ 2,50.

O brinquedo é a peça de resistência da operação Feliz Natal, um saco oficial de bondades, recheado de surpresas importadas, subsidiadas pelo milagre dos petrodólares. Ou melhor: numa economia esvaziada pela falta de dólares e pelo desastrado congelamento de preços, pode haver escassez de fralda, leite, remédio contra hipertensão e dos ingredientes da ceia natalina, mas não da charmosa boneca americana, com quem até a mais humilde menina venezuelana agora pode sonhar.

Distribuir bombons aos bestializados é a demagogia clássica dos líderes populistas. No ano passado, o governo Maduro até antecipou o Natal para que os trabalhadores recebessem adiantado o décimo terceiro salário.

Rendição. No entanto, convocar a Barbie foi uma ousadia. O comandante Hugo Chávez ergueu seu socialismo do século 21 num palanque anticapitalista. Um de seus alvos constantes era o consumismo fetichista, um sintoma, insistia ele, da inexorável decadência americana.

Chávez reservou veneno especial para desclassificar a obsessão venezuelana pela beleza, fixação que turbinava a indústria da cirurgia cosmética e levava meninas de apenas 15 anos a fazer dos seios "airbags". Tudo para que encarnassem a boneca Barbie e os demais "personagens do consumismo imposto pelo Ocidente".

Mordido pela teimosia da loirinha da Mattel, em 2007, Chávez dedicou boa parte de seu programa dominical de rádio Alô Presidente a denunciar a barbárie da Barbie, exortando os compatriotas a criar uma versão indígena da boneca.

E agora, comandante? O dom de Chávez sempre foi seu talento de vender os sacrifícios impostos pela economia disfuncional como um amanhã de fartura. Ao seu herdeiro, deixou o legado de todos os problemas da desgovernada revolução, mas nada de seu brilho retórico para encantar a turba e nenhuma malandragem maquiavélica para conter as ambições da predatória "boligarquia".

Madurou ficou mesmo com uma pauta de exotismos, como cobrar de passageiros internacionais um imposto sobre o "ar fresco" e instalar sensores biométricas nos supermercados para racionar a venda da escassa comida. Agora é a sua vez de engolir o orgulho bolivariano para resgatar o Natal venezuelano com um presente de pinta e pose do império gringo.

A preços absurdamente subsidiados, pode ser que dure pouco a alegria da Barbie para todos. No entanto, em algum lugar, há uma empreendedora menina venezuelana, de calculadora na mão e um olho no mercado negro.

A Petrobras é deles - POR LUIZ CARLOS AZEDO


CORREIO BRAZILIENSE - 16/11

A Petrobras está no centro das investigações da Operação Lava-Jato, desencadeada em março para desmontar um suposto esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões, segundo a Polícia Federal. Na sexta-feira foi deflagrada a sétima fase da Operação, cumprindo mandados de prisão e busca e apreensão no Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e no Distrito Federal. Os contratos das empresas suspeitas de fraude com a Petrobras somam R$ 59 bilhões.

O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo processo da Lava-Jato na primeira instância da Justiça, autorizou as prisões porque o esquema de corrupção na empresa pode ter provocado danos bilionários à estatal e aos cofres públicos. Foi criterioso ao decretar apenas seis prisões preventivas, optando pela prisão temporária ou a condução coercitiva dos demais envolvidos. Tem evidências de que estaria havendo uma tentativa de obstrução da Justiça. Tanto que dois dos suspeitos estão foragidos.

Segundo o juiz, um cartel foi formado pelas maiores empreiteiras brasileiras, que combinavam quem ganharia as licitações para obras da Petrobras. Nessas concorrências, diz ele, as empresas cobravam preço máximo e depois distribuíam propina em valores correspondentes a 2% ou 3% do contrato. Ao optar pela delação premiada, o executivo da empresa Toyo Setal Augusto Mendonça Neto contou como esquema funcionava. Foi por isso que a casa caiu.

Até ontem, 21 prisões executivos já estavam presos. Os que não tiveram a prisão preventiva decretada serão ouvidos pelo juiz e liberados - a não ser que tentem ocultar ou destruir provas. A lista de supostos envolvidos no esquema é graúda, mas os novos homens-bomba são Renato de Souza Duque (ex-diretor da Petrobras), que já está preso, e o lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Baiano, hoje é um dos homens mais procurados pela Interpol. É possível que esteja fora do país.

Duque é apontado como principal operador do PT na empresa. Assim como Paulo Roberto da Costa, um dos responsáveis pela delação do esquema, era representante do PP. Fernando Baiano seria o responsável pela ligação do esquema aos políticos do PMDB, assim como o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é o suposto destinatário da propina desviada para o seu partido. Sérgio Moro, porém, não mexeu com Vaccari, porque não teria provas suficientes para decretar a prisão do tesoureiro do PT.

Efeito Katia

Os que estão sendo presos ou detidos serão julgados em primeira instância. O juiz federal Sérgio Moro, que comanda esse processo, deve sentenciá-los antes do fim do ano. A nova fase da operação pode virar um estouro de boiada, porque alguns executivos presos já estão sendo orientados pelos advogados a também fazer acordo de "delação premiada" para reduzir as penas ou mesmo escapar de uma condenação. É o chamado "efeito Katia Rabelo", a herdeira do Banco Rural, que no processo do mensalão teve sua pena fixada em 16 anos e oito meses de prisão, mais multa de R$ 1,5 milhão, por formação de quadrilha, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Continua em cana, enquanto a maioria dos políticos condenados já cumpre pena em regime domiciliar.

A Justiça Federal, o Ministério Público e a Polícia Federal avançam nas investigações, mas a CPMI que investiga a Petrobras no Congresso é palco de toda sorte de manobras da base do governo, por meio das bancadas do PT, PMDB e PP, para barrar a investigação sobre o envolvimento dos políticos no escândalo. A presidente Dilma Rousseff diz que é a favor das investigações, mas operadores do Palácio do Planalto apoiam as manobras para retardar ou mesmo barrar o strike anunciado no Congresso, pois se fala em cerca de 80 políticos envolvidos.

Diante da extensão do esquema de corrução, que pode ter estabelecido um padrão outras empresas para estatais e até fundos de pensão, a pergunta que se faz é a seguinte: os atuais diretores da Petrobras não sabiam de nada? Se não sabiam, deveriam ser demitidos da mesma maneira por incompetência e omissão. A Petrobras foi privatizada com mão de gato e também está sob investigação nos Estados Unidos e na Europa. Deixou de ser nossa.

A reforma política da PF - IGOR GIELOW


FOLHA DE SP - 16/11


BRASÍLIA - A Operação Lava Jato, agora na apropriadamente apelidada etapa do Juízo Final, pode fazer aquilo que todo governo em crise promete: uma reforma política.

Ao atacar de frente os corruptores, a Polícia Federal tem a oportunidade de expor o elo que costuma escapar nos escândalos do gênero.

A confirmar as suspeitas, ao fim poderá estar claro que empresas fornecedoras da Petrobras roubaram da estatal por meio de propinas e superfaturamentos, e usaram parte deste mesmo recurso para molhar a mão de políticos e operadores que permitiram a instalação do esquema.

É quase um círculo perfeito, no que tange o financiamento dos políticos. Em campanhas, dinheiro desviado pode ser reinvestido legalmente em quem abriu a porta do cofre.

Depois do mensalão e das duras condenações aplicadas particularmente aos atores não-políticos do esquema, o pagamento aos políticos precisava de novos e menos arriscados mecanismos.

A reforma política proposta pelo governo não resolve os problemas e ainda cria outros. Mas involuntariamente a PF fará avançar essa agenda, se conseguir ir até o fim. Resta saber o que sairá disso, visto que agentes que irão debater as novas regras poderão fazê-lo do banco dos réus.

O escândalo da Petrobras ameaça a todos, mas só um partido corre risco existencial com ele: o PT.

Em seus governos, o partido colocou a estatal no topo da agenda; fez controle inflacionário ao represar reajustes de combustível, enquanto Lula embebia as mãos com petróleo, à Getúlio. Para cada descoberta no pré-sal, contudo, parece ter havido uma contrapartida obscura.

PMDB, PP e outros estão citados, mas o PT tinha o leme. Depois de sobreviver ao mensalão e sofrer derrotas apesar de reeleger Dilma, o que sobrará do partido se o que se insinua na Lava Jato for comprovado?

Crime de responsabilidade - EDITORIAL O ESTADÃO


O ESTADO DE S.PAULO - 16/11

Quando começou a vir à luz o conteúdo das investigações da Operação Lava Jato, lançada pela Polícia Federal (PF) em março deste ano para apurar a corrupção dentro da Petrobrás, houve quem previsse que a dimensão dessa encrenca poderia comprometer a realização das eleições presidenciais. Esse vaticínio catastrófico era obviamente exagerado. Mas os acontecimentos dos últimos dias revelam que esse escândalo sem precedentes não apenas compromete indelevelmente a imagem da maior empresa brasileira e da cúpula do partido que controla o governo federal há 12 anos - inclusive o ex-presidente Lula e a presidente reeleita Dilma Rousseff, como mostramos em editorial de sexta-feira -, mas pode ser só a ponta de um gigantesco iceberg.

Para ficar apenas nos acontecimentos mais importantes dessa semana: a empresa holandesa SBM Offshore, fornecedora da Petrobrás, fez um acordo com o Ministério Público de seu país pelo qual pagará US$ 240 milhões em multas e ressarcimentos para evitar processo judicial por ter feito "pagamentos indevidos" para obter contratos no Brasil e em outros dois países. No Brasil, a CGU iniciou investigações sobre as suspeitas de que cerca de 20 funcionários da Petrobrás teriam aceitado suborno da empresa holandesa.

Na quinta-feira, a auditoria PricewaterhouseCoopers anunciou que não vai assinar o balanço contábil do terceiro trimestre da Petrobrás - cuja divulgação foi por essa razão adiada - enquanto não conhecer as conclusões das investigações internas da empresa sobre o escândalo, por temer o impacto do desvio de recursos sobre os ativos da petroleira. Trata-se de uma precaução raramente adotada por firmas de auditoria - o que demonstra a gravidade da situação da Petrobrás.

Na sexta-feira, a Operação Lava Jato iniciou nova fase, colocando 300 policiais em ação em cinco Estados - São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas Gerais - mais o Distrito Federal, para cumprir 85 mandados de prisão ou de busca contra executivos de empreiteiras e outros investigados por crimes de organização criminosa, formação de cartel, corrupção, fraude à Lei de Licitações e lavagem de dinheiro. Para começar, prenderam no Rio de Janeiro o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque, indicado para o cargo por José Dirceu.

Enquanto isso, chega a cerca de uma dezena o número de investigados da Lava Jato que reivindicam o benefício da delação premiada, numa demonstração de que quem tem o rabo preso no escândalo já percebeu que a casa caiu e a melhor opção é entregar os anéis para salvar os dedos, como já fizeram o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.

Diante das surpreendentes proporções do esquema de corrupção armado dentro da maior estatal brasileira com o objetivo de carrear recursos para o PT e seus aliados, não surpreende que os dois presidentes da República no poder durante o período em que toda essa lambança foi praticada soubessem perfeitamente o que estava ocorrendo. Em 2010 - Lula presidente e Dilma chefe da Casa Civil -, o Palácio do Planalto, por meio de veto aos dispositivos da lei orçamentária que bloqueavam os recursos, liberou mais de R$ 13 bilhões para o pagamento de quatro contratos de obras da Petrobrás, inclusive R$ 6,1 bilhões para a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O TCU havia chegado à conclusão de que esses custos estavam superfaturados, mas Lula e Dilma entenderam que era preferível tocar as obras. Só essa decisão comprova a responsabilidade desses políticos por um escândalo que deixa o Caso Collor no chinelo.

De fato, está registrada no Diário Oficial da União a prova documental da conivência de dois presidentes da República com a corrupção na Petrobrás. É um escândalo de dimensões mastodônticas que envolve todas as diretorias operacionais da estatal, dezenas de executivos de empreiteiras e outro tanto de políticos de praticamente todos os partidos mais importantes da base governista no desvio de recursos estimados em pelo menos uma dezena de bilhões de reais.

Somente alguém extremamente ingênuo, coisa que Lula definitivamente não é, poderia ignorar de boa-fé o que se passava sob suas barbas. Já Dilma Rousseff de tudo participou, como ministra de Minas e Energia e da Casa Civil e, depois, como presidente da República.

Devem, todos os envolvidos no escândalo, pagar pelo que fizeram - ou não fizeram.

Corrupção profunda - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 16/11


Investigadores fazem sua parte no caso da Petrobras, mas governo, estatal e Congresso mantêm inércia próxima da conivência

As atitudes da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e dos magistrados que supervisionam as investigações sobre desvios bilionários na Petrobras sugerem que o país está à beira de conhecer o cerne da corrupção política.

É o que se depreende da ação feita para prender 25 pessoas, entre as quais presidentes das maiores empresas do Brasil, e levar outras nove a prestar depoimentos de forma compulsória em delegacias.

Depreende-se, pois as provas conhecidas são ainda escassas, não há acusação formal nem processo instaurado, que dirá condenações.

Mesmo assim, dadas as evidências publicadas e algumas confissões substanciosas, há esperança de que se aproxime um momento decisivo de desmonte de um sistema central de pilhagem envolvendo partidos e governo, além de grandes empresas que defraudam estatais por meio de conluios.

Causa desalento, por outro lado, a atitude do governo, da própria Petrobras, do Congresso e da chamada base aliada. Passaram-se oito meses desde que começou a Operação Lava Jato. A presidente Dilma Rousseff (PT) limitou-se a ressaltar que não foi empecilho às investigações. Nem poderia sê-lo, pois cometeria crime.

Duas CPIs de quase nada serviram, enquanto a direção da Petrobras só no mês passado contratou escritórios de advocacia a fim de auxiliar as apurações.

No mais, pouco se sabe do que a direção da estatal fez para elucidar crimes cometidos sob seu teto, ou como foi possível que tais fraudes passassem despercebidas por tantos anos. A cúpula da maior empresa do Brasil é inepta ou cúmplice.

Como se não bastasse, um dia antes da deflagração da sétima fase da Lava Jato, a estatal foi submetida à humilhação de ver recusadas as suas demonstrações financeiras, pois o auditor desconfia que tais documentos possam estar criminosamente errados.

Pelo que já se sabe, figuras de proa dos partidos governistas não se pejaram de saquear a Petrobras mesmo quando seus próceres eram condenados no processo do mensalão. Ao que tudo indica, comportaram-se como bandidos de rua, que mudam seus pontos de tráfico quando são acossados pela polícia em sua base de operações.

Os dirigentes partidários em tese inocentes jamais se deram ao trabalho de expurgar os chefes do tráfico de influência e dinheiro destinado a bancar ilegalmente campanhas e adquirir apoio político. No mínimo, permitiram que suas siglas permanecessem casas de tolerância da corrupção.

Governo, Petrobras, Congresso e líderes políticos ainda demonstram uma inércia próxima da conivência. Isso precisa acabar.

sábado, 15 de novembro de 2014

Uma política em decomposição - ROLF KUNTZ O ESTADO DE S.PAULO - 15/11




Flores, muitas flores bonitas e perfumadas por toda parte, para disfarçar e tornar o ambiente mais tolerável? Nesta altura, seria inútil. A sexta-feira começou com novas prisões da Operação Lava Jato, a investigação policial sobre as bandalheiras na Petrobrás. Bem cedo a imprensa havia noticiado: a maior estatal e maior empresa brasileira, com ações no País e no exterior, precisou adiar a publicação do balanço. Falta o aval da firma de auditoria, a PricewaterhouseCoopers (PwC). Os auditores poderão encrencar-se nos Estados Unidos se assinarem as demonstrações de um cliente envolvido em histórias de corrupção. Para eles, o mais seguro é esperar. Mas o caso da Petrobrás é só um dos problemas de um governo em péssimo estado de conservação. Enquanto prosseguia a Operação Lava Jato, o Executivo tentava conseguir do Congresso uma alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), para acomodar qualquer mau resultado das contas públicas. Essas contas, hoje, estão em condições piores que as de muitos países fortemente afetados pela crise iniciada em 2008.

Quando os diretores da Petrobrás decidiram adiar a divulgação das contas do terceiro trimestre, a presidente Dilma Rousseff já estava chegando a Brisbane, na Austrália, para uma reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20).

Haviam ficado em Brasília, para falar em nome do governo e negociar a mudança da LDO, o vice-presidente, Michel Temer, e o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. No começo da semana a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, já havia ido ao Congresso para defender a alteração da regra orçamentária - essencialmente, a extinção do limite para descontos da meta de superávit primário. Com isso, qualquer número vexatório será considerado aceitável.

A ministra realizou com zelo sua tarefa e chegou a descrever a situação fiscal brasileira como "bastante confortável". Pão ou pães, é questão de opiniães, segundo a filosofia do Grande Sertão. Ainda assim, parece estranho falar de situação confortável quando se trata do rombo fiscal brasileiro, maior que o de muitos países desenvolvidos.

O déficit do governo central, incluído o gasto com juros, alcançou de janeiro a setembro 4,97% do produto interno bruto (PIB). Em 12 meses chegou a 3,75%. Se continuar por aí no fim do ano, será muito pior que a média estimada para a zona do euro, 2,9%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O déficit nominal de todo o setor público atingiu 5,94% do produto em nove meses e 4,92% em 12. A média projetada para os países avançados do G-20 é de 4,5%. Ninguém deve ter falado sobre esses números à presidente Dilma Rousseff nem à ministra Miriam Belchior ou a outros auxiliares da Presidência.

O desastre das contas públicas é um dos efeitos mais vistosos da política em vigor desde o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa política foi ampliada nos primeiros quatro anos de sua sucessora, com o prolongamento da relação promíscua entre o Tesouro e os bancos federais, a multiplicação dos benefícios seletivos, o avanço do protecionismo, a tolerância à inflação, o intervencionismo crescente e a maquiagem ostensiva do balanço fiscal. A crise industrial e a destruição de postos de trabalho formal em outubro são algumas das consequências mais importantes.

No mês passado os empregadores fecharam 30.283 postos de trabalho com carteira assinada, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Foi o primeiro resultado negativo em um mês de outubro desde o começo da série, em 1999. Mas os dados mais feios são os acumulados no ano.

De janeiro a outubro foram criados 912.287 empregos formais em todo o País, segundo o cadastro, mas 582.425, ou 63,84% do total, foram abertos em serviços, em segmentos de baixa produtividade e salários correspondentes a esse padrão. A criação de empregos é um dos feitos alardeados pela presidente Dilma Rousseff e sua trupe, mas as vagas oferecidas são compatíveis com a estagnação da indústria, com o baixo investimento e com a perda de vigor produtivo da economia. Que outro tipo de ocupação poderia aumentar quando a política é incapaz de estimular o investimento, a produtividade e a produção?

O governo conduziu a política econômica nos últimos seis anos como se houvesse no Brasil muita mão de obra desocupada e muita capacidade ociosa na indústria. Uma estratégia desse tipo foi justificável no começo da crise internacional, mas logo deixou de ter sentido. O passo seguinte deveria ter sido a busca de uma nova etapa de desenvolvimento. Mas o "modelo" adotado pela presidente Dilma Rousseff e, portanto, pelo ministro da Fazenda simplesmente deixou em plano inferior metas de produtividade e modernização.

Foi o aspecto mais inovador do tal modelo: adotou-se pela primeira vez na História uma teoria do desenvolvimento sem referência à produtividade. Os efeitos dessa inovação teórica são visíveis na estagnação da indústria, na queda do investimento e na sucessão de pibinhos, com média anual de crescimento provavelmente inferior a 2% entre 2011 e 2014.

Com as contas públicas em pandarecos, o investimento muito abaixo do necessário, a inflação na vizinhança de 6% e contas externas em deterioração (déficit de US$ 2,62 bilhões de janeiro até a primeira semana de novembro), a primeira grande tarefa da presidente Dilma Rousseff, antes de começar o segundo mandato, será reconhecer a realidade. Se for, finalmente, capaz desse esforço, ficará assustada.

A maioria dos eleitores concedeu mais quatro anos a um governo em péssimo estado de conservação. Cada novo detalhe do escândalo da Petrobrás torna mais difícil disfarçar esse fato. Escrever sobre a política econômica brasileira assemelha-se cada vez mais a um trabalho de médico legista.

Petrotempestade - RENATO ANDRADE FOLHA DE SP - 15/11



BRASÍLIA - A nova fase da operação Lava Jato antecipou a tempestade política que muitos previam chegar somente no início de 2015.

A prisão de executivos de empresas que respondem por boa parte do financiamento de campanhas eleitorais no país terá consequências inevitáveis sobre a forma como se faz política atualmente no Brasil.

Mas a primeira vítima efetiva da avalanche provocada pela PF será a Petrobras, estatal que está no epicentro da crise que eclodiu em março.

A credibilidade da maior empresa do país está no chão. O envolvimento de ex-diretores da estatal no esquema desbaratado pela PF travou operações corriqueiras, como a publicação do resultado da companhia no último trimestre.

O Palácio do Planalto reconhece que é preciso agir rápido para tentar, de alguma forma, limpar a imagem da empresa e evitar que os futuros desdobramentos das investigações comprometam, ainda mais, a capacidade da estatal de investir e operar.

A reformulação do comando da empresa é dada como certa. A dúvida, até o momento, é a extensão dessa mudança e o tempo de execução.

A saída de Graça Foster da presidência da Petrobras deixou de ser mera especulação. Mesmo sem ligação direta com o escândalo de desvio de recursos, sua permanência na cadeira é politicamente inviável.

Substituir a executiva não é tarefa fácil. O primeiro obstáculo está dentro do próprio Palácio do Planalto. Graça pertence ao restrito grupo de pessoas que a presidente Dilma Rousseff gosta e confia.

A segunda dificuldade é encontrar, fora da empresa, um nome com respaldo no mercado de petróleo que esteja disposto a assumir o comando da estatal no momento mais delicado de seus 61 anos de história.

Dilma tem nas mãos uma decisão difícil de ser tomada. E não poderá adotar o ritmo cadenciado que sempre usou para promover mudanças. Tempo é algo cada vez mais escasso para a gigante do petróleo.

Lava-Jato amplia escândalo na Petrobras - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 15/11

Nunca houve um arrastão policial como este, atingindo empreiteiras. Já a prisão de outro ex-diretor da estatal aproxima ainda mais o lulopetismo do caso



Não há mais dúvida que o escândalo na Petrobras, o Petrolão, deixou para trás o mensalão como o mais grave caso de corrupção dos últimos tempos, com o envolvimento de políticos numa conspiração para desviar dinheiro público, a fim de financiar caixa dois partidário e, como nunca deixa de acontecer, patrocinar, de quebra, patrimônios particulares. Se o desfecho judicial será o mesmo, a ver. Mas os contornos do escândalo impressionam mesmo quem acompanhou de perto a saga dos mensaleiros petistas e comparsas.

Os mais de R$ 100 milhões que passaram pela lavanderia de Marcos Valério, parte drenada do Banco do Brasil, para os mensaleiros são irrisórios diante dos R$ 10 bilhões lavados pelo doleiro Alberto Youssef, parceiro do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. A cifra não é incabível, se considerarmos o volume dos investimentos da Petrobras usados pela quadrilha montada na estatal por lulopetistas e aliados do PMDB e PP, até onde se sabe, com a finalidade de drenar propinas de empreiteiras.

A sétima fase da Operação Lava-Jato, conduzida ontem pela Justiça Federal do Paraná, com apoio da PF, ampliou a investigação do caso de corrupção na Petrobras de forma inédita no Brasil. No processo do mensalão, a banqueira Kátia Rabello (Rural) foi condenada à prisão. Ontem, mandados de prisão preventiva, temporárias e de condução coercitiva para prestar depoimento atingiram representantes de empreiteiras envolvidas no escândalo como fonte pagadora de propinas. Muita gente do primeiro escalão das companhias.

Mendes Júnior, OAS, Queiroz Galvão, Odebrecht — escritórios da empresa foram alvo de busca e apreensão de documentos —, Camargo Correa, nomes frequentes no noticiário econômico, entraram de vez na crônica policial do caso. Nunca houve um arrastão como este junto a “colarinhos brancos”.

Outro destaque foi a prisão do segundo ex-diretor da Petrobras nesta operação, Renato Duque. O primeiro, Paulo Roberto, responsável pela área de Abastecimento, testemunhou que Duque, do setor de Serviços, era outro diretor mancomunado com o esquema.

O envolvimento deste segundo ex-diretor aproxima ainda mais o lulopetismo do escândalo, porque Duque, indicado para o cargo pelo ex-ministro e mensaleiro condenado José Dirceu, destinava parte das propinas, segundo Costa, para o PT.

Youssef, ainda preso, e Paulo Roberto Costa, em prisão domiciliar, fizeram acordo de delação premiada, para contribuir nas investigações em troca de redução de pena. Já há representantes de empreiteiros seguindo o exemplo. As prisões de ontem devem ampliar esta lista, uma garantia de que muito dessa história ainda será conhecido.

Parece que ninguém quer repetir Marcos Valério, operador do mensalão, condenado a 37 anos de prisão, enquanto os mensaleiros políticos começam a ter o regime da pena atenuado. Tanto melhor para a Justiça.

Crise exige a antecipação do novo mandato - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE


CORREIO BRAZILIENSE - 15/11

A dimensão tomada pelo escândalo da Petrobras exige respostas rápidas e radicais do governo. É preciso dar total amparo às investigações em curso e garantir que sigam até o fim. Mas uma intervenção imediata, com a troca de toda a diretoria, sem prejulgamento, simultaneamente à nomeação de técnicos capacitados e acima de qualquer suspeita poderia ser bem-sucedida tentativa de recomeço. Ou se dissipam já as pesadas nuvens que pairam sobre a empresa, ou a própria desconfiança causará danos ainda mais significativos ao patrimônio nacional (e aos acionistas).

Na sétima fase, a Operação Lava-Jato abalou ontem as consciências civilizadas do Brasil e do mundo como se o escândalo nascesse ali, como se o descoberto antes fosse café pequeno. Nesse diapasão, o que esperar do amanhã? Essa expectativa desserve ao país. E apenas interessa a especuladores. A companhia cuja história orgulha os brasileiros e alcançou o respeito da comunidade internacional não pode sucumbir nos subterrâneos da corrupção sem trégua que campeia na máquina pública. O único capítulo final admissível é a transformação do episódio numa oportunidade ímpar para virar a página borrada da vida nacional.

Como convinha, os mandados de prisão, busca e apreensão emitidos ontem não pouparam corruptos nem corruptores. Figurões da estatal e grandes executivos da iniciativa privada viram-se, de repente, sob implacável cerco da Polícia Federal (PF). Centenas de milhões de reais foram bloqueados, e bens, apreendidos. Um delegado comemorou o feito nomeando a data como "dia do juízo final". Um procurador da República avaliou que o Brasil está ficando "mais republicano". De fato. Republicano mesmo o país será quando a impunidade se tornar exceção.

A Operação Lava-Jato investiga esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões. Rastrear cada centavo é imperioso. Identificar e punir todos os culpados, idem. Devolver ao erário os recursos desviados, igualmente. Mas é preciso ir além. Por maior que seja a Petrobras, salvá-la não é o suficiente. Não se toma de assalto uma empresa desse porte, espécie de joia da coroa do império, sem facilidades que não se pode permitir que contaminem o todo. A hora é de expurgar o mal pela raiz.

O Estado brasileiro pede socorro. Basta de desmandos, de incompetência, de corrupção, de desperdício. A presidente reeleita está convocada a resgatar a nação. Como liderança ungida pelas urnas, cabe a ela as providências cabíveis. Dilma Rousseff tem a desvantagem de ver o próprio governo imerso nesse mar de lama e a chance de novo mandato para reagir. Mas o próximo governo não pode esperar: foi antecipado pela crise. Que a mandatária corresponda à confiança a ela conferida pelos eleitores.

O cerco contra a corrupção - EDITORIAL ZERO HORA


ZERO HORA - 15/11

Há elementos de uma ação histórica na operação desencadeada ontem pela Polícia Federal, que resultou na prisão de empresários e executivos acusados de envolvimento no escândalo da Petrobras. Foi cumprida uma das etapas decisivas para a total compreensão dos desmandos, para a identificação dos criminosos e a definição de punições pela Justiça. A PF oferece, assim, uma resposta a quem se interrogava, a cada novo caso, por que os que corrompem poucas vezes aparecem e muito raramente deixam de desfrutar da impunidade.
Os detidos desta vez são suspeitos de atuar como corruptores nos altos escalões de empreiteiras, conforme indícios levantados na delação premiada que vem orientando a polícia e o Ministério Público. O impacto produzido pela operação fortalece as melhores expectativas em torno do desfecho do caso que, por conivência do governo, transformou a maior estatal brasileira no reduto do superfaturamento. As propinas e a distribuição de dinheiro a servidores e políticos denunciaram um Executivo no mínimo omisso diante de delitos graves.
As nove empresas sob investigação prestam serviços em contratos calculados em R$ 59 bilhões. São muitas as evidências de que as empreiteiras desembolsavam altas somas a diretores da Petrobras, para que o dinheiro fosse depois compartilhado. Depoimentos de um doleiro e de um ex-dirigente da estatal desvendaram o esquema em que os sobrepreços de cada contrato somente se viabilizavam com o pagamento de comissões. Com a prisão dos corruptores, as investigações chegam a uma das pontas geralmente imunes a sindicâncias e tentativas de enquadramento na legislação penal.
É ingênua a interpretação, presente em casos semelhantes, de que grandes grupos empresariais se submetiam às ordens de quadrilhas para assim poder dispor de benefícios. Corruptores não são vítimas, são viabilizadores de crimes contra o patrimônio público, mesmo em empresas com capital aberto, como é o caso da Petrobras, cujo controle acionário pertence ao Estado. O que as prisões e as investigações precisam elucidar é a forma de atuação dos grupos que saqueavam a estatal e, a partir disso, chegar também aos beneficiários da partilha.
A identificação dos políticos que teriam desfrutado do esquema é a próxima etapa das investigações. PF e MP estão, como demonstram, cumprindo com suas atribuições. O governo, como gestor da Petrobras, precisa explicar por que demorou a reagir e a participar dos esforços pelos esclarecimentos. A reação do Executivo não pode ficar aquém da dimensão desse que é encarado, pelas somas envolvidas, como o maior episódio de corrupção do país.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Hangout do IL com Guilherme Fiuza

Hangout do IL com Guilherme Fiuza

Estelionato eleitoral e o desmonte dos banco públicos - POR MANSUETO ALMEIDA

Hoje, eu realmente me surpreendi com a postura nada republicana do nosso ministro da fazenda. Se ele tivesse um pouco de respeito ao cargo que ocupa escreveria uma carta para Armínio Fraga pedindo desculpas.
Para a surpresa de todos e espanto geral da nação, o nosso ministro da fazenda declarou hoje em São Paulo que (veja aqui no UOL):
 “……uma redução no papel que os bancos públicos vêm desempenhando na política econômica e afirmou que os cortes de despesas em estudo pelo governo deve envolver a redução de subsídios financeiros….. Mantega citou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como um exemplo de onde poderia ocorrer essa redução”.
Quando falávamos a mesma coisa, Mantega era o primeiro a nos acusar que queríamos fechar bancos públicos e cortar o PSI. O ministro vai fazer exatamente a mesma coisa e pior, pois dada a falta de confiança o custo do ajuste com eles terá que ser mais profundo.
Além de falar que vai diminuir os subsídios, algo que a candidata sempre negou ao longo da campanha eleitoral, o nosso ministro da fazenda falou também esta manhã que:
“Do ponto de vista da política fiscal, temos que caminhar para um aumento gradual do [superavit] primário, em relação ao resultado de 2014″, acrescentou. “Para isso nós temos agora que fazer uma redução das despesas, uma redução importante das despesas.”
Os dados fiscais de outubro já fechados e que serão divulgados apenas no final de novembro são tão ruins, do lado da despesa, quanto os de setembro. A despesa com seguro-desemprego e abono salarial, assistência social e previdência vieram novamente muito alto e o crescimento da despesa foi ainda maior do que no mês passado, quando tivemos um déficit recorde.
Na entrevista publicada hoje, no Valor Econômico, a presidenta já sinaliza a possibilidade de modificar o seguro desemprego, mudar o abono salarial e fazer uma reforma da previdência para endurecer as regras de concessão de pensão por morte. Isso é reduzir gasto social. Isso na linguagem da candidata Dilma é estelionato eleitoral.
Para terminar dois rápidos comentários. Primeiro, pelo andar da carruagem, Armínio Fraga será tido daqui a pouco tempo como um economista de esquerda. Acho que, em algum momento, Luiz Gonzaga Belluzzo pedirá ao Armínio e outros economistas que participaram da campanha do Aécio assinas um manifesto contra as medidas heterodoxas deste governo (posso falar das elites?).
Segundo, a decepção dos movimentos sindicais e dos sindicatos dos bancários com a presidente Dilma não será daqui a um ano, mas sim daqui a algumas semanas. Isso vale também para muito dos economistas que assinaram o manifesto por desenvolvimento com inclusão social. Eu confesso que não esperava “tanta maldade” do ainda ministro Mantega e da presidente Dilma. Não me surpreenderia se Mantega continuasse no governo já que é o exemplo perfeito de “uma metamorfose ambulante”.

NIVALDO CORDEIRO - O DILEMA DE DILMA ROUSSEFF

Está posto o dilema para Dilma Rousseff, que é saber o que fazer com a questão da economia. O ministro Guido Mantega está demissionário e se arrasta no cargo feito um morto-vivo. Quem conhece os meandros do poder sabe que um ministro da Fazenda fraco é meio caminho andado para o desastre, sobretudo numa hora que decisões difíceis precisam ser tomadas. É ele quem tem que dizer “não” aos demais ministros, em nome da presidente.

Por que Guido Mantega ainda não foi substituído? Quem segura o ministro é o próprio Lula, é a sua cota pessoal. Só sairá quando o ex-presidente assim decidir. Será na escolha do nome que ficarão claros os caminhos que Dilma Rousseff escolheu. Um nome igual ou à esquerda do atual ministro significará a ampliação da política supostamente desenvolvimentista, a mesma que desarrumou as contas públicas e desalinhou os preços relativos. Um nome mais conservador significará a sinalização de que a inflação, de fato, será combatida.
O problema é que a crença reinante no PT, mesmo depois de doze anos exercendo o poder, é que a chamada teoria econômica convencional está errada. Mudar essa crença não é tarefa de um dia. Um ministro da Fazenda que entre cortando gastos e aumentando juros é tudo que o PT abomina. Se depender de suas lideranças isso não acontecerá.

Mas o fato é que a inflação está subindo, o câmbio depreciando, os preços estão desalinhados e o ministro está demissionário. A escolha terá que ser feita. Ao escolher o novo ministro os rumos do futuro serão imediatamente clareados. Se, por exemplo, vier o Henrique Meirelles, teremos uma gestão sob a economia convencional. Se vier um Arno Augustin, teremos a persistência do desenvolvimentismo.

É bom que se diga que a chamada economia convencional é a única que fornece ferramental compatível com o combate aos problemas da crise econômica. Ela “sabe” que a lei da escassez existe e que o Estado não cria riquezas, quando muito a distribui, não sem antes dilapidar boa parte do que se arrecada com impostos. As leis econômicas são naturais e não sujeitas ao controle de nenhum governo. Ou se as respeita, ou não. O que Dilma Rousseff fez nos últimos anos foi simplesmente ignorar as leis econômicas.

O desenvolvimentismo pretende ser a teoria alternativa para inspirar governantes. Sua raiz esquerdista é evidente e ela parte da crença de que tudo é vontade política (incluindo a escassez) e que a emissão de moeda para “desenvolver” a economia não é um problema em si. Toda vez que os governantes brasileiros entraram nessa barca furada levaram o país à crise econômica. É precisamente essa a origem dos problemas econômicos atuais, que Dilma Rousseff, enquanto presidente da República, quis pôr o pé no acelerador do desenvolvimento. Envidou todos os esforços para isso.

O que conseguiu? Apenas fazer retornar a inflação, que se aproxima dos dois dígitos, e reduzir o crescimento do produto. De quebra, ressuscitou o fantasma dos déficits na balança comercial, com os quais o país quebrará de novo. Pior, administra o câmbio, queimando as preciosas reservas internacionais, impedindo o ajuste natural via sistema de preços. Essa política está entrando em colapso.

O meu ponto é que não apenas o nome para o Ministério da Fazenda está em jogo, mas toda uma crença política que é defendida ferreamente pelos integrantes do PT, mesmo que alguns deles saibam que a crença é errada e puramente ideológica. O desenvolvimentismo empobrece e desorganiza a economia, aprofundando as injustiças sociais. A ortodoxia econômica é que pode refazer as bases para a retomada do desenvolvimento e da melhoria da distribuição de renda. Simples assim.

A sorte está lançada. Quem viver verá.