sábado, 15 de novembro de 2014

O cerco contra a corrupção - EDITORIAL ZERO HORA


ZERO HORA - 15/11

Há elementos de uma ação histórica na operação desencadeada ontem pela Polícia Federal, que resultou na prisão de empresários e executivos acusados de envolvimento no escândalo da Petrobras. Foi cumprida uma das etapas decisivas para a total compreensão dos desmandos, para a identificação dos criminosos e a definição de punições pela Justiça. A PF oferece, assim, uma resposta a quem se interrogava, a cada novo caso, por que os que corrompem poucas vezes aparecem e muito raramente deixam de desfrutar da impunidade.
Os detidos desta vez são suspeitos de atuar como corruptores nos altos escalões de empreiteiras, conforme indícios levantados na delação premiada que vem orientando a polícia e o Ministério Público. O impacto produzido pela operação fortalece as melhores expectativas em torno do desfecho do caso que, por conivência do governo, transformou a maior estatal brasileira no reduto do superfaturamento. As propinas e a distribuição de dinheiro a servidores e políticos denunciaram um Executivo no mínimo omisso diante de delitos graves.
As nove empresas sob investigação prestam serviços em contratos calculados em R$ 59 bilhões. São muitas as evidências de que as empreiteiras desembolsavam altas somas a diretores da Petrobras, para que o dinheiro fosse depois compartilhado. Depoimentos de um doleiro e de um ex-dirigente da estatal desvendaram o esquema em que os sobrepreços de cada contrato somente se viabilizavam com o pagamento de comissões. Com a prisão dos corruptores, as investigações chegam a uma das pontas geralmente imunes a sindicâncias e tentativas de enquadramento na legislação penal.
É ingênua a interpretação, presente em casos semelhantes, de que grandes grupos empresariais se submetiam às ordens de quadrilhas para assim poder dispor de benefícios. Corruptores não são vítimas, são viabilizadores de crimes contra o patrimônio público, mesmo em empresas com capital aberto, como é o caso da Petrobras, cujo controle acionário pertence ao Estado. O que as prisões e as investigações precisam elucidar é a forma de atuação dos grupos que saqueavam a estatal e, a partir disso, chegar também aos beneficiários da partilha.
A identificação dos políticos que teriam desfrutado do esquema é a próxima etapa das investigações. PF e MP estão, como demonstram, cumprindo com suas atribuições. O governo, como gestor da Petrobras, precisa explicar por que demorou a reagir e a participar dos esforços pelos esclarecimentos. A reação do Executivo não pode ficar aquém da dimensão desse que é encarado, pelas somas envolvidas, como o maior episódio de corrupção do país.

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