sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Rombo fiscal é o pior da história no mês: o socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros - POR RODRIGO CONSTANTINO



Perdulario
O governo central (Tesouro, Banco Central e Previdência Social) registrou déficit primário de 20,399 bilhões de reais em setembro, pior resultado da série histórica, informou o Tesouro Nacional nesta sexta-feira. Este é o quinto resultado mensal negativo consecutivo registrado nas contas do Governo Central em 2014. Apenas em três meses (janeiro, março e abril), as contas do governo ficaram no azul em 2014. O resultado de setembro ficou também abaixo da mediana dos analistas de mercado, que esperavam um valor negativo de 12,9 bilhões de reais.
Os dados confirmam a rápida deterioração das contas públicas em 2014. O resultado reflete, sobretudo, o aumento dos gastos do governo nas eleições, as concessões com desonerações de tributos e baixo crescimento que derrubou a arrecadação. 
O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, informou que o governo encaminhará ao Congresso Nacional uma proposta de alteração da meta de superávit primário para 2014 e da Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO). Segundo ele, o resultado de setembro foi crucial para essa decisão. Ele disse que a nova meta será anunciada até o próximo decreto de programação orçamentária que será divulgado em 22 de novembro. “O resultado de setembro colocou esse necessidade”, disse. Ele disse que não está sendo discutida a alteração da meta de superávit primário em 2015, conforme revelou o Broadcast. O governo quer fazer o ajuste de 2015 por meio de aumento de receitas e queda de despesas.
Agora sabemos o motivo do atraso na divulgação dos dados em época eleitoral… A verdade é que o governo Dilma vem dilapidando os cofres públicos, o último pilar do legado da era FHC, do tripé macroeconômico: a responsabilidade fiscal.
Existem apenas três formas de o governo se financiar: emitir dívidas, arrecadar impostos e apelar para o imposto inflacionário, disfarçado. O governo Dilma já elevou nosso endividamento para patamares extremamente preocupantes, acima de 60% do PIB; aumentou a carga tributária, que já chega a quase 40% do PIB, patamar escandinavo apesar dos serviços africanos; e já deixou a inflação sair de controle e rodar em torno de 7% ao ano, patamar extremamente elevado.
Por trás de tudo isso está um governo perdulário, gastador, e incompetente na gestão da economia, fruto de um ranço ideológico. O desenvolvimentismo nacionalista é um fracasso retumbante, uma vez mais. O governo acredita que basta estimular demanda com crédito e gasto público, que a oferta vem atrás. Ledo engano.
O resultado está aí: todas as contas públicas no vermelho. Alguém acha que o governo vai realmente pisar no freio em seus gastos agora? Duvido! Vai é tentar aumentar arrecadação, ainda mais, e continuar apelando para o imposto inflacionário. É um modelo terrível, como aquele adotado na Argentina. E vale notar que esses dados contam com receitas extraordinárias, que não se repetem. O quadro real é ainda pior:
“O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”, disse Thatcher. O governo do PT vem gastando o que não tem, como se não houvesse amanhã. Há. E sob o próprio governo petista, que terá de arcar com a fatura. Como governos não quebram, eles quebram as nações. Somos nós, indivíduos, que seremos obrigados a pagar pela irresponsabilidade dessa gestão.
E pensar que ainda tem gente, até economista do BNDES, falando em “inflação do bem” e pedindo mais gastos públicos, mais crédito estatal, mais do veneno que vem nos matando. Afinal, austeridade virou sinônimo de palavrão na cabeça dos incautos. E os incautos estão no poder!
Rodrigo Constantino

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Merval Pereira:Conflito pós eleitoral O Globo

Merval Pereira:Conflito pós eleitoral

 O Globo

O segundo mandato da presidente Dilma, conseguido aos trancos e barrancos, nem mesmo começou e o PT já lança no ar a candidatura de Lula para 2018. O PT, fragilizado pelas urnas, precisa sinalizar à militância que existe um Lula no fim do túnel, mesmo com a perspectiva de um governo fraco, que tende a se manter no mesmo rumo por que Dilma não mudará da noite para o dia a sua maneira de ver o mundo.
O conflito explicitado pelo veto ao decreto dos conselhos populares já existia antes da eleição, e ele só não foi derrubado naquela ocasião por que ainda havia a expectativa de poder do PT, muita gente receava enfrentá-lo. Passada a eleição, e constatada sua fragilização, com a eleição apertada de Dilma e a divisão clara do eleitorado, além do grande número de não-votos, todo político da base do governo que olha para o longo prazo já vê que esse segundo governo vai ser muito complicado.
Vai haver momentos de demonstrar força, para ganhar dividendos imediatos ou, no caso do PMDB, para preparar um salto mais alto na direção da oposição, ou de um candidato próprio em 2018. Uma batalha permanente da presidente Dilma com o Congresso, com grande chance de sair perdedora em muitas ocasiões, como aconteceu na terça-feira com a derrubada do decreto dos conselhos populares.
Quais serão os métodos de que se utilizará Dilma no segundo governo para fazer sua bancada de apoio? Com o processo do petrolão correndo na Justiça, e dezenas de deputados e senadores envolvidos no esquema de corrupção, que pode ainda respingar na própria presidente Dilma e no ex-presidente Lula, estará impedido o governo de usar o “toma lá dá cá” com esse fim. No fim das contas, no mínimo será mais arriscado nomear o diretor da Petrobras da área que fura poço.
Vai ser, portanto, muito difícil negociar com a base aliada, que já foi muito infiel no primeiro governo. Controle da chamada mídia profissional, plebiscito sobre formas de governo, além de formação de conselhos populares são receitas típicas de regimes autoritários de países vizinhos, muito ao gosto de setores importantes do atual governo brasileiro.
No Congresso há diversas correntes que ajudaram a derrubar o decreto dos conselhos populares, desde os que o consideram simplesmente eleitoreiro, editado às vésperas da eleição presidencial para ganhar a simpatia dos chamados movimentos sociais, que seriam os beneficiados pela medida, quanto os que temem que esse seja um passo a mais na direção de um governo no estilo bolivariano.
Há muitos deputados que votaram contra o decreto para preservar a função do Congresso Nacional no nosso sistema presidencialista, como um dos poderes da República, um contraponto ao Executivo e ao Judiciário. Mesmo quem não considera que o decreto seja inconstitucional, embora haja quem o considere assim, teme a manipulação que ele permite ao definir, por exemplo, sociedade civil como “o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações”.
Além de ser uma definição muito ampla que abarca qualquer tipo de movimento social, até mesmo os “não institucionalizados”, os parlamentares temem que o Palácio do Planalto se aproveite dessa amplitude conceitual para organizar, através da Secretaria Geral da Presidência da República, chefiada pelo ministro Gilberto Carvalho, os próprios conselhos, manipulando suas decisões.
Uma das tarefas de Gilberto Carvalho é, pelo decreto que define seu ministério, atuar “no relacionamento e articulação com as entidades da sociedade civil e na criação e implementação de instrumentos de consulta e participação popular de interesse do Poder Executivo”.

Mesmo os partidos mais fisiológicos da base aliada reagem a tentativas de enfraquecer os fundamentos democráticos porque sabem que, num governo autoritário, será menor sua influência e maior a força política do PT. O principal responsável por barrar essas tentativas é o próprio PMDB, que tem em seu DNA a defesa da democracia e impede que o PT ultrapasse os limites constitucionais.
Essa votação demonstrou que sempre que uma decisão do governo vai de encontro à Constituição ou tenta ultrapassar o Congresso, há uma maioria parlamentar na defesa da democracia representativa, que os petistas estão chamando de “bloco de centro-direita” ou de “centrão”. Boa parte desse "centrão" ficou dissidente do governo e apoiou a oposição na eleição presidencial.

Confiar desconfiando Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

Confiar desconfiando

Dora Kramer - O Estado de S.Paulo 
 Nem a rejeição do Congresso à reforma política por meio de plebiscito nem a derrubada do projeto presidencial dos conselhos populares na Câmara servem como medida precisa de como serão as relações entre o Parlamento e o Palácio do Planalto no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Pelo simples e conhecido fato de que as duas propostas já entraram em campo derrotadas. Por isso mesmo do ponto de vista do governo a surpresa foi a insistência da presidente, ou dos autores de seu discurso da vitória, de reapresentarem uma sugestão que no ano passado havia sido amplamente rejeitada. Tanto que sobre ela não se deu uma só palavra durante a campanha. 
Uma hipótese: Na falta de algo melhor para dizer, fizeram-na falar algo de apelo popular já sabendo qual seria a reação dos políticos e que haveria espaço para recuar; como de fato aconteceu. Com sua bancada reduzida em 18 deputados em 2015, de 88 para 70, e sem o apoio da tradicional base aliada, o PT não vai à esquina com esse plebiscito. Inclusive porque o partido vai da premissa para chegar à conclusão errada. Isso considerando o princípio da boa fé, bem entendido.
O acerto da premissa: a reforma não anda sem a sociedade. O equívoco da conclusão: os temas envolvidos são complexos e não podem ser submetidos ao escrutínio simplista das respostas do "sim" e do "não". Muito menos essa é uma discussão que possa ser desenvolvida sob as diretrizes dos termos bobos, enganadores e infantilizados já vistos. 
A aprovação na Câmara do projeto que suspende o decreto presidencial que regulamenta os conselhos populares era uma das favas mais contadas da República. Todos os partidos, à exceção do PT, PSOL e PC do B, já haviam se manifestado contra. Restava apenas levar o assunto à votação para sacramentar o resultado. Pois foi o que fez o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, voltando de ser derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte com a ajuda do PT e o patrocínio do ex-presidente Lula ao candidato do PSD, Robinson Faria. 
Não precisou fazer nada além de exercer a prerrogativa do cargo. O PMDB comandou o espetáculo, a oposição teve assim o reforço que precisava. Mas, convenhamos, a situação era por si favorável. Um caso específico que não serve como esboço do cenário das relações entre o Planalto e o Parlamento na virada do próximo mandato.
Soa precipitado tanto dizer que o grau de dificuldade será maior quanto prever que será o mesmo ou menor. Sem dúvida alguma será muito maior se a presidente achar que ganhou eleição porque fez as coisas "do jeito dela". E mais: não podendo disputar eleições, está livre de compromissos. Aí terá a companhia indesejável do diabo porque viverá um inferno.
Ocorre que exatamente por ela não representar mais expectativa de poder futuro, o PT em geral e o ex-presidente Lula em particular dificilmente deixarão que a autonomia ponha em risco do projeto do coletivo. O mais provável, portanto, é que se façam ajustes para melhorar a interlocução, dificultar a vida da oposição e não deixar a peteca cair. 
Risca de giz. Se a decisão de não extraditar Henrique Pizzolato foi tomada em retaliação à negativa de atender ao pedido da Itália para que Cesare Battisti cumprisse a pena a que foi condenado em seu país, é um exercício de suposição. 
O fato inescapável é que o pedido do governo brasileiro foi negado por determinação da Justiça italiana e a extradição de Battisti decidida por ato unilateral do presidente da República que contrariou sentença do Supremo Tribunal Federal.
Não é ilegal, mas é um dado a ser levado em conta no cotejo das relações institucionais nas nações democráticas.

CELSO MING: Que diálogo, afinal, é esse que Dilma quer?


CELSO MING: Que diálogo, afinal, é esse que Dilma quer?

(Foto: Ichiro Guerra)
A presidente Dilma Rousseff diz que quer diálogo em seu segundo mandato, mas como dialogar após a campanha eleitoral que desconstruiu outros candidatos? (Foto: Ichiro Guerra)
Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo
Celso_MingA presidente Dilma quer diálogo e união. Foi a síntese de seu pronunciamento depois de conhecido o resultado das eleições [e de entrevistas a redes de TV]. Mas querer é pouco.
Depois dessa intensa campanha eleitoral, não há muito o que dialogar. Os pontos de vista, divergentes ou nem tanto, ficaram conhecidos. Pouco há o que a eles acrescentar.
A convocação à união do país, que saiu das urnas dividido ao meio, vai depender das decisões que a presidente Dilma vier a tomar a partir de agora. Não há nenhum sinal de que essas decisões apontarão para correções de rumo.
Em nenhum momento dessa campanha eleitoral proveio da presidente Dilma o reconhecimento de que tenha cometido erros na condução da política econômica. Não há nada a corrigir, repisou ela durante todos esses anos. E, sem reconhecimento, é difícil de mudar.
O baixo crescimento econômico, a inflação alta e as demais distorções não aconteceram por erro de escolha, avisam todos do governo. Aconteceram, insistem, por efeito das adversidades ou do clima ou do mau momento atravessado pela economia mundial. E, nesta segunda-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi ainda mais explícito: “Isso (o resultado nas urnas) mostra que a população está aprovando a política que estamos praticando”.
Ou seja, não há o que mudar, vocês terão de nos engolir, não importando se metade da população votou contra ou se, aplicada a mesma lógica, desaprovou a condução da política econômica.
Não significa que o governo vá necessariamente dobrar a aposta e repelir todos os ajustes. Dilma até que acenou com transformações: “Algumas vezes na História, resultados apertados produziram mudanças mais fortes e mais rápidas do que vitórias muito amplas”. Mas não apontou em que direção.
Esta coluna vem afirmando que alguns ajustes serão inevitáveis. A necessidade de recompor os preços administrados (combustíveis, energia elétrica e transportes urbanos) e de permitir certo nível de desvalorização cambial (alta do dólar) exigirá contrapartidas de política econômica, especialmente na área fiscal e na área dos juros, que, por si sós, implicarão rearrumação do mix macroeconômico adotado. Mas, outra vez, não há indicação nem do que virá nem em que magnitude.
Sabe-se apenas que eventuais correções, como anunciado, deverão ser graduais e indolores. A opção pelo gradualismo exige credibilidade do governo para sustentá-lo ao longo do tempo. O problema é que, aparentemente, a presidente Dilma não tem nenhuma opção à mão que exiba bom capital em confiança e que se sujeite a ser apenas executora de ordens superiores.
Ela também avisou que dará prioridade à reforma política para que esteja em condições de combater a corrupção. Mas quer a reforma política por meio de consulta plebiscitária, opção recusada pelo Congresso em 2013. Mas, pergunta-se, haverá disposição do Congresso, sempre tão empenhado em defender seus privilégios, de aceitar mudanças nas regras do jogo, as mesmas que o levaram até onde está?
De todo modo, a faca e o queijo estão agora nas mãos da presidente Dilma. Dependerá dela, e só dela, a volta do diálogo e a união do país, seja o que ambos signifiquem.

Um espanto: fotógrafa documenta diariamente um lanche do McDonald’s que, mais de QUATRO anos depois de comprado, ainda não se deteriorou


Um espanto: fotógrafa documenta diariamente um lanche do McDonald’s que, mais de QUATRO anos depois de comprado, ainda não se deteriorou

happy-meal-project-dia1
“Happy Meal Project”: as batatas fritas e o hambúrguer fotografados no primeiro dia
ATUALIZADO DIA 29 DE OUTUBRO DE 2014
Passados mais de dez anos do documentário Super Size Me, que obrigou a rede de fast food McDonald’s a reformular seu cardápio no mundo inteiro, incluir alimentos saudáveis nos famosos combos, como frutas e saladas, e investir pesadamente numa campanha para melhorar sua imagem de disseminadora de alimentação prejudicial à saúde — o que o documentário sugeria fortemente –, a cadeia internacional está já há quatro anos e meio diante de um novo desafio.
Trata-se do Happy Meal Project, da artista plástica e fotógrafa novaiorquina Sally Davies que, em 2010 resolveu registrar em fotografias diárias o processo de decomposição de um McLanche Feliz, formado por um hambúrguer e uma porção de batatas fritas. O lanche não está em geladeira nem nada parecido: fica no ambiente natural de uma casa.
Com o passar do tempo, a fotógrafa ficou estupefata: o sanduíche e as batatinhas continuavam com a mesma aparência, não mostrando sinais de alteração. Como se fossem de borracha ou de isopor.
No dia 10 de abril, passado, o projeto completou 4 anos e — pasmem! — estava tudo igualzinho ao primeiro dia. As fotos, todas as 1.545 delas, estão expostas em seu site, e em seu espaço no flickr, e mostram que a única variação se deu no pão do hambúrguer, que se partiu em alguns pedaços devido ao ressecamento.
“Eu demoro a acreditar que se passaram dois anos desde o dia em que o comprei”, disse a fotógrafa dà agência espanhola de notícias EFE dois anos e meio atrás. “Eu pareço dois anos mais velha, mas para o hambúrguer o tempo não passa”.

Dia 756: o pão secou e se partiu em alguns pedaços; a carne do hambúrguer encolheu um pouco e endureceu, e as batatas fritas têm quase o mesmo aspecto
As batatinhas e o hambúrguer, 756 dias depois: tudo o que aconteceu foi que o pão secou e se partiu em alguns pedaços; a carne do hambúrguer encolheu um pouco e endureceu, e as batatas fritas têm quase o mesmo aspecto
“Continuarei fotografando o hambúrguer até que ele se desintegre, o que pode custar o resto da minha vida natural”, explicou a artista, que constatou como nos 751 dias em que se dedica a fotografar esse exemplo de fast-food muito pouco mudou nos componentes do lanche infantil.
Davies acha que o lanche que comprou há mais de dois anos sofreu algum tipo de desidratação mas não iniciou nenhum processo de putrefação. E se pergunta que qualidades nutricionais que pode ter “um alimento que não apodrece nem se corrompe com a passagem do tempo”.

Um mês só comendo no McDonald’s — e o cineasta ficou péssimo
Em 2004, o cineasta americano Morgan Spurlock passou 30 dias se alimentando exclusivamente no McDonald’s: café da manhã, almoço e jantar, sendo monitorado por exames clínicos e acompanhado por um médico, para realizar o Super Size Me.
Chegou a consumir em média 5000 kcal (o equivalente de 6,26 Big Macs) diáriamente durante o experimento.
Super-Size-Me
“Super Size Me”: em 30 dias, o cineasta Spurlock ganhou 11 quilos, problemas no fígado, disfunção erétil e depressão
Spurlock, antes do experimento, mantinha uma dieta variada, era saudável e magro, com 1,88 metro de altura e 84,1 quilos. No final dos 30 dias, havia engordado 11,1 quilos, seu índice de massa corporal se elevara de 23,2 para 27 (grande aumento de gordura), sofreu problemas como mudanças de humor (um começo de depressão) e disfunção sexual, além de danos ao fígado. O cineasta precisou de 14 meses para perder o peso que havia ganhado.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Recados da sociedade - CARLOS ALBERTO DI FRANCO

Recados da sociedade - CARLOS ALBERTO DI FRANCO

O ESTADÃO - 27/10

Escrevo este artigo antes da abertura das urnas. Mas o tom do segundo turno, marcado por intensa participação da sociedade, sobretudo na internet, transmite um forte recado aos políticos. A eleição despertou algo que estava adormecido na alma dos brasileiros: o exercício da cidadania. O povo percebeu, finalmente, que os governantes são representantes da sociedade, mas não são donos do poder. Assistimos ao estertor dos feudos da opinião pública. Daqui para a frente, com crescente intensidade, os políticos serão cobrados e confrontados. Felizmente. Além disso, os brasileiros, mesmo os que foram seduzidos pelo rolo compressor do marketing político, não estão dispostos a renunciar aos valores que compõem a essência da nossa história: a paixão pela liberdade, a defesa da dignidade humana e a prática da tolerância.

Um país não pode se apresentar como democrático e livre se pedir à imprensa que não reverbere os problemas do país. O governo petista frequentemente manifestou insatisfação com o trabalho da imprensa. Para o PT, lamentavelmente, jornalismo bom é o que fala bem. Jornalismo que apura e opina com isenção incomoda, irrita e provoca azia. Está, na visão de seu líder, Luiz Inácio Lula da Silva, a serviço da “elite brasileira”. Reconheço, no entanto, que Lula, Dilma e seus companheiros não são críticos solitários da mídia. Políticos, habitualmente, não morrem de amores pelo trabalho dos jornalistas.

A simples leitura dos jornais oferece um quadro assustador do cinismo que se instalou na entranha do poder. O que fazer quando um ex-presidente da República faz graça com a corrupção e incinera a ética no forno do pragmatismo e da suposta governabilidade? O que fazer quando políticos se lixam para a opinião pública? Só há um caminho: informação livre e independente. Não se constrói um grande país com mentira, casuísmos e esperteza. Edifica-se uma grande nação, sim, com o respeito à lei e à ética. A transparência informativa, de que os políticos não gostam, representa o elemento essencial de renovação do Brasil.

Mas o recado mais forte, claro e nítido, foi o do repúdio à intolerância. A agressividade de Dilma e de Lula e seus destemperos verbais também empurraram a eleição para o segundo turno. A radicalização ideológica não tem a cara do brasileiro. O PT tenta dividir o Brasil ao meio. Jogar pobres contra ricos, negros contra brancos, homos contra héteros. Quer substituir o Brasil da alegria pelo país do ódio e da divisão. Tenta arrancar com o fórceps da luta de classes o espírito mágico dos brasileiros. Procura extirpar o DNA, a alma de um povo bom, aberto e multicolorido. Não quer o Brasil café com leite. A miscigenação, riqueza maior da nossa cultura, evapora nos rarefeitos laboratórios arianos do radicalismo petista.

Assistimos ao surgimento, de forma acelerada e preocupante, de uma nova “democracia” totalitária e ditatorial, que pretende espoliar milhões de cidadãos do direito fundamental de opinar, elemento essencial da democracia. Se a ditadura politicamente correta constrange a cidadania, não pode, por óbvio, acuar jornalistas e redações. O primeiro mandamento do jornalismo de qualidade é a independência. Não podemos sucumbir às pressões dos lobbies direitistas, esquerdistas, homossexuais ou raciais. O Brasil eliminou a censura. E só há um desvio pior que o controle governamental da informação: a autocensura. Para o jornalismo não há vetos, tabus e proibições. Informar é um dever ético. E ninguém impedirá o cumprimento do primeiro mandamento da nossa profissão: transmitir a verdade dos fatos.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Crônica de uma casa dividida. Coluna Carlos Brickmann



Esqueça as promessas dos candidatos: não teriam importância se fossem cumpridas e sabemos que não o serão. O melhor que pode ocorrer, o mais importante, é que o vitorioso cumpra uma promessa que não fez: governar para todos.

A campanha eleitoral foi o ponto alto de uma crise que cresce há tempos: a divisão do país. Há muita gente jogando na luta de pobres contra ricos, de nordestinos contra o Sudeste (especialmente São Paulo), de negros contra brancos, na loucura de ganhar o poder total e destruir quem se oponha a esse projeto. A presidente Dilma é vaiada num estádio de futebol em Brasília e a culpa é "da elite branca paulista endinheirada". 

A cúpula do PT vai para a cadeia e a culpa é da elite branca paulista endinheirada - embora o magistrado que a condenou fosse um negro mineiro de classe média, professor universitário no Rio, nomeado por um presidente que, conforme a ocasião, era pernambucano ou paulista.

Ninguém consegue governar bem um país que não está bem. Quem percebeu a maluquice do divisionismo foi um dos presidentes mais populares da História, Juscelino Kubitschek. Um ano antes de sua eleição, o presidente da República se suicidou, o vice foi afastado pelos militares junto com o presidente da Câmara e o país ficou sob o governo do vice-presidente do Senado, Nereu Ramos). Juscelino aparou os ódios e, mesmo enfrentando dura oposição, reunificou o país.

É bom para nós lembrar a frase de John McCain, ao reconhecer a derrota para Obama: "Até agora era meu adversário. A partir de agora é meu presidente".

Os tiros no ar

Qual o efeito eleitoral das revelações atribuídas pela revista Veja ao doleiro Alberto Youssef, do caso do Petrolão, em sua delação premiada? Bobagem especular: em poucas horas saberemos. Mas as revelações, se verdadeiras (Youssef pode estar mentindo; ou talvez essas revelações nem constem na delação premiada, já que tudo o que ele disse deveria estar em rigorosíssimo segredo de Justiça) são explosivas. Youssef, segundo diz Veja, afirmou que Lula e Dilma sabiam das propinas do Petrolão. Atribui à atual presidente e ao ex-presidente, portanto, a participação num crime - ou pior, em vários, todos de ação pública. 

Caso Dilma seja a preferida dos eleitores e Youssef tenha dito a verdade, é crise instalada.

A bala da crise

A afirmação mais importante da reportagem de Veja, e que não despertou tanta atenção, é a que atribui a Youssef a disposição de fornecer à Justiça o número das contas secretas do PT no Exterior, já que as teria utilizado para distribuir as propinas. Esse tipo de informação, caso confirmada, não comporta interpretações: ou os números correspondem a contas ou não. 

Se corresponderem, é crise.

Fazendo de conta

Uma dúvida deste colunista: se a delação premiada envolve pouca gente, se as gravações são imediatamente guardadas em cofres, se a transcrição é codificada e guardada em locais protegidos pela Justiça, não deve ser difícil localizar a origem dos vazamentos nem os interesses que se ocultam por trás das informações que pingam para a imprensa. 

Há alguma investigação na Justiça sobre a responsabilidade por falhas na guarda e proteção de depoimentos sigilosos?

Perguntar não ofende

Considerando-se que esta não é a primeira vez que processos em segredo de Justiça vazam para a imprensa, por que insistir em manter o sistema? Que se abram os processos, que o público tenha livre acesso a tudo - a tudo, não a pedacinhos escolhidos, normalmente de interesse da acusação, para influenciá-lo. 

Quem nos julga

Acostumado a criticar os gastos secretos com cartão corporativo do Governo Federal? Habituado a criticar as montanhas de despesas e mordomias da Câmara e do Senado, que transformam o parlamentar brasileiro num dos mais caros do mundo? Pois está na hora de mudar o disco: o portalCongresso em Foco comprovou que apenas o auxílio-moradia para os juízes custará cerca de R$ 1 bilhão por ano - praticamente a mesma coisa que custa o Congresso inteiro, com todos os seus penduricalhos e desperdícios, e que atinge R$ 1,1 bilhão por ano. 

Traduzindo: com apenas um benefício extra, o Judiciário consumirá o mesmo que os salários, assessores e penduricalhos de 513 deputados e 81 senadores.

Histórias da vida real

Val Marchiori, lembra? Aquela apresentadora de TV e integrante de reality shows que acaba de conseguir um empréstimo de, digamos, pai para filha, com juros de 4% ao ano? 

Recordando: Val Marchiori conseguiu um empréstimo de quase 3 milhões de reais do BNDES, via Banco do Brasil, com nove anos para pagar e seis meses de carência. Claro, o fato de ser amiga do presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine - ele, em duas viagens oficiais, ao Rio e Buenos Aires, encontrou-a por acaso no mesmo hotel - não teve influência no caso.

Mas falemos um pouco de Val. No último réveillon do Iate Clube de Santos, o comodoro do clube tinha levado uma garrafa de champanhe Crystal, comprada por ele, para brindar com a família. Val recusou a champanhe que acompanhava o jantar de réveillon, foi à mesa do comissário e pegou a que ele tinha levado.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Elio Gaspari O que vem por aí é um plebiscito


Elio Gaspari O que vem por aí é um plebiscito

O GLOBO

A teoria da pancadaria é curta para explicar o que parecem ser as oscilações do eleitorado

Quando Marina Silva não conseguiu chegar ao segundo turno, atribuiu-se seu declínio à pancadaria que sofreu. Talvez nunca se saiba por que o balão esvaziou, mas, mesmo olhando-se para os golpes que levou, essa teoria é curta. Foi de sua equipe que partiu a plataforma da independência do Banco Central. Admita-se que a ideia pode ser boa. Ainda assim, ela foi exposta pela educadora Neca Setubal, herdeira da família que controla o banco Itaú. Precisava? Se isso fosse pouco, dias depois, Roberto, irmão de Neca e presidente da casa bancária, disse que via “com naturalidade” uma possível eleição de Marina. Precisava? Marina falou em “atualizar” a legislação trabalhista, mas não detalhou seu projeto. Juntando-se gim e vermute, tem-se um Martini. Juntando-se banqueiro com atualização das leis trabalhistas, produz-se agrotóxico. Precisava?
Uma campanha eleitoral em que se discutiram mais as pesquisas do que as plataformas esteve mais para videogame do que para escolha de um presidente da República, mas foi esse o curso que ela tomou. A comparação do resultado do primeiro turno com as estimativas das pesquisas ensinou o seguinte: os votos de Aécio Neves ficaram acima da expectativa máxima e os de Dilma, abaixo da expectativa mínima. Disso resulta que não só é temerário dizer quem está na frente, mas é arriscado afirmar que o vencedor será eleito por pequena margem.
Os eleitores prestam atenção em pesquisas, mas votam com o coração, a cabeça e o bolso. Se a noção demofóbica segundo a qual Dilma tem o voto dos pobres tivesse alguma base, a doutora estaria eleita. Contudo, olhando-se pelo retrovisor, nunca houve ricos suficientes nos Estados Unidos e na Inglaterra para eleger os conservadores Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Como muita gente achava que o povo brasileiro não sabia votar, o país foi governado por cinco generais escolhidos sem qualquer participação popular. O último foi-se embora deixando uma inflação de 226% e uma dívida externa (espetada) de US$ 180,2 bilhões.
Os candidatos conseguem votos pelo que dizem e pelo que fazem. Em 1994, Fernando Henrique Cardoso percebeu que ganhara a eleição quando uma mulher ergueu uma nota de um real durante um comício. Quatro anos depois, mesmo diante da ruína da fantasia do real que valia um dólar, ele foi reeleito porque os brasileiros preferiram continuar numa Mercedes que rateava a embarcar na motocicleta de Lula.
Nesta campanha, com exceção do debate da Record, os outros foram rasos. Em todos, os candidatos pareciam drones guiados pelo controle remoto dos marqueteiros, buscando clipes para os programas do horário gratuito. Sexta-feira, o debate da Globo terá tudo para ser educativo, pois nele o jogo do clipe será inútil.
A pancadaria que envolveu Dilma Rousseff e Aécio Neves roncou dos dois lados. Ambos sabiam que esqueletos tinham nos armários. As baixarias não serão suficientes para explicar o resultado que sairá das urnas. Muito menos as teorias destinadas a desqualificar os votos de quem vier a prevalecer. O que vem por aí é um plebiscito para decidir se o PT deve continuar no governo ou ir-se embora.
Elio Gaspari é jornalista

Entrevistas Armínio Fraga

Entrevistas Armínio Fraga

Enquanto o PT faz uma campanha suja e com ataques pessoais ao candidato e seu economista principal, Armínio Fraga, Armínio tem a calma que se espera de um grande economista e continua dando entrevistas técnicas nas quais explica os grades desafios para a retomada do crescimento econômico e do progresso social.
Eu nunca conheci um economista tão bom e tão calmo na minha vida. No debate com o Ministro Mantega na Globo News, se eu estivesse lá, eu teria reagido a algumas afirmações do Ministro Mantega, educadamente, da seguinte forma: “Ministro, me perdoe, mas o senhor está equivocado” ou “Ministro, isto não é verdade”.
Mas Armínio não partiu para o conflito direto porque, na sua carreira de economista, ele sempre foi acostumado a debater em cima de evidência empírica, olhar cuidadosamente para teorias, escutar argumentos e fazer contra argumentos sem confrontar diretamente seus adversários. Ele chegou em um estágio da vida que não precisa provar absolutamente nada para ninguém.
Dito isso, vale a pena ler duas entrevistas recentes do Armínio. Uma delas foi publicada na Revista Isto É Dinheiro recentemente (clique aqui) e a outra hoje no Correio Braziliense (clique aqui). Nas duas entrevistas Armínio fala do ajuste econômico gradual com retomada do crescimento do investimento e do PIB.
Na matéria do correio tem uma passagem especial:
Correio: Como foi o episódio do convite para o senhor integrar o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva?
Armínio: O livro do (ex-ministro Antonio) Palocci registra muito bem isso. Conversei muito com ele durante a transição. Dei uma declaração genérica de que ficaria por um período, algo como seis meses, se fosse necessário. Tive duas excelentes conversas com o Lula já eleito. Eu estava ali para ajudar e funcionou bem essa integração.
É claro que reconhecer isso hoje seria impensável. Vamos torcer para que, no domingo, o Brasil comece uma nova fase de sua história com um novo governo comprometido com reformas estruturais e que traga de volta um cenário de maior confiança, crescimento da produtividade e maior crescimento do PIB com distribuição de renda.

Verdades e Mentiras: inflação no segundo governo FHC versus Dilma

Verdades e Mentiras: inflação no segundo governo FHC versus Dilma

A partir de hoje, começo todos os dias a esclarecer alguns deslizes da nossa equipe econômica. Vamos começar pela inflação. No programa de ontem da GloboNews com o ministro Mantega e o economista Armínio Fraga, Mantega falou que Armínio Fraga pegou a inflação no seu primeiro ano de Banco Central em 7% ao ano e deixou 12% ao ano, em 2002. Na verdade a inflação, em 1999, foi de 8,94%.
Isso é verdade? Sim. Mas a pergunta seguinte seria tentar identificar porque isto aconteceu, i.e. por que Armínio não terminou seu mandato à frente do BC com uma inflação menor do que no início. A resposta é o medo que o mercado tinha de um governo do PT, cujo candidato que liderava as pesquisa, Luiz Inácio Lula da Silva, foi contra o Plano Real e por anos defendeu o calote da dívida pública. Claro que se esperava o pior.
A inflação em 12 meses vinha em queda. Mas, no ano de 2002, do final de fevereiro até o final de setembro, a taxa de câmbio (R$/US$) passou de 2,35 para 3,85–uma desvalorização do Real de 64% em sete meses. A taxa de câmbio puxou a inflação para cima e posteriormente com a forte valorização do Real trouxe novamente os índices para baixo no governo Lula. De julho de 2002 a maio de 2003, a inflação acumulada em 12 meses passou de 7,5% para 17%! Mas depois derreteu com a valorização da taxa de câmbio e chegou a 3% já no início de 2007, quando a taxa de câmbio havia derretido para 2 R$/US$.
Taxa de Câmbio (R$/US$) – JAN/1999-SET/2014
Tx de cambio
 Inflação em 12 meses – IPCA – % – JAN/1998-SET/2014
Inflação 2
No governo Dilma, não houve nada disso. A inflação média acima de 6% ao ano, maior do que a média do governo anterior, é pura incompetência com um agravante. Como ninguém espera valorização do Real nos próximos anos e teremos ainda que corrigir preços da energia e combustíveis, os erros do governo Dilma dificultarão a redução rápida da inflação.
E acho até que há um grande risco da inflação ultrapassar o teto da meta este ano. Se a presidente Dilma for reeleita acho que a inflação vai continuar elevada, porque a turma que está ai ainda não aprendeu que 6,5% é o teto da meta e não o centro da meta.

RECORDANDO - CARLOS BRICKMANN


Recordando

Certa vez, ao receber uma comenda de Herói da Grã-Bretanha, o marechal Montgomery alfinetou Churchill, ali presente: disse que "não bebia, não fumava, não prevaricava e era herói". 

Churchill não se abalou: "Eu bebo, fumo, prevarico e sou chefe dele".


Recordando - Brasil

O general Leônidas Pires Gonçalves, que foi ministro do Exército no Governo Sarney, era obcecado pela forma física. Certa vez, visitando um batalhão, ficou perplexo ao ver que o comandante era gordo. Criticou-o na frente da tropa. O comandante ouviu e, terminado o destampatório, executou uma série de acrobacias, com saltos mortais, estrelas, tudo aquilo que este colunista jamais foi capaz de fazer (e jamais teve vontade de tentar). Leônidas, perplexo, viu a demonstração em silêncio. 

Terminada, o comandante dirigiu-se a ele: "Sua vez, general".

ABAIXO A DISCRININAÇÃO AOS GORDOS - CARLOS BRICKMANN

Discriminação, sim

Josiani Alves Nicolete, 35 anos, diarista de profissão, foi aprovada em concurso público para o emprego de agente de serviços gerais numa creche municipal de Buritama, SP. Pagou a taxa para participar do concurso. Ao ser aprovada pediu demissão das casas onde prestava serviços. Mas foi impedida de tomar posse porque a julgaram "obesa". Josiani está evidentemente acima do peso - mas não havia, entre as cláusulas do concurso, nenhuma que lhe exigisse peso menor. Na hora de pagar para participar, não havia restrição. Na hora de nomear os vitoriosos no concurso, as restrições aparecem? Não é o primeiro caso de discriminação de pessoas gordas. Nem por isso deixa de ser imbecil: se não se trata de candidatura a atleta, ou a modelo, por que a discriminação?

Digamos que Sir Winston Churchill, ao assumir o Governo britânico que derrotaria o magrinho Hitler na Segunda Guerra Mundial, não fosse exatamente magro. Digamos que o general Arik Sharon, a grande estrela da Guerra do Yom Kippur, tinha certo excesso de peso. Digamos que o ministro Delfim Netto, por tantos anos comandante da economia brasileira, não tinha o apelido de Gordo por acaso. E digamos que os responsáveis pela discriminação a funcionários que venceram concursos ainda não apresentaram credenciais que os habilitem a ser pelo menos tão vitoriosos e conhecidos como as pessoas que querem impedir de trabalhar. Digamos também que os meios de comunicação estão falhando feio: quem toma uma decisão desse porte, sem levar em conta as normas escritas do concurso e impede assim que uma pessoa ganhe a vida, tem de ser procurado até que dê todas as explicações para seus atos que, na opinião deste colunista, são insanos.

NOTINHAS DE CARLOS BRICKMANN

Menos, Xico Sá. Menos

O apreciado jornalista Xico Sá, colunista do Caderno de Esportes, há vinte anos, entre idas e vindas, na Folha de S.Paulo, pediu demissão, por achar-se tolhido no direito de declarar seu voto em Dilma Rousseff. 

Só que não foi bem assim: a Folha, considerando que no Caderno de Esportes deve-se tratar de esportes, ofereceu a Xico Sá espaço na página 3, o mais nobre do jornal, para declarar seu voto. "A direção do jornal", diz Xico Sá, "sugeriu que eu poderia publicar, porém na página 3, na segunda-feira. É a página de Tendências/Debates, na qual convidados, não gente da casa, manifesta livremente suas opiniões, inclusive de voto. Migrar para um espaço de forasteiros não me fez a cabeça, não achei que fosse a solução para o impasse (...)"

Numa série de posts após a demissão, Xico Sá criticou duramente a Folha, considerando-a "imprensa burguesa". Pois é: Xico Sá se mantém nas Organizações Globo, livre enfim das amarras da imprensa burguesa.

sábado, 18 de outubro de 2014

As escolas católicas e a perenização das lendas negras antieclesiais - Por Paulo Vasconcelos Jacobina

As escolas católicas e a perenização das lendas negras antieclesiais

Na semana passada, meu filho adolescente me abordou com o texto de sua prova simulada nas mãos. Ele estuda numa escola católica, ressalte-se, o que não necessariamente torna mais fácil a luta para que ele não perca a fé diante da forma com que as disciplinas de história, literatura e ciências são muitas vezes apresentadas pelos professores. Mas as questões que narro a seguir teriam o mesmo viés, ainda que a escola não fosse católica.
No caso concreto, ele me interpelava com uma questão de história, que tinha exatamente o seguinte conteúdo:
“Enquanto as civilizações sarracena e bizantina desenvolveram amplos estudos de física, matemática, astronomia e medicina, as ciências, na sociedade europeia, não avançaram muito, devido à repressão da Igreja Católica a qualquer estudo que colocasse em risco a sua doutrina religiosa.”
Devido às conversas que temos em casa sobre questões históricas relacionadas à Igreja, ele respondeu na prova que a afirmativa estava errada. Lembrou-se de como eu lhe comentava sobre a verdade do incidente com Galileo Galilei, ou de como eu lhe mencionara o excelente livro “Como a Igreja Católica construiu a Civilização Ocidental”, de Thomas Woods, ou mesmo a importância da reta razão na compreensão da fé, como ressaltado já por sábios como São Justino, do século II, pelos Padres Alexandrinos do século II e III, por homens como Santo Agostinho (século IV), Boécio (século V), Alcuíno (séc. VIII), Abelardo (séc. XII), Santo Anselmo Séc. XIII), para não mencionar Erasmo e Thomas Hume (séc. XVI), todos numa impressionante defesa da razão humana, reiterada em diversos concílios como o IV de Latrão (1215) e os Concílios Vaticano I (1870) e Vaticano II (1965), além da encíclica “Fides et Ratio”, de João Paulo II, a cujo respeito eu também eventualmente comentava com ele.
É uma impressionante cadeia de homens sábios e documentos em defesa da razão e da ciência produzidos numa única instituição, a Igreja Católica. Não se sabe de outra instituição com uma história assim. Mas, uma vez divulgado o gabarito pela escola, para sua surpresa (e a minha) a resposta correta, para a escola, é que a afirmativa estava certa. O que fez com que meu filho me questionasse com uma certa agressividade na voz, e não sem um certo ar de decepção com a confiabilidade da formação que eu lhe dava.
Resolvi entrar em contato com a direção da escola, por e-mail, e o fiz assim:
“Prezado diretor,
Sou pai de um aluno do ensino médio, e fiquei com uma dúvida grave sobre o simulado aplicado por vocês. Ele me mostrou a prova, e a questão 64 é manifestamente falsa. Mas pelo gabarito publicado, ela estaria verdadeira para a escola.
A questão afirma que a Igreja Católica manteve o ocidente na ignorância científica, repelindo as pesquisas e os avanços científicos, com medo de que o avanço da ciência ameaçasse a fé, que entretanto eram alcançados por sarracenos (muçulmanos) e bizantinos. Isto é manifestamente falso: basta olhar um noticiário de TV para perceber qual das duas esferas do mundo desenvolveu a tecnologia, se o ocidente católico ou o oriente bizantino e muçulmano.
Não é à toa que o renascimento Carolíngeo deu-se já no século IX no ocidente, mesmo sob a crise das invasões bárbaras, e já no século XII o sistema europeu de universidades estava firmemente estabelecido pela Igreja Católica, sem similar no mundo. Enquanto muçulmanos degolavam seus desafetos e bizantinos mantinham seu império sob um tacão de autoritarismo político.
Também não é à toa que o ocidente deu ao mundo, no século XIII, um Santo Alberto Magno, doutor em ciências, e que os monges inventaram os arreios de cavalo eficazes que renovaram a face da Europa durante a baixa idade média. Não é à toa que Galileo Galilei somente pode ter escrito o que escreveu porque era um professor de universidades católicas no século XVI, e que baseou seu estudo nas teorias de Copérnico, que era um padre católico. Há uma série de imbecilidades escritas sobre Galileo, inclusive a de que ele teria sido queimado na fogueira, e repetidas por professores de história de formação antirreligiosa por aí. É uma lenda negra. Galileo morreu de velho, em seu leito, cercado por suas cinco ou seis filhas freiras, confessou-se, recebeu a comunhão e a unção dos enfermos está enterrado numa igreja católica.
Note-se que a cientista Marie Curie era uma devota católica, e que seu trabalho repercutiu no Brasil com o padre Roberto Landell de Moura, que foi a primeira pessoa no mundo a transmitir voz por rádio, em 1903, e que seu professor marxista de história não deve conhecer, é claro, apesar das inúmeras patentes que este padre tem no Brasil e nos EUA.
Mesmo a Wikipedia, que muitas vezes não é confiável em suas informações, faz um interessante reconhecimento da importância da Igreja no fomento da razão através da história:
"Muitos clérigos da Igreja Católica ao longo da história fizeram contribuições significativas para a ciência. Dentre esses clérigos-cientistas estão nomes ilustres tais como Nicolau Copérnico, Gregor Mendel, Alberto Magno, Roger Bacon, Pierre Gassendi, Ruđer Bošković, Marin Mersenne, Francesco Maria Grimaldi, Nicole Oresme, Jean Buridan, Robert Grosseteste, Christopher Clavius, Nicolas Steno, Athanasius Kircher, Giovanni Battista Riccioli, William de Ockham, e muitos outros. Centenas de outros nomes têm feito contribuições importantes para a ciência desde a Idade Média até os dias atuais.
Na verdade, pode-se perguntar por que a ciência se desenvolveu em um ambiente majoritariamente católico. Esta questão é considerada pelo padre Stanley Jaki em seu livro “The Savior of Science”. Jaki mostra que a tradição cristã identifica Deus como racional e ordenado. Ele identifica os escolásticos da Alta Idade Média pela sua despersonalização da natureza.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_cl%C3%A9rigos-cientistas_cat%C3%B3licos, acesso em 15.09.2014)
O artigo da Wikipedia, que é um tanto longo, não deixa de ressaltar a importância dos jesuítas para a ciência moderna, e inclusive o fato de que nada menos do que trinta e cinco crateras lunares têm o nome de cientistas jesuítas. Isto parece deixar bem claro qual é a posição institucional da Igreja sobre a ciência, bem diferente daquela maldosamente exposta na referida afirmação da prova. É muito fácil para um jovem adolescente perder a fé – de fato, muitas vezes ocorre sem motivo; certamente fica muito mais fácil quando há uma colaboração externa deste tipo.
Gostaria de esclarecer esta dúvida, inclusive tendo acesso à fonte da qual o professor que elaborou a questão retirou a informação, que, das coisas que conheço, é manifestamente falsa e agressiva à fé católica - à qual a escola alega pertencer.
Mas não se trata de questão de fé, trata-se da necessidade de expor um erro acadêmico grave, que não consigo acreditar ter sido intencional. Não vejo nenhum problema em que se exponha publicamente os erros que historicamente os filhos da Igreja Católica cometeram, mas acho que, no ambiente acadêmico, existe o direito de saber o fundamento de uma afirmação tão grave, tão contrária à boa evidência histórica, e que parece apenas ser a repetição leviana, em meio acadêmico, de uma hostilidade propagada em meios anticlericais para minar a confiança na Igreja.”
A escola deu-me um retorno burocrático, através de uma assessora, que prometeu rever o assunto com a professora, mas ainda não fez nenhuma crítica sobre estas afirmações. Não posso evitar a sensação de ser minoria, mesmo dentro de uma escola católica. Mas é hora de não ter constrangimentos em lutar pela verdade, mormente quando a mentira propagada constitui, ademais, uma ataque à fé.