quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Até que enfim Olavo de Carvalho Diário do Comércio, 21 de setembro de 2011




A mídia brasileira sempre acaba descobrindo as coisas. Basta esperar umas quantas décadas, e você, já maduro ou velhinho, recebe a informação vital que poderia ter mudado o seu destino se lhe chegasse na juventude.
Quem primeiro me falou de Roger Scruton, no início dos anos 90, foi Daniel Brilhante de Brito, o brasileiro mais culto que já conheci. Citei o filósofo inglês em 1993, em A Nova Era e a Revolução Cultural, antevendo – nada é mais fácil neste país – que sua obra dificilmente chegaria ao conhecimento dos nossos compatriotas. Decorridos sete anos, o Dicionário Crítico do Pensamento da Direita, pago com dinheiro do governo à fina flor da esquerda falante – 104 intelectuais que prometiam esgotar o assunto –, ainda exibia despudoradamente a total ignorância universitária de um autor que, àquela altura, já era tido no seu país e nos EUA como um dos mais vigorosos homens de idéias no campo conservador (v.http://www.olavodecarvalho.org/textos/naosabendo.htm). Só se pode alegar como atenuante o fato de que não haviam excluído Roger Scruton por birra pessoal. Ao contrário, eram rigorosamente democráticos na distribuição da sua ignorância: desconheciam, por igual, Ludwig von Mises, Friedrich von Hayek, Murray Rothbard, Russel Kirk, Thomas Sowell, Bertrand de Jouvenel, Alain Peyrefitte e praticamente todos os demais autores sem os quais não existiria nenhum “pensamento da direita” para ser dicionarizado. Uma breve consulta ao popular Dictionary of American Conservatism, publicado três anos antes, teria bastado para dar àqueles cavalheiros a informação mínima que lhes faltava sobre o assunto em que pontificavam, mas provavelmente as verbas federais com que encheram os bolsos não bastaram para comprar um exemplar.
Voltei a falar de Scruton, à base de uma vez por ano, de 1999 até 2008. Em vão. Durante muito tempo vigorou nas redações de jornais e nas universidades o mandamento comunista de Milton Temer, “O Olavo de Carvalho não é para ser comentado” (v.http://www.fazendomedia.com/fm0023/entrevista0023.htm), que o zelo dos discípulos estendia aos autores citados nos meus artigos. Alguns, é claro, liam esses autores em segredo, como quem se escondesse no banheiro com um livreto de Carlos Zéfiro. Mas esperavam, para comentá-los, que o tempo apagasse toda associação entre aqueles nomes e a minha pessoa. Assim transcorreu o prazo de uma geração.
Imagino o que teria sido a vida de milhares de estudantes brasileiros se lessem, logo que publicado em 1985, o hoje clássico Thinkers of the New Left. Naquela época, o marxismo já estava cambaleante, mas as idéias da “Nova Esquerda”, que prometiam injetar-lhe vida nova, estavam acabando de aterrissar na taba. Se Antonio Gramsci e Louis Althusser já eram estrelas nos céus acadêmicos tabajaras, outros, como Michel Foucault e Jürgen Habermas, mal haviam desembarcado, e outros ainda, como Immanuel Wallerstein e E. P. Thompson, ainda eram vagas promessas de novos deslumbramentos que só na década de 90 iriam espoucar ante os olhos ávidos da estudantada devota. A cada um desses autores Scruton consagrava modestas oito ou dez páginas que os reduziam ao estado de múmias, fazendo jus àquilo que mais tarde se diria de outro filósofo conservador, o australiano David Stove (também desconhecido nestas plagas): “Ele não faz prisioneiros. Escreve para matar.”
Se alguma longínqua esperança na recuperação da dignidade intelectual marxista ainda restava na minha cabeça de esquerdista desencantado, foi sobretudo esse livro que a exorcizou. Uma tradução brasileira dele teria feito bem a muita gente. Talvez tivesse até debilitado a fé de Milton Temer no monopólio esquerdista da racionalidade, poupando-o do vexame de continuar carregando essa cruz nas suas costas vergadas de septuagenário.
Foi para impedir essa tragédia que a elite esquerdista dominante nos meios universitários e editoriais não só se absteve de ler livros conservadores como também tomou todas as providências para que ninguém mais os lesse. Não que agisse assim por um plano deliberado. Não: essa gente pratica a exclusão e a marginalização dos adversários com espontânea naturalidade. A regra leninista de que não se deve conviver com a oposição, mas eliminá-la, incorporou-se na sua mente como uma segunda natureza, e desde que a esquerda tomou o poder neste país tornou-se um hábito generalizado e corriqueiro suprimir as vozes discordantes para em seguida proclamar que elas não existem.
Por isso é que só agora o indispensável Roger Scruton chega ao conhecimento do público brasileiro, por iniciativa das páginas amarelas daVeja de 21 de setembro, onde ele diz o que todo mundo pensa mas não tem meios de dizer em voz alta. Exemplos:
1) Os arruaceiros de Londres não são pobres excluídos. São meninos mimados, sustentados pela previdência social, que se acostumaram à idéia de que têm todos os direitos e nenhuma obrigação.
2) Nenhum país pode suportar um fluxo ilimitado de imigrantes sem integrá-los na sua cultura nacional.
3) Toda a ideologia de esquerda é baseada na idéia imbecil da “soma zero”, onde alguém só pode ganhar alguma coisa se alguém perder outro tanto.
4) Marx, Lênin e Mao pregaram abertamente a liquidação violenta de populações inteiras, mas a esquerda fica indignada quando lhes imputamos a culpa moral pelas conseqüências óbvias da aplicação de suas idéias, mas se um conservador escreve uma palavrinha contra os excessos da imigração forçada, é imediatamente acusado de fomentar crimes contra os imigrantes.
5) A União Européia é inviável. O euro, paciente terminal, que o diga.
6) A esquerda sente a necessidade de sempre explicar tudo em termos de culpados e vítimas, mas, como cada explicação desse tipo logo se revela insustentável, é preciso buscar sempre novas vítimas para que as ondas de indignação se sucedam sem parar, alimentando a liderança revolucionária que sem isso não sobreviveria uma semana. A primeira vítima oficial foram os proletários, depois os índios, os negros, as mulheres, os jovens, os gays e agora, finalmente, a maior vítima de todas: o planeta. Em nome da salvação do planeta, supostamente ameaçado de extinção pelo capitalismo, é lícito matar, roubar, seqüestrar, incendiar, ludibriar, mentir sem parar e, sobretudo, gastar dinheiro extorquido dos malvados capitalistas por meio do Estado redentor.
Em todos esses casos, é historicamente comprovado que a situação das alegadas vítimas, sob o capitalismo, jamais parou de melhorar, na mesma medida em que piorava substancialmente nos países socialistas, mas a mentalidade esquerdista tem a tendência compulsiva de sentir-se tanto mais indignada com os outros quanto mais suas próprias culpas aumentam. É o velho preceito leninista: Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é.
A par da sua obra propriamente filosófica, de valor inestimável para os estudiosos, Scruton tem dito essas coisas, de uma verdade patente, há muitas décadas e com uma linguagem ao mesmo tempo elegante e ferina que desencoraja o mais inflamado dos contendores.
Espero que a entrevista da Veja desperte a atenção dos leitores para os livros desse autor imprescindível.
A respeito do item 6, convém acrescentar aqui uma informação de que talvez o próprio Scruton não disponha, mas que vem mostrar o quanto ele tem razão. Nos anos 50, grupos globalistas bilionários – os metacapitalistas, como os chamo, aqueles sujeitos que ganharam tanto dinheiro com o capitalismo que agora já não querem mais se submeter às oscilações do mercado e por isso se tornam aliados naturais do estatismo esquerdista – tomaram a iniciativa de contratar algumas dezenas de intelectuais de primeira ordem para que escolhessem a vítima das vítimas, alguém em cuja defesa, em caso de ameaça, a sociedade inteira correria com uma solicitude de mãe, lançando automaticamente sobre todas as objeções possíveis a suspeita de traição à espécie humana. Depois de conjeturar várias hipóteses, os estudiosos chegaram à conclusão de que ninguém se recusaria a lutar em favor da Terra, da Mãe-Natureza. Foi a partir de então que os subsídios começaram a jorrar para os bolsos de ecologistas que se dispusessem a colaborar na construção do mito do planeta ameaçado pela liberdade de mercado. As conclusões daquele estudo foram publicadas sob o título de Report from Iron Mountain – a prova viva de que o salvacionismo planetário é o maior engodo científico de todos os tempos. O escrito foi publicado anonimamente, mas o economista John Kenneth Galbraith, do qual não há razões para duvidar nesse ponto, confirmou a autenticidade do documento ao confessar que ele próprio fizera parte daquele grupo de estudos e ajudara a redigir as conclusões.

Mito: “o brasileiro ingere 5 litros de agrotóxicos por ano”


Por que tantos jornalistas confiam em estatísticas divulgadas por ONGs e ativistas?

Por: Leandro Narloch  
agrotoxico
ONGs de combate ao agronegócio, como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, têm divulgado que “o brasileiro consome 5,2 litros de agrotóxicos por ano”. Jornais, revistas, sites e canais de TV engoliram e publicaram essa informação espantosa. Duas revistas disseram até que o brasileiro “bebe” essa quantidade toda de pesticidas, sem perceber que a estatística é um típico exagero criado por ativistas.
O número de 5,2 litros é resultado da divisão entre o consumo de pesticidas no país e a população. É um cálculo grosseiro, que não leva em conta que:
– Lavouras de exportação, como soja, algodão e milho, utilizam mais da metade dos agrotóxicos do país. Como o Brasil é o maior exportador agrícola depois dos Estados Unidos e da União Europeia, é natural que esteja entre os maiores consumidores de agrotóxicos. Mas daí há um bom caminho até sugerir que todos os produtos são ingeridos pelos brasileiros, pois os alimentos não são consumidos no Brasil.
– Boa parte dos agrotóxicos se destina a proteger plantações que não são de alimentos. Algodão (que exige uso intenso de pesticidas) e cana-de-açúcar são matéria-prima de tecidos e do etanol. Não vão parar na boca dos cidadãos.
– Mesmo no caso de alimentos cultivados com agrotóxicos e consumidos por aqui, é falso afirmar que o brasileiro ingere ou bebe as substâncias. Herbicidas, por exemplo, são aplicados no começo do plantio, bem distante da época de colheita e da parte comestível das plantas. Além disso, um prazo de carência (o tempo entre a última aplicação do produto e a data da colheita) evita que substâncias perigosas terminem no prato dos consumidores. Como diz o engenheiro agrônomo Alfredo José Barreto Luiz, da Embrapa Meio Ambiente:
Esse prazo é calculado para que as substâncias químicas ativas dos agrotóxicos já tenham se transformado em outras (pela ação da temperatura, luz, umidade etc.), restando em quantidade tão reduzida e diluída que não oferece mais perigo.
– A melhor unidade para medir o consumo de agrotóxicos é quilos por hectare, e não litros por habitante. Ao contrário da Europa ou dos Estados Unidos, o Brasil não pode contar com o inverno para exterminar pragas. Sem longos períodos de neve para conter insetos e ervas daninhas, os agricultores brasileiros (e de outros países tropicais) se valem de agrotóxicos. Além disso, podem aproveitar a terra por mais tempo que os países com inverno rigoroso. Isso explicaria porque consumimos tanto desses produtos por aqui. Mas a média brasileira não está tão longe dos países europeus. Segundo o IBGE, cada hectare cultivado do Brasil recebe 6,9 quilos de agrotóxicos. A França gasta 4,6 quilos por hectare; a Holanda, 9,4.
Pode almoçar tranquilo: o brasileiro não ingere 5 litros de agrotóxico por ano.

Como a maconha pode diminuir a miséria do sertão - Por: Leandro Narloch - VEJA.COM


A legalização da droga criaria empregos e prosperidade na região mais pobre do país

epa02310452 A worker tends to cannabis plants at a growing facility for the Tikun Olam company near the northern Israeli town of Safed on 31 August 2010. In conjunction with Israel's Health Ministry, the company currently distributes cannabis or Marijuana for medicinal purposes to over 1,800 people to help relieve pain caused by various health conditions.  EPA/ABIR SULTAN ISRAEL OUT
Plantação legalizada de maconha para remédios, em Israel. EPA/ABIR SULTAN ISRAEL OUT
Harry Browne, político e analista financeiro americano, costuma afirmar que o estado quebra as pernas dos cidadãos só para depois dar muletas a eles e dizer “vejam só, se não fosse o governo, vocês não seriam capazes de andar”.
Isso é especialmente verdade para o sertão nordestino.
Com pouca chuva, muito sol e solo arenoso, o sertão é uma região excelente para o plantio de maconha. Se a droga fosse legalizada, fazendas de maconha renderiam lucros milionários, criariam empregos, aqueceriam a venda de máquinas e fertilizantes e reduziriam a dependência da população ao Bolsa-Família. O Brasil ainda seria um exportador mundial de uma valiosa matéria-prima para fibras, remédios e cigarros.
Mas o próprio governo impede esse desenvolvimento. Como a maconha é proibida, os sertanejos que optam pelo seu cultivo se tornam criminosos. Só no mês passado, uma operação da Polícia Federal no sertão de Pernambuco destruiu 320 mil pés de maconha.
Operações como essa são máquinas perfeitas de pobreza. Desperdiçam recursos escassos do governo (helicópteros e dezenas de policiais) para destruir a riqueza de gente não exatamente endinheirada.
Sem poder cultivar uma das poucas espécies para o qual o sertão é adequado, só resta aos sertanejos se apoiar nas muletas do Bolsa-Família.
@lnarloch

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Olavo de Carvalho e Rodrigo Gurgel: a importância da Oficina de Escrita Criativa



O filósofo Olavo de Carvalho e o crítico literário Rodrigo Gurgel, idealizador da Oficina de Escrita Criativa, conversam sobre os fatores determinantes que levaram à derrocada cultural brasileira, a ausência de pessoas capacitadas a perceber e analisar tais problemas, e também das boas iniciativas que contribuem para a reversão do atual cenário.