sexta-feira, 27 de junho de 2014

MARX E AS ESQUERDAS LATINO AMERICANAS - Rafael Brasil 21.07.2006



MARX E AS ESQUERDAS LATINO AMERICANAS - Rafael Brasil


Como diria um antigo professor, o carrancudo Inácio de Barros Melo, proprietário da faculdade de direito de Olinda: “Tremem em seus túmulos, Olavo Bilac, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco,” diante do português apresentado nas provas por seus alunos. Creio que o velho Marx diria o mesmo das burradas e contradições da nossa velha esquerda, agora alçada ao poder, não só no Brasil, mas em boa parte dos países da América do Sul. Claro, as esquerdas são plurais. A do Chile é diferente, mais digamos, social-democrata. Na Venezuela temos um populismo caricato altamente beneficiado pela deterioração ética da corrupta política local ao longo dos últimos trinta anos. Será que chegaremos lá? Na Argentina, quase todos os atores políticos ainda sobrevivem à sombra do velho peronismo, de direita e de esquerda. Agora temos um de esquerda. E amanhã? Na Bolívia, Evo Morales vem implantando sua política nacionalista, agora ameaçando botar lavradores de soja brasileiros para fora, além claro de espantar os investidores internacionais. No Uruguai, país mais cosmopolita, e tal qual a Argentina, seguidor de modelos europeus, os governantes, pragmaticamente, hoje conversam mais com os EUA, do que com os membros do falido mercosul, que agora teve a adesão da Venezuela. Para enterrá-la de vez, creio, sem pompa nenhuma aliás. Já o Brasil, Lula vem repetindo que nunca foi de esquerda, e a posição de líder esquerdista no continente foi passada para trás por Chávez. Metido em escândalos de corrupção, Lula só não perderá a eleição, pelas políticas clientelísticas que vem mantendo, sobretudo no Nordeste do país, região mais atrasada economicamente. Pobre Marx, se pensasse numa esquerda dependente dos votos das regiões mais atrasadas economicamente, ou seja, das regiões , digamos, pré-capitalistas. A união das esquerdas com as oligarquias, estas as principais beneficiárias das ações estatais, ao longo dos últimos quarenta anos, na região. Para Marx, as forças do capitalismo deveriam destruir impiedosamente as formas tradicionais de mandonismo político, substituindo-as por relações capitalistas, naturalmente mais progressistas. 
Ademais, quem votou mesmo em Morales, foram os camponeses, ligados a produção de coca, de quem o mesmo foi líder. Em Chávez, votaram os pobres da periferia, que aliás não são poucos, dado o caráter excludente do antigo regime. Foram a classe dos sem classe, a quem Marx chamaria de lumpen- proletariado. Ou seja, a grande massa de excluídos, muitas, vítimas históricas de opressões das próprias elites nativas, e nem tanto do imperialismo, como muitos querem ressaltar. Ademais, para justificar nossas falhas, que não são poucas, é melhor acusar os outros, sobretudo os países mais ricos, não? Como todo populismo, estes líderes são caracteristicamente carismáticos, alguns oriundos de classes, ou etnias historicamente oprimidas e extremamente atrasadas economicamente, ex, Lula, Morales e mesmo Chávez. 
Como não estamos mais nos tempos da guerra-fria, felizmente, existem poucas possibilidades de intervenções militares. Com exceção da Venezuela de Chávez, em que o mesmo está tutelando a democracia com o apoio dos militares, restringindo e controlando, não só o poder judiciário, mas também amordaçando a imprensa, e o congresso nacional, boicotado pelas oposições em permanente protesto, todos dizem apoiar a democracia, e lutar para o fortalecimento das instituições. Porém o certo é que, com a falta de resultados mais palpáveis, quais as forças que efetivamente vão cobrir as lacunas do populismo? O mesmo terá grande sobrevida? Pelas experiências históricas, creio que não, mas as elites políticas latino-americanas vão ter que integrar de certa forma as suas maioirias de excluídos. Se não, a descrença na democracia poderá possibilitar num futuro próximo, a volta de regimes autoritários, sejam populistas ou não, esmagando os democratas e socialistas do continente. E, a saída de tudo é indiscutivelmente, a globalização. Uma maior integração com a economia norte-americana, visando seriamente uma unificação, inclusive, mas não somente monetária. Ou seja, uma integração que atingisse em cheio a educação de uma forma geral, como a melhor forma de inclusão possível. 
Seria o processo de uma verdadeira reformulação dos estados nacionais, cortando privilégios, e tornando-os cada vez mais transparentes. Colocar os estados nacionais verdadeiramente a serviço da população, cortando desperdícios, acabando de vez com os patriarcalismos e clientelismos, tão comuns em nossas práticas políticas. Um sonho? Não, uma própria imposição do processo de desenvolvimento das forças produtivas, modernizando-as e integrando-as num mercado cada vez mais globalizado, diria o próprio Marx. Que torceu como uma criança pela vitória do norte capitalista, contra o sul, agrário e escravocrata, quando da guerra da secessão, nos EUA, no fim do século XIX.

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