quarta-feira, 11 de junho de 2014

CHAVISMO E LULISMO – Rafael Brasil - 22.07.2006



CHAVISMO E LULISMO – Rafael Brasil

Além dos comentaristas da imprensa, geralmente abarrotados de pesquisas, com as mais variadas interpretações, assim como existe um chavismo, este organizado a partir de cima, principalmente pelo próprio governo, existe um lulismo aqui no Brasil. Mais espontâneo, vindo das camadas mais baixas, estas beneficiadas com os programas sociais do governo, a grande maioria dos eleitores de Lula nem querem saber do PT. Muitos até têm ojeriza ao partido, como inúmeros amigos meus daqui da região, que nunca foram de esquerda, muitos nem sabem o significado disso, e votam em Lula. Uns até o amam, achando-o permanentemente perseguido pelas elites que sempre combateu. Este tipo de raciocínio está na ponta da língua, desde um simples borracheiro, aos inúmeros milhares de professores universitários que o apóiam. Muitos estão migrando para Heloísa, os desencantados com o PT. Muitos ficam por puro cinismo, afinal, os cargos falam mais alto. A maioria ficará votando em Lula, como devotos de Frei Damião, que num tempo desses votaram noutro pretendente a messias, o Collor, o antigo caçador de marajás.

O chavismo surgiu dos meios militares, Chávez é o coronel que tentou um golpe de estado há um tempo atrás, quando surgiu na arena política, sob os escombros das podres instituições democráticas venezuelanas, corroídas pela corrupção ampla geral e irrestrita. Depois de subir ao poder, logo tratou de fazer um movimento meio proto- fascista, com milhões de militantes, agindo, inclusive violentamente em seu favor. Depois mudou a constituição em seu favor, enquadrando o judiciário, e depois o legislativo, o qual as oposições renunciaram a disputa por absoluta falta de condições. E o pior é que, com décadas de corrupção, o descrédito em política e políticos, tornou difícil a própria renovação dos quadros políticos. E Chávez continua lépido e solto, como quase ditador, e o pior: tentando influir cada vez mais na política latino-americana, aonde, pelo menos nos setores de esquerda, tem milhares de admiradores, desbancando o próprio Lula. E isso montado nos milhões de dólares, proporcionados pela alta do petróleo, cada vez mais constante. E, Dizem, que Chávez está financiando movimentos ditos sociais no Brasil como o MST e congêneres.
Apesar de vender a maior parte do seu petróleo aos EUA, a política externa chavista, é essencialmente anti-Estados Unidos. Se dá muito bem com Fidel, o eterno ditador de Cuba, corteja o fundamentalista Irã, e planeja viajar para a sinistra Coréia do Norte, e antes visitou o Iraque de Saddan. É muito tagarela, e realmente tem feito raiva aos Estados Unidos, que fechou os olhos quando quiseram golpear-lhe, quase com sucesso. 
Com o Brasil, cortejou Lula. Até golpear-lhe, instruindo Morales da Bolívia a rasgar os contratos da Petrobrás, com a nacionalização dos minérios de lá, sobretudo o gás, produto que abastece parte do parque industrial do sudeste. A aposta no gás, deve-se aliás a Fernando Henrique. Diante de proposta semelhante, a de utilizar o gás boliviano, o velho general Geisel, quando presidente, teria retrucado: “E quando os índiozinhos quiserem fechar as torneiras? Vão querer que eu mande o exército?” O gás boliviano vai ficar mais caro, e ficamos isolados pela Argentina, Venezuela e Bolívia. Chile, Uruguai, Peru, e até o Paraguai, vão, aos poucos, fechando seus negócios com os EUA. Afinal, para que estes desorganizados e desunidos do mercosul, se é bastante plausível, manter acordos com o império, sem intermediários? Nós Brasileiros deveríamos sim negociar a Alca, diretamente com os norte-americanos. Mas , como sabemos, deus limitou a inteligência dos homens, só não limitou a burrice. E haja burrice nisso, com países em pandarecos, querendo ser líderes de uma região desgraçada pela miséria, inclusive nos grandes centros mais desenvolvidos, como a Argentina e o Uruguai, o sul , sudeste e centro-oeste do Brasil, e a Venezuela cheia de petróleo. O Chile é um caso à parte, pois desde há muito que eles estão em processo de integração econômica, sobretudo com a costa oeste dos EUA, e os mercados do oriente, mais notadamente o crescente mercado chinês. O Chile exporta frutas, vinhos e cobre, essencialmente. Com o processo de integração econômica e economia ajustada há pelo menos duas décadas, o povo chileno hoje desfruta de uma situação bem melhor do que seus congêneres latino-americanos. Inflação baixa, bom nível de investimentos, boa educação, menos pobreza e desemprego.
Aqui no Brasil, creio que não seria possível Lula dar um golpe. Os militares não deixariam, pois muitos não seriam comandados por um caudilho. Também por aqui, as oposições estão fortes, e temos um regular nível de participação política do povo, embora precisamos muito em mudar nesse aspecto. E, além do mais, o presidente segue a política econômica do governo anterior, pois, depois de duas eleições perdidas, Lula chegou a conclusão que estabilidade econômica é um dos pilares da democracia. Menos mal. E o conservadorismo, não só nacional, mas planetário, tecem loas a seu mais novo aliado. Justamente àquele que ,melhor sabe enrolar a plebe, com pão e circo. Se não foi possível o circo, com a desclassificação do Brasil na copa, mandam o pão do bolsa família, pois, com tanta miséria, milhões fazem muito proveito. E tudo isso custa uma ninharia, diante do ganho dos banqueiros, coisa de sete bilhões...de reais. Viram como a plebe se contenta com pouco?


 Escrito por Rafael Brasil às 16h20

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