sexta-feira, 6 de junho de 2014

MEDIOCRIDADE E SENSO COMUM – Rafael Brasil - TEXTO ESCRITO EM 13.06.2006


MEDIOCRIDADE E SENSO COMUM – Rafael Brasil 

Lá pelos idos dos setenta, século XX, o discurso de oposição ao regime militar era nacionalista, do ponto de vista econômico. Uma afronta ao nacionalismo dos militares, que, até Geisel, estatizaram o quanto puderam. Figueiredo significou o desmanche, aliás planejado do regime, embora a desconfiança dos militares com políticos como Brizola e Arraes, fossem mais que latentes. E Figueiredo, não era nenhum liberal, diga-se de passagem. 
Pelos discursos da oposição, inclusive os classificados pelas esquerdas como liberais, a maioria, parece-me que não era nem um pouquinho liberal. Ademais, o discurso privatista neo-liberal, só iria sensibilizar corações e mentes depois do advento de Margareth Teatcher, a chamada dama de ferro britânica, e Ronald Reagan, nos anos oitenta. Antes, nem se falava nessas coisas, e bradava-se de norte a sul do país, que, o nosso mal maior seriam as empresas multinacionais. “Que, diariamente, tiravam o sangue da nossa nação, juntamente com o governo norte-americano”, que, evidentemente, por questões estratégicas, preferiam engolir, como engoliram o nacionalismo dos militares. Quando engoliram Geisel e seu acordo nuclear com a Alemanha, acordo que deu muito lucro aos alemães na época. O discurso contra as multinacionais, animava os comícios de norte a sul do país. Ulysses Guimarães, Paulo Brossad, Franco Montoro, Orestes Quércia, Marcos Freire, Tancredo Neves, Thales Ramalho, isto sem falar nas esquerdas tradicionais afastadas do jogo político, desde a década de quarenta, e militando no então MDB, todos mantinham esse mesmo discurso, que pela idiotice intrínseca, caiu por desuso, com um certo tempo é claro. Porém, mesmo depois de derrubado o muro de Berlin, os nacionalistas ainda estão com a corda toda, com um discurso anti-imperialista e um nacionalismo de dar dor de barriga. Claro agora não criticam diretamente as multinacionais, que pagam regiamente seus impostos, na nossa complicada rede tributária, e empregam muitas pessoas. Agora, pelo menos nos discursos, a coisa melhorou muito. Até as esquerdas mais tradicionais admitem atrair empresas estrangeiras, embora muitos ainda torçam o nariz por isso.
O senso comum caracteriza-se, digamos, por conceitos e preconceitos emitidos numa determinada época histórica pelo populacho, tomando às vezes ares de dogma. É como afirmar que, a principal causa da violência é social. Esta afirmação, repetida milhares de vezes por milhões de idiotas de plantão, sociólogos de mesa de bar, e alhures, criminaliza a pobreza. Não me consta que o estado do Piauí seja o mais violento do país, por ser o mais pobre. O que faz crescer a violência é, essencialmente, a impunidade. Menos de um por cento dos crimes são solucionados , com o sucateamento , desorganização, e corrupção das polícias, e a lentidão do judiciário, só para ficarmos nestes exemplos. Além é claro, de uma certa cultura urbana que glamouriza, digamos, a marginalidade. Não me costa também que países bem mais pobres do que o nosso, os índices de violência sejam maiores. Aqui, mata-se nos bares, cinemas e estádios de futebol, com uma naturalidade, digamos, franciscana. Um horror!
Bem diria o saudoso Paulo Francis, que a voz do povo é a voz da imbecilidade. Quase nenhum sociólogo , destes de mesa de bar, admite, mas o povo também tem culpa no cartório, pois também, como as elites, é bem safadinho, digamos assim. Votam por dinheiro, e nalgumas regiões, por uma dentadura, ou um par de chinelos, ou mesmo uma camisa. Com dois milhões se elege um deputado estadual. Quatro para federal, dependendo é claro o estado da federação. Muita gente que vai à igreja toda semana, compra peças de carro roubadas, costuma dar propinas, e acha perfeitamente natural uma corrupçãozinha. E, sabemos, que, quem rouba um tostão, rouba um milhão, diria meu avô, o velho carrancudo Fausto Souto Maior.
Por essas e outras, estamos sendo governados por um torneiro mecânico, que todo mundo sabe que prevaricou, colocando na cúpula governamental mais de quarenta ladrões comprovados, e ainda posa de honesto. Que queria amordaçar a imprensa, e procurou todo o tempo abafar as CPI,s instaladas no congresso que investigavam sua falcatruas mil. O senso comum diz que é conspiração de elites, ou mesmo, se todos roubam, deixa o lulinha, que é agora o eternamente paz e amor, roubar também. Ademais, esse é um governo que realmente nunca se viu neste país. Amém.

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