quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Vítima inocente - MIRIAM LEITÃO

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Vítima inocente

A reorganização das contas públicas, com o aumento do superávit primário, já tem uma vítima em potencial: o investimento. Ele deve cair porque o governo terá que cortar gastos e subir impostos. Os juros também estão em ciclo de alta e as nossas empresas vão encontrar financiamentos mais caros. Isso vai se somar a um cenário de baixa confiança e à crise que ronda a Petrobras e as grandes empreiteiras.
O investimento no Brasil é baixo quando comparado a outros emergentes. A Colômbia investe 30% do PIB; o México, 23%, só para citar dois exemplos. O Brasil terminou o terceiro trimestre com a taxa em 17,4%, a menor para o período nos últimos oito anos.
— O próximo ano será de investimento fraco. A taxa no governo federal, que em 2014 vai ficar em torno de 1,2% do PIB, deve cair para algo perto de 0,9% em 2015. A queda só não será mais forte porque o investimento já vem caindo há anos — explica Armando Castelar, coordenador do Ibre/FGV.
O baixo crescimento da economia reduz a margem de manobra da nova equipe econômica para colocar as contas em ordem. As receitas estão mais fracas. O Brasil vai fechar o ano com crescimento perto de zero e, na projeção de Castelar, déficit primário de 0,3%. A saída será aumentar a arrecadação. Na proposta do Orçamento de 2015, o governo projeta arrecadar R$ 100 bilhões a mais. Isso vai tirar recursos do setor privado.
Em 2011, quando o governo aumentou o superávit de 2,7% para 3,1% do PIB, a taxa de investimento do governo federal caiu de 1,2% para 0,9%. Rafael Bistafa, economista da Rosenberg Associados, conta que o Orçamento federal oferece pouco espaço para cortes. Fora dos gastos obrigatórios, sobra o investimento.
Três de nossas grandes empresas também enfrentam problemas particulares. A Petrobras frequenta as páginas policiais, teve a nota de crédito rebaixada e seu fluxo de caixa está enfraquecido. A Vale anunciou semana passada que vai investir 26% a menos em 2015, resultado da queda de 41% na cotação do minério de ferro no ano. Já a Eletrobrás acumula prejuízos de R$ 15 bi desde 2012.
O superávit primário combate a inflação, aumenta a taxa de poupança e diminui o risco de rebaixamento da dívida brasileira. Tem vários efeitos benéficos. Mas o ideal é que ele suba sem sacrificar investimentos.

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