Visão liberal-conservadora sobre o nazismo
O nazismo, nome abreviado do nacional-socialismo (Nationalsozialismus) entrou para a História como o mal-em-si. Revistas de variedades publicam quase trimestralmente artigos de especialistas se perguntando “como foi possível que Adolf Hitler existisse”.
O vocabulário popular, e sobretudo sua manipulação por formadores de opinião, força ofensas, associando todos os inimigos de sua opinião ao nazismo (sobretudo os que se ofendem com tal associação, por rejeitarem mortalmente o nazismo).
Da visão do vulgo (moldada por especialistas tarimbados em moldar visões) aos livros acadêmicos, o nazismo é interpretado como um fenômeno de intolerância e de ódio, com um apreço pela supremacia racista e um culto à morte de todos os rejeitados. O nazismo seria a concretização do projeto de poder pessoal de Adolf Hitler em busca de uma sociedade conservadora e oposta aos ideais de libertação do homem do Iluminismo.
Nada mais longe da realidade.
O nazismo não existiu por causa de Adolf Hitler. Adolf Hitler existiu por causa do nazismo.
O mundo enfrentou duas grandes tragédias no século XX: o nacional-socialismo e o socialismo internacional. E o mundo enfrenta uma grande tragédia no século XXI, além da ascensão do totalitarismo islâmico em busca do califado mundial: acreditar que o nacional-socialismo é lixo orgânico, e que o socialismo internacional é lixo reciclável.
O nacional-socialismo deixou um legado de quase 30 milhões de mortes em menos de 5 anos, em tempos de guerra. O socialismo internacional legou uma montanha de cerca de 150 milhões de mortes em tempos de paz. Muitas vezes, em menos tempo, mas com alguns períodos que deixariam os campos de concentração nazistas com inveja, como o Khmer Vermelho de Pol-Pot, que assassinou 24% da população do Camboja em questão de 4 anos. Sem guerra.
Tal não aconteceu porque Hitler e Pol-Pot são pessoas psicopatas, que tomaram um sistema de governo e o tornaram em algo vil, assassinando quem se opusesse às suas vontades – como geralmente tais homens são retratados quando se tornam personagens da ficção e da historiografia acadêmica (ainda que a psicopatia e o poder estejam intimamente ligados, como mostra o estudo Ponerologia: psicopatas no poder, do psiquiatra Andrzej Łobaczewski).
Os genocídios em escala industrial do século XX acontecem porque há um sistema que transforma o Estado em uma máquina de “correção” da sociedade, em busca de um “mundo ideal” mais igualitário – e, como define o exímio pensador Kuehnelt-Leddihn, árduo estudioso do nazismo, a igualdade, não sendo natural, exige força para ser conquistada socialmente.
Não é, portanto, a infância e a índole de Adolf Hitler ou a situação da República de Weimar – nem tampouco o resultado da Primeira Guerra para a Alemanha – que explicam Auschwitz.
Como não o são o gênio indomável de Lenin, Trotsky e Stalin que explicam o horror do Holodomor, do Gulag e dos Grandes Expurgos socialistas: é o modelo de poder buscado por tais pessoas para erigir uma nova sociedade, em um movimento revolucionário contínuo para “corrigir” o passado e se livrar de preconceitos, desigualdade, exploração – para tal, mandando para a vala comum aqueles que julgam serem preconceituosos, desiguais, exploradores.
Há tempos já não se estuda História de fato, e sim historiografia – a saber, chaves de interpretação de fatos históricos sob uma perspectiva ideológica específica. A situação se complica quando as chaves de interpretação se tornam elas próprias tentativas de atuação na história atual e, para tal, falsificam o passado com vias a explicar todos os fenômenos por sua própria clave.
Tal se dá tanto com defensores do fascismo e do nacional-socialismo e sua tentativa de recriar a Roma gloriosa (como Ezra Pound e Wyndham Lewis, para ficar em homens de gênio, que tornam passado e presente opostos e usam a beleza do primeiro para sabotar e destruir a variedade do segundo) quanto com os defensores do socialismo internacional e sua busca pelo “bom selvagem” – tornando-se este próprio socialismo na “ciência historiográfica” que interpreta para o público qualquer fenômeno histórico segundo seu próprio cabresto.
Com tal poder de interpretação acreditada, o socialismo, que até cumpriu um pacto de não-agressão com o nazismo contra a “Inglaterra imperialista” nos auspícios da Segunda Guerra, é visto como oposto ao nacional-socialismo, quando na verdade são variações locais do mesmo fenômeno socialista – como há variações nacionalistas do socialismo da Internacional Comunista (Comintern) no socialismo juche da Coréia do Norte (posteriormente copiado por Ceaușescu na Romênia), no eixo Camboja-Vietnã (enxergado como “vítima do imperialismo estadunidense”) ou o primeiro, na Iugoslávia do marechal Josip Tito.
Para tal, a grande propaganda historiográfica, que hoje é acreditada por qualquer universitário ou profissional dos fenômenos públicos, é a de que o socialismo é uma “traição” do “socialismo real” de Karl Marx (invertendo-se o sentido dos termos, pois o que existe é o socialismo real, e o que não existe é o socialismo ideal).
O socialismo seria a “extrema-esquerda”, enquanto o nacional-socialismo teria “socialismo” no nome apenas por acidente de batismo, e, para ser associado com os inimigos do socialismo, foi chamado a posteriori de “extrema-direita” – tentando forçar uma associação com uma versão ainda mais “forte” dos ideais de Tocqueville e Burke, de Coleridge e de Maistre, de Rivarol e Disraeli, de Santayana e Oakeshott – notadamente, os maiores inimigos de ambos os socialismos.
Com efeito, é muito fácil encontrar semelhanças entre a União Soviética de Stalin e a Alemanha nazista de Hitler (que nunca se definiu como “extrema-direita” ou “direita”, e sim como socialista) do que entre o nazismo e o liberalismo de Churchill, Thatcher, Reagan ou mesmo Adenauer. Tampouco o socialismo real pode ser considerado “traição” eterna, “sendo traído” onde quer que seja aplicado: como bem o diz o filósofo conservador Roger Scruton, o socialismo não deu errado. O socialismo é errado.
É exatamente por esta confusão, bem planejada por manejadores de opinião pública (seja o stalinista Eric Hobsbawm, seja o “revisionista histórico” neonazi Robert Faurisson, que não por outro motivo publicava seus artigos no jornal mais esquerdista da Europa, o Le Monde), que muitas pessoas que estudam apenas omainstream acadêmico, a propaganda totalitária travestida de ciência, se assustam quando alguém afirma que o nazismo é, na verdade, uma modalidade enviesada não da “extrema-direita”, e sim justamente daesquerda revolucionária anti-conservadora, e que busca reconstruir a sociedade desde a raiz. Não à toa, o argumento de tais pessoas é sempre “vai estudar”, fechando-se ainda mais no casulo da propaganda.
O perigo para o presente e futuro é infinitamente maior do que as palavras permitem descrever. Se o socialismo do século XXI não tem Gulag e o sindicalismo ainda é aceito como método político, não significa que a ameaça de um “nazismo 2.0” é nula. E, definitivamente, ela não vem dos chamados grupos “neonazistas”, minoritários e desacreditados, justamente por também crerem que o nazismo só existe com uma ressurreição de Adolf Hitler.
A verdadeira ameaça fascista vem da inversão dos fatos, que trata o nazismo como “intolerância à divergência” e incapacidade de viver com o próximo, e crê que ele é o mesmo que conservadorismo – a um só tempo em que prega a atuação estatal para “corrigir” a sociedade dos “intolerantes”, escolhidos a dedo a cada mudança da moda (o que conservadores, defensores de um Estado hiper controlado e restrito, nunca aceitaram).
As vítimas do nazismo não foram os pobres e oprimidos, nem os supostos tolerantes nas mãos de intolerantes. O judeu, o povo mais perseguido da Terra, era considerado o “rico”, o “explorador”, o que causava “desigualdade” diante do “povo” alemão, “trabalhador” e “operário”. O judeu, comerciante, banqueiro, “burguês”, era o “coxinha” da época. O mesmo que o kulak para o socialista – embora tal termo não seja conhecido no Brasil, que da História conhece apenas o próprio revisionismo socialista.
Não é à toa que a esquerda mundial, que costuma associar todos os seus inimigos ao ”nazismo”, seja a principal força no mundo a odiar Israel – mais até do que muitos muçulmanos.
Para construir uma sociedade mais igualitária, fosse pela classe (a “burguesia” dos socialistas), fosse pela etnia (a “impureza judia no sangue ariano” dos nacional-socialistas), foi preciso apelar para a solução final das câmaras de gás e dos Expurgos. Não foi, como se pensa, uma obra de “conservadores” e “ultrapassados” buscando acabar com os oprimidos: desde a Revolução Francesa, o sacrifício é obra dos progressistas, e as vítimas são os supostos “exploradores”.
Para povos cultos como o alemão e o russo, mesmo que fossem pobres na época, aceitarem um genocídio que deixa as proporções bíblicas e homéricas parecerem infinitesimais, foi preciso um intenso trabalho dos formadores de opinião tratando esta “velha ordem”, estes “conservadores”, estes “exploradores”, estes “bem-nascidos” como não-pessoas, como “poderosos” contra os quais qualquer violência estaria automaticamente justificada em busca de um mundo novo, sem injustiças e governados por um Estado que controlasse os empregos dos “trabalhadores”, através de partidos trabalhistas, benesses e controle econômico para aqueles que aceitassem o planejamento central do governo social.
É bastante preocupante notar que justamente as pessoas que mais criticam acertadamente o nazismo pelo seu horror sejam aquelas que mais trabalhem para dividir as pessoas em “merecedoras” ou “ultrapassadas” de participação na existência, que notem “oprimidos” que devem se voltar contra supostos “opressores”, que mais querem uma força estatal toda-poderosa para “corrigir” a sociedade e se livrar de pessoas “conservadoras”, para as quais não haverá espaço no mundo do porvir.
Este foi o primeiro passo para que o nazismo de Hitler pudesse algum dia ter apoio popular. Na época dele, os socialistas faziam o pacto de Molotov–Ribbentrop com os nazistas contra um inimigo comum. Hoje, a esquerda odeia Israel e relativiza todos os crimes anti-semitas de terroristas muçulmanos com a mesma sem-cerimônia.
Ou existe direitista pedindo o fim do Estado de Israel, como lemos na Carta Capital, ou relativizando crimes anti-semitas de terroristas muçulmanos, como boa parte da esquerda mundial faz?
Tags: Flavio Morgenstern, Hitler, nazismo
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