sexta-feira, 6 de junho de 2014

RECORDAR É VIVER - ARTIGO DE 21.06.2006 - COISAS DA HISTÓRIA – Rafael Brasil


COISAS DA HISTÓRIA – Rafael Brasil 

Lembro-me de um trecho de uma música, se não me engano de Pablo Milanez, compositor cubano pró-Fidel, interpretada por Milton Nascimento e Chico Buarque, que dizia: “...A história é um carro alegre/ cheio do povo contente/ que atropela indiferente/todo àquele que a nega...achava linda essa passagem. Sobretudo, porque, segundo um marxismo extremamente estruturalista, muito em voga nos anos cinqüenta, e ainda admirado por muitos idiotas da objetividade nos anos oitenta, as estruturas econômicas seriam inexoráveis. O indivíduo, nada. Segundo Plekhânov, se enfim, não existisse Napoleão, a história aconteceria do mesmo jeito, ou quase o mesmo. O mesmo poderíamos dizer com Lênin, Stálin, ou mesmo Hitler.
Pensando em termos de estruturas,econômicas, políticas, sociais e ideológicas, Hitler seria apenas a reação da direita, com medo de perder o poder para a nascente classe operária revolucionária, sujeito coletivo histórico da síntese marxista da história da luta de classes. Com o socialismo, a classe operária prepararia o caminho para o comunismo, através da ditadura do proletariado. Nada mais lógico. Segundo esta visão, com Stálin, a União Soviética consolidaria sua industrialização e a reforma agrária nos anos trinta, num salto econômico mais do que formidável. Os quinze, ou vinte milhões de vítimas do stalinismo, seja de morte matada, seja por morte de fome, seria apenas um triste e simples detalhe. Que tal? 
Diante de tal positivismo, a história reage, com a estagnação econômica da então União Soviética, já em meados dos anos sessenta, quando o ocidente capitalista e o Japão revolucionam a produtividade, para logo depois inventar a informática, e a INTERNET. Contrariando a visão dos historiadores , cientistas sociais e políticos de plantão, das mais variadas tendências, o então todo poderoso império, ruiria, como um castelo de cartas. De podre, diga-se de passagem, permitindo a última revolução democrática do mundo, com a libertação dos países sob a hegemonia soviética, na Europa Oriental.
A imprevisibilidade da história faz parte, digamos da normalidade histórica. A maior previsibilidade na História é a própria imprevisibilidade, diria Hannah Arendt filósofa política judia/alemã. Para ela, o imprevisível, é o verdadeiro milagre. Milagre do surgimento da vida na terra, da vida inteligente, da pluralidade e da alteridade, características básicas da chamada condição humana.
Diferentemente das outras ciências sociais, a história não se constitui na busca de padronizações, mas de singularidades. Para o próprio Marx, a história não se repete. Nessa busca de singularidades, a história é , digamos, a base das ciências humanas e sociais. Sem o necessário diálogo com nossas experiências passadas, perdemos nossas identidades, nada somos.
Vivemos num país desmemoriado, digamos assim. A ignorância das nossas elites é estarrecedora, apesar de alguns avanços. A cada dia que passa, nossa memória vem sendo apagada das mais diversas formas. A história que ademais, não é um carro alegre cheio de um povo contente, mas uma série de fatos, muitos deles trágicos, que são, digamos desvendados nas múltiplas visões dos historiadores, e nas mais diversas formas. É a pluralidade histórica, digamos assim, refletindo a pluralidade das experiências humanas ao longo do tempo, enriquecendo nosso passado e nosso presente.
Afinal, quem previra, o impedimento de Collor, a ascensão de Fernando Henrique, e a corrupção do governo Lula, só para ficarmos nestes exemplos?

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