sexta-feira, 27 de junho de 2014

Judeus, Cristãos e Muçulmanos Rafael Brasil - 06.10.2001

Judeus, Cristãos e Muçulmanos
Rafael Brasil

Uma das consequências mais graves do atentado terrorista contra os EUA, será, talvez, a demonização, pela mídia, dos povos, e das culturas muçulmanas. Mais especialmente, dos muçulmanos árabes. Ainda mais agora, que os falcões da direita e extrema direita parecem tomar conta da cena política. Ainda mais que, como sabemos, antes os demônios eram os comunistas, mais especialmente os russos. Depois da queda do muro de Berlim, os árabes já tinham sido eleitos como a encarnação do mal. Agora, depois dos tristes acontecimentos do fatídico 11 de setembro, as coisas evidentemente vão piorar. Imaginem vocês ser árabe e muçulmano e morar nos EUA neste momento. As perseguições e humilhações. Vejo nos jornais árabes perseguidos e até apedrejados nas ruas. Cenas horríveis, ainda mais quando conhecemos o tradicional racismo do povo americano, sobretudo dos brancos de origem anglo-saxã.

Já no Brasil, árabes, judeus e demais povos das mais variadas nacionalidades, convivem harmoniosamente há muito tempo, se destacando nas artes, na política, no comércio e nas finanças. Na literatura brasileira, mais especialmente de Jorge Amado, sempre tem um "turco" no pedaço. Falem o que quiser do Brasil, mas felizmente não temos guerras étnicas ou religiosas. Talvez a ortodoxia das religiões amoleçam nestas latitudes tropicais, e felizmente tudo acabe em festa. Claro, aqui por estas bandas existe preconceito racial, e sobretudo preconceito social. Nossas desigualdades sociais são vergonhosas, e nosso sistema judiciário e de segurança está em frangalhos. Mas Não temos problema étnicos ou religiosos comparáveis aos europeus e mesmo norte-americanos. Graças a Deus.
Portanto, demonizar a cultura árabe e muçulmana, não vale. Ainda mais que a Península Ibérica floresceu durante sete séculos, sob a dominação árabe. Que, diferentemente dos cristãos da época, eram tolerantes em relação à religião. Os conquistadores muçulmanos, cobravam mesmo os tributos, e claro, a obediência. Do século VIII, ao século XV os muçulmanos tiveram uma marcante influência sobre os portugueses e espanhóis. Povos pioneiros no processo de expansão marítima, comercial e de pirataria, sobre povos, de vastas regiões desconhecidas. Por isso, sem sabermos, somos um pouquinho árabes. Ou não? Expulsos os árabes, ficaram os judeus até a inquisição. Compunham a nata da inteligência peninsular, pois, cidadãos urbanos, pertenciam aos mais diversos setores do comércio e das finanças, e, claro, das classes inferiores, os excluídos da história. Quando foram expulsos pelos cristãos católicos da contra-reforma, migraram para os países baixos, para a Inglaterra, e depois, claro, para os Estados Unidos.
Os judeus foram implacavelmente perseguidos pelos cristãos, ao longo da história. Cristãos, que perseguiram implacavelmente os povos e as culturas indígenas nas américas, exterminando e dizimando populações e culturas inteiras. Não só os cristãos católicos, diga-se de passagem. Os cristãos protestantes da América do Norte, nem se misturavam aos índios. Matava-os como passarinhos, fria a implacavelmente. Pior do que na América católica.
O cristianismo, de certa forma, origina-se do judaísmo. Uma história sagrada que começa com a criação, e a existência de um setor de homens, a quem Deus ama particularmente. Para os judeus, eles próprios, os escolhidos. Para os cristãos, os convertidos. Para quem não sabe, nós cristãos, conservamos parte da lei hebráica, como o decálogo. E o Velho Testamento, da nossa bíblia, é judaico. Como os cristãos e judeus, os muçulmanos são monoteístas. Para eles, alá é o Deus, Maomé o profeta, o alcorão a bíblia, o livro sagrado. Desde a Hégira, a emigração de Maomé de Meca para Medina, em 622 d.c, que a religião e a cultura muçulmanas, avançam. Islã, quer dizer submissão do homem a deus. Àquele que tem fé em Alá é denominado muçulmano. Por isso, de certa forma, todos somos um pouco muçulmanos. Ou não?
Então, é preciso ter muito cuidado com a xenofobia fundamentalista norte-americana, que tantos males causou para toda a humanidade. Infelizmente, a xenofobia, irmã dos fundamentalismos, político, ideológico e religioso, deve ser combatida pelos democratas e socialistas do mundo inteiro. Senão, como no Apocalipse, entraremos todos na era das trevas. Que Alá nos proteja.

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