terça-feira, 28 de junho de 2016

O RECADO DO ESTADO ISLÂMICO - Flavio Morgenstern

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Leitor, há uma coisa tão chocante, estarrecedora e impensada que convido-o antes a tomar um dedo de conhaque e vestir um capacete ou se agarrar a algo bem pesado antes de ler tal verdade. O risco é alto e isso vai virar do avesso tudo o que você pensa sobre o mundo. É o seguinte: o Estado Islâmico não gosta de você.
Sério. Não gosta. Talvez você possa pensar que ele, assim, a depender das circunstâncias, quem sabe acabe até gostando de você. Mas ele não gosta e não vai gostar.
“Ah, mas eu votei no Jean Wyllys e não gosto do Bolsonaro!” Cara, eu sei que é chocante, mas é provável que o Estado Islâmico passe a gostar ainda menos de você por isso. Não sei se você fisgou a extremamente complexa, avançada, difícil, arcana e danbrowniana lógica aqui.
“Mas eu sou contra o Trump!” Então, meu chapa, mas se você é ateu, curte happy hour com cerveja, come bisteca, usa relógio no braço esquerdo, é pró-aborto, é pró-casamento gay, não reza voltado para Meca 5 vezes por dia, não pratica a jihad, não mata cristãos, judeus, ateus, esquerdistas, direitistas, xiitas e aqueles sunitas que não aceitam o califado, então há uma leve chance de que o Estado Islâmico ainda assim continue não indo muito lá com a sua cara de bolacha.
refugees-welcome-gayPorque o único motivo pro Estado Islâmico (ou melhor: para os muçulmanos) preferirem os Democratas aos Republicanos é que os primeiros compram essa ladainha de “Welcome, Refugees!” Só. Tão somente isso. Ou acha que muçulmanos adoram casamento gay, feminismo, banheiro transgênero, Planned Parenthood, aborto, marxismo, ateísmo, sex lib, “não ensine as mulheres a usar roupas longas, ensine os homens a não estuprar”? Não, camarada: muçulmano só apóia a esquerda pra chegar no Ocidente sem resistência, com todo ocidental desarmado. Só. . Depois de chegar aqui, é shari’ah, burca, proibir biquini, apedrejar estuprada por ter feito sexo fora do casamento.
O Estado Islâmico te odeia, cara. “Ah, mas eu sou #refugeeswelcome e prego tolerância e diversidade!” Eles só vão adorar você deixá-los ficarem mais perto de você para te matarem depois. “Ah, mas eu li Orientalismo de Edward Said e agora acho que judeus são nazistas e sou a favor da causa palestina!” Então, companheiro, isso aí não te vale nem a honra de morrer por último. “Ah, mas eu sou a favor do diálogo e da tolerância e da coexistência!” Pois é, criatura, eles ainda não vão querer andar com você na hora do recreio. Volte à lição número 1.
Chocante, não é? Contrário a tudo o que você pensa. Algo tão longe do óbvio que só é possível falar cochichando, escondido, nas frinchas da clandestinidade. Não diga nunca isso alto: os intelectuais da USP, os especialistas da Globo News, a Dilma Rousseff, o Barack Obama, a esquerda mundial, a isentosfera – pra não falar do movimento LGBT. Esse aí vai ter uma síncope se descobrir.
isis-stonewall-orlandoUm membro do Estado Islâmico nesta semana entrou numa boate gay em Orlando com uma Sig Sauer MCX Carbine, abriu fogo geral, matou 49 pessoas e deixou dezenas de outras feridas. Antes de entrar na boate gay, o terrorista, Omar Siddiqui Mateen, ligou para a polícia para jurar lealdade ao Estado Islâmico. A arma, que não é um AR-15, foi comprada com background check, o controle que vendedores de armas fazem com a polícia, para não vender armas para suspeitos de crimes. Mesmo Omar Mateen sendo um investigado, o FBI não fez nada, pela política de evitar grandes investigações contra muçulmanos (ver o imprescindível artigo de Elise Cooper, Who Is to Blame for the Latest Terror Attack?, no American Thinker).
O Estado Islâmico não é apenas um grupo terrorista: é um califado (ler nosso artigo O Estado Islâmico é um Estado? É islâmico? para entender o que ninguém entendeu). É salafismo: uma versão ultra-ortodoxa do islam, seguindo à risca os mandamentos de Maomé. Se pratica o que hoje chamamos de “terrorismo” é só pelo método: o que promove de fato é a jihad, a guerra santa contra infiéis, para enfraquecer os inimigos e, posteriormente, dominar suas cidades e países e subjugá-los à shari’ah.
Terrorismo, nas palavras de Lenin, é propaganda armada. Se há a propaganda convidativa (do “Bom dia, gostaria de ser Testemunha de Jeová?” até os comerciais do Super Bowl), também há a propaganda que ameaça. A idéia de que ou você se converte, ou você morre. O Estado Islâmico cresce incrivelmente quando não apanha militarmente, o que mostra o peso e valor deste tipo de convite ao califado muçulmano.
world-trade-center-attackEm outras palavras, os assassinatos do Estado Islâmico, ao contrário, por exemplo, de boa parte dos atentados do Hamas ou do H’zbollah, querem significar algo, até mesmo simbolicamente. Quando a al-Qaeda derrubou o World Trade Center, não queria apenas matar com precisão cirúrgica exatamente aquelas pessoas que matou: queria uma marca na história a na geografia do Ocidente, uma nódoa gigantesca num grande símbolo do capitalismo. E conseguiu.
Se Hobsbawm definiu o século XX como tendo começado com a Primeira Guerra e terminado com a queda do Muro de Berlim, o século XXI começou mais cedo, com o atentado às Torres Gêmeas. É propaganda armada: o Ocidente, do dia para a noite, passou a se preocupar com o islamismo. E o islamismo só cresceu no mundo e no Ocidente desde então.
Quando um jihadista muçulmano, salafista e leal ao califado do Estado Islâmico, vai até um dos outros principais símbolos do capitalismo, a Disneyland, e, depois de desistir de enfrentar o armamento dos seguranças, abre fogo contra uma boate gay, talvez, talvez, talvez o recado, o significado, a mensagem que o Estado Islâmico queira passar seja: “Nós não gostamos muito de vocês, ocidentais. E, enquanto seus líderes buscam diálogo e dizem que não somos islâmicos, estamos seguindo a lei islâmica ipsis litteris e, a propósito, entre os ocidentais que gostamos menos, encontram-se estes gays, pervertidos que arderão no inferno!”
Alguém entendeu o recado? Eles não gostam da gente. Eles não gostam de gays. Porque (segurem-se nas cadeiras) ele é islâmico.
Aí, o que faz a esquerda progressista, a esquerda socialista, a esquerda pró-Palestina, a esquerda “Uhuuuu, refugiados, que amor! Pura diversidade!”?
O Levante Popular da Juventude (sic), aquele do “Sou do Levante, tô com Maduro” (ditador que negocia com todo escol de grupo terrorista islâmico), faz um protesto contra… a Igreja Católica, na Catedral da Sé, em São Paulo. Como se ela tivesse alguma coisa a ver com um muçulmano (turma defendida pelo Levante) matando gays, seguindo o Corão.

Os partidos do Levante (o Popular, não o Levante do Oriente Médio, que o Estado Islâmico considera seu território), mormente PCdoB e PT, por desastrosa coincidência, são os mesmíssimos que aparecem com bandeiras da Palestina, pró-imigração muçulmana (a famosa hijrah islâmica) e criticando Israel, que até possui Parada Gay, tratando como vítimas coitadinhas todos os países muçulmanos da região e do mundo.
Só faltaram enfiar o dedo na cara de Dom Odilo Sherer e gritar: “Nós somos contra o califado!!”, puxando-o peço pescoço. Seria a demonstração non plus ultra do pensamento de esquerda sobre o mundo.
levante-popular-se
Belos, recatados e do lar.
O Estado Islâmico quer explicar umas coisas para essas pessoas. Que, por exemplo, o islamismo não gosta deles. No Corão, a grande cidade representativa do mal no mundo, espécie de Sodoma ou Gomorrah, é Roma, justamente com sua Santa Sé. É contra ela que muçulmanos matam gays, considerando que a Igreja Católica os protege e é impura por seu materialismo (sic) e hábitos não-islâmico. Hoje comumente a “Grande Roma” é interpretada como sendo os Estados Unidos da América.
Claro, isso exigiria estudo, o que Levante Popular da Juventude, Hillary Clinton, New York Times, petistas, Folha de S. Paulo, feministas, comentaristas de telejornais, membros do Orgulho LGBT e defensores da causa Palestina (se podem ser diferenciados um do outro) nunca farão.
levante-popular-se2Mas… será que não dá pra entender essa obviedade nem se o Estado Islâmico atira gays de prédios, filma e põe no Youtube para amedrontar o Ocidente? (será que querem amedrontar católicos heterossexuais com isso?) Será que não dá pra perceber que o Estado Islâmico mata por causa do islamismo, e não de braços dados com a religião cristã, nem quando grita“Allahu akbar!” ([Meu] Deus é melhor [do que o seu])?
Qual a dificuldade em perceber que não foi “a homofobia”, essa com RG e CPF, que entrou numa loja, comprou um fuzil, ligou para a polícia dizendo “Meu nome é Homofobia Siddiqui Mateen, e juro fidelidade ao Estado Islâmico! Alá é o melhor, mas também Jesus Cristo consubstanciado na hóstia!” e saiu matando gays em nome de Maomé e Jesus para transformar a América numa teocracia.
Não, caceta. Ou devo ir agora pintar o arco-íris num templo budista para demonstrar meu repúdio ao crime em Orlando? Que tal gritar contra os Seicho-no-ie por não aprovarem o casamento gay? Qual será a serventia de sitiar uma sinagoga em desprezo ao cara do Estado Islâmico? Que tal a recusa ao jihadismo pichando um terreiro de umbanda? E a rejeição à Sra. Homofobia Anwar Malik Radhwa num centro espírita ou numa seita do Santo Daime?
Será que esse povo assim nem cogitou descer no Brás, duas estações de metrô depois, e fazer a tal manifestação numa porra duma mesquita?!

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