


Leitor, há uma coisa tão chocante, estarrecedora e impensada que convido-o antes a tomar um dedo de conhaque e vestir um capacete ou se agarrar a algo bem pesado antes de ler tal verdade. O risco é alto e isso vai virar do avesso tudo o que você pensa sobre o mundo. É o seguinte: o Estado Islâmico não gosta de você.
Sério. Não gosta. Talvez você possa pensar que ele, assim, a depender das circunstâncias, quem sabe acabe até gostando de você. Mas ele não gosta e não vai gostar.
“Ah, mas eu votei no Jean Wyllys e não gosto do Bolsonaro!” Cara, eu sei que é chocante, mas é provável que o Estado Islâmico passe a gostar ainda menos de você por isso. Não sei se você fisgou a extremamente complexa, avançada, difícil, arcana e danbrowniana lógica aqui.
“Mas eu sou contra o Trump!” Então, meu chapa, mas se você é ateu, curte happy hour com cerveja, come bisteca, usa relógio no braço esquerdo, é pró-aborto, é pró-casamento gay, não reza voltado para Meca 5 vezes por dia, não pratica a jihad, não mata cristãos, judeus, ateus, esquerdistas, direitistas, xiitas e aqueles sunitas que não aceitam o califado, então há uma leve chance de que o Estado Islâmico ainda assim continue não indo muito lá com a sua cara de bolacha.

O Estado Islâmico te odeia, cara. “Ah, mas eu sou #refugeeswelcome e prego tolerância e diversidade!” Eles só vão adorar você deixá-los ficarem mais perto de você para te matarem depois. “Ah, mas eu li Orientalismo de Edward Said e agora acho que judeus são nazistas e sou a favor da causa palestina!” Então, companheiro, isso aí não te vale nem a honra de morrer por último. “Ah, mas eu sou a favor do diálogo e da tolerância e da coexistência!” Pois é, criatura, eles ainda não vão querer andar com você na hora do recreio. Volte à lição número 1.
Chocante, não é? Contrário a tudo o que você pensa. Algo tão longe do óbvio que só é possível falar cochichando, escondido, nas frinchas da clandestinidade. Não diga nunca isso alto: os intelectuais da USP, os especialistas da Globo News, a Dilma Rousseff, o Barack Obama, a esquerda mundial, a isentosfera – pra não falar do movimento LGBT. Esse aí vai ter uma síncope se descobrir.

O Estado Islâmico não é apenas um grupo terrorista: é um califado (ler nosso artigo O Estado Islâmico é um Estado? É islâmico? para entender o que ninguém entendeu). É salafismo: uma versão ultra-ortodoxa do islam, seguindo à risca os mandamentos de Maomé. Se pratica o que hoje chamamos de “terrorismo” é só pelo método: o que promove de fato é a jihad, a guerra santa contra infiéis, para enfraquecer os inimigos e, posteriormente, dominar suas cidades e países e subjugá-los à shari’ah.
Terrorismo, nas palavras de Lenin, é propaganda armada. Se há a propaganda convidativa (do “Bom dia, gostaria de ser Testemunha de Jeová?” até os comerciais do Super Bowl), também há a propaganda que ameaça. A idéia de que ou você se converte, ou você morre. O Estado Islâmico cresce incrivelmente quando não apanha militarmente, o que mostra o peso e valor deste tipo de convite ao califado muçulmano.

Se Hobsbawm definiu o século XX como tendo começado com a Primeira Guerra e terminado com a queda do Muro de Berlim, o século XXI começou mais cedo, com o atentado às Torres Gêmeas. É propaganda armada: o Ocidente, do dia para a noite, passou a se preocupar com o islamismo. E o islamismo só cresceu no mundo e no Ocidente desde então.
Quando um jihadista muçulmano, salafista e leal ao califado do Estado Islâmico, vai até um dos outros principais símbolos do capitalismo, a Disneyland, e, depois de desistir de enfrentar o armamento dos seguranças, abre fogo contra uma boate gay, talvez, talvez, talvez o recado, o significado, a mensagem que o Estado Islâmico queira passar seja: “Nós não gostamos muito de vocês, ocidentais. E, enquanto seus líderes buscam diálogo e dizem que não somos islâmicos, estamos seguindo a lei islâmica ipsis litteris e, a propósito, entre os ocidentais que gostamos menos, encontram-se estes gays, pervertidos que arderão no inferno!”
Alguém entendeu o recado? Eles não gostam da gente. Eles não gostam de gays. Porque (segurem-se nas cadeiras) ele é islâmico.
Aí, o que faz a esquerda progressista, a esquerda socialista, a esquerda pró-Palestina, a esquerda “Uhuuuu, refugiados, que amor! Pura diversidade!”?
O Levante Popular da Juventude (sic), aquele do “Sou do Levante, tô com Maduro” (ditador que negocia com todo escol de grupo terrorista islâmico), faz um protesto contra… a Igreja Católica, na Catedral da Sé, em São Paulo. Como se ela tivesse alguma coisa a ver com um muçulmano (turma defendida pelo Levante) matando gays, seguindo o Corão.
Os partidos do Levante (o Popular, não o Levante do Oriente Médio, que o Estado Islâmico considera seu território), mormente PCdoB e PT, por desastrosa coincidência, são os mesmíssimos que aparecem com bandeiras da Palestina, pró-imigração muçulmana (a famosa hijrah islâmica) e criticando Israel, que até possui Parada Gay, tratando como vítimas coitadinhas todos os países muçulmanos da região e do mundo.
Só faltaram enfiar o dedo na cara de Dom Odilo Sherer e gritar: “Nós somos contra o califado!!”, puxando-o peço pescoço. Seria a demonstração non plus ultra do pensamento de esquerda sobre o mundo.

Belos, recatados e do lar.
O Estado Islâmico quer explicar umas coisas para essas pessoas. Que, por exemplo, o islamismo não gosta deles. No Corão, a grande cidade representativa do mal no mundo, espécie de Sodoma ou Gomorrah, é Roma, justamente com sua Santa Sé. É contra ela que muçulmanos matam gays, considerando que a Igreja Católica os protege e é impura por seu materialismo (sic) e hábitos não-islâmico. Hoje comumente a “Grande Roma” é interpretada como sendo os Estados Unidos da América.
Claro, isso exigiria estudo, o que Levante Popular da Juventude, Hillary Clinton, New York Times, petistas, Folha de S. Paulo, feministas, comentaristas de telejornais, membros do Orgulho LGBT e defensores da causa Palestina (se podem ser diferenciados um do outro) nunca farão.

Qual a dificuldade em perceber que não foi “a homofobia”, essa com RG e CPF, que entrou numa loja, comprou um fuzil, ligou para a polícia dizendo “Meu nome é Homofobia Siddiqui Mateen, e juro fidelidade ao Estado Islâmico! Alá é o melhor, mas também Jesus Cristo consubstanciado na hóstia!” e saiu matando gays em nome de Maomé e Jesus para transformar a América numa teocracia.
Não, caceta. Ou devo ir agora pintar o arco-íris num templo budista para demonstrar meu repúdio ao crime em Orlando? Que tal gritar contra os Seicho-no-ie por não aprovarem o casamento gay? Qual será a serventia de sitiar uma sinagoga em desprezo ao cara do Estado Islâmico? Que tal a recusa ao jihadismo pichando um terreiro de umbanda? E a rejeição à Sra. Homofobia Anwar Malik Radhwa num centro espírita ou numa seita do Santo Daime?
Será que esse povo assim nem cogitou descer no Brás, duas estações de metrô depois, e fazer a tal manifestação numa porra duma mesquita?!
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