quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Geopolítica do petróleo (Arábia Saudita & Irã) - POR CAIO BLINDER


Ali al-Naimi, o ministro do Petróleo da Arábia Saudita, em Viena, na reunião da OPEP na semana passada
Ali al-Naimi, o ministro do Petróleo da Arábia Saudita, na reunião da OPEP na semana passada
Em coluna no começo da semana, eu trouxe os dados mostrando que o impacto de uma queda dos preços do barril do petróleo diverge entre os produtores, mesmo entre aqueles altamente (ou completamente) dependente das exportações. E as diferenças acentuam a disputa geopolítica entre dois integrantes essenciais do cartel da OPEP, a Arábia Saudita e o Irã.
Aliada estratégico dos EUA, a Arábia Saudita aguenta o tranco de preços relativamente baixos do barril, na faixa dos 70 dólares ou até menos. O Wall Street Journal revela que os sauditas e os pequenos países produtores do Golfo Pérsico estimam que toleram algo como 60 dólares, com os preços se estabilizando neste patamar nos próximos meses. É verdade que esta postura de testar preços mais baixos também está relacionada ao objetivo de tornar menos atraentes outras fontes e outros métodos de extração, que, ironicamente estão por cima nos nos EUA, como xisto e fraturação hidráulica.
Já o Irã está no bloco do sufoco, como a Venezuela. Apenas para equilibrar seu orçamento, os governos de Teerã e de Caracas precisam do barril do petróleo cotado a 136 dólares, conforme cálculos feitos pelo FMI em outubro. O drama iraniano aumenta devido às sanções internacionais impostas para punir seu programa nuclear (daí a urgência por um acordo nuclear para que as sanções sejam derrubadas) e também à disputa do regime xiita de Teerã com a sunita Arábia Saudita por hegemonia no Oriente Médio.
A Rússia, próxima do regime iraniano, também é alvo de sanções (americanas e europeias) por sua agressão na Ucrânia e está no sufoco com a baixa dos preços do petróleo. No cálculo do FMI, precisa do preço do barril em 101 dólares para equilibrar o orçamento.
Os sauditas são mestres no uso do preço do petróleo como arma econômica e diplomática. Um caso histórico foi a quadruplicação dos preços engatilihada pelo embargo das exportacões orquestrado por Riad em resposta à Guerra do Yom Kippur. Há 40 anos, o alvo era Israel. Hoje, para os sauditas, é o Irã.
Mesmo com a competição econômica no jogo petrolífero, os sauditas dão uma mão geopolítica aos americanos. Petróleo a preço mais baixo pode dobrar o Irã na frente nuclear e amansar o urso Putin na Ucrânia (e por extensão na Síria, onde o ditador Bashar Assad depende do Irã e da Rússia). Claro que os dois países feridos com a baixa dos preços do petróleo podem ficar ainda mais enfurecidos e não mais mansos.  No entanto, a aposta americana mais forte é que com a ajuda do aliado saudita existem maiores possiblidades de enquadrar Moscou e Teerã.
A jogada representa riscos também para os sauditas. Afinal, eles se acostumaram à mamata de altos preços do petróleo. As receitas de sua exportação são vitais para financiar gastos públicos e, muito importante, gastos sociais para enquadrar a população.

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