sábado, 19 de abril de 2014

COLUNAS - REINALDO AZEVEDO E MERVAL PEREIRA


sexta-feira, abril 18, 2014


O voto e a casa da mãe Dilmona - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 18/04

Só no Brasil o assalto ao bem público promovido pelo estatismo se tornou uma categoria de resistência


Vamos lá, leitor, exercitar um pouquinho de "pessimismo de combate"? É aquele que levou Carlos Drummond de Andrade a escrever que "lutar com palavras/ é a luta mais vã/ entanto lutamos/ mal rompe a manhã". Na quarta, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou relatório de Roberto Requião (PMDB-PR) proibindo a doação de empresas privadas a campanhas eleitorais. Segundo o senador, aceitá-la corresponderia a acatar a "legitimidade da influência do poder econômico no processo eleitoral e, por consequência, no resultado das eleições". Com muito mais fru-fru, glacê e gongorismo igualitarista, é o que pensa o ministro Roberto Barroso, do STF. Já há uma maioria no tribunal que vai por aí. Se a tese prosperar, o processo eleitoral ficará menos dependente do capital privado e mais dependente da... Petrobras!

A política brasileira, com frequência, é uma piada macabra com lances de chanchada. Não é surpreendente que um país com tantos recursos e com características demográficas e de formação social que constituiriam janelas de oportunidades ofereça a amplas maiorias uma vida tão ruim, tão insegura, tão sem perspectiva.

A sociologia, da mais preconceituosa à mais ambiciosamente iluminista, pode ilustrar a melancolia e as "vastas solidões" (Joaquim Nabuco) em que transita o pensamento em Banânia, mas não as explica. A trilha persistente do atraso remete mesmo a uma palavrinha fora de moda, cujo sentido tanto a direita como a esquerda tentaram e têm tentado esvaziar: ideologia. Não há nada de errado com o clima. Não há nada de errado com o povo. Não há nada de errado com a história --todas as nações têm a sua, e o passado, visto à luz das conquistas morais do presente, nunca é meritório. Catastróficos por aqui são os valores que explicam a realidade e que, em larga medida, buscam substituí-la.

O que é aquilo na fala de Requião? Ele jamais vai entender que sonhos de justiça corromperam e mataram mais do que o capital. Talvez tenham salvado mais também. Não são termos permutáveis. Pensem na casa da mãe Dilmona em que se transformou a Petrobras. Parece evidente que Paulo Roberto Costa, o ex-diretor que está em cana, usava, sim, a empresa em proveito próprio, mas fazia também a corretagem a serviço de partidos. Só um idiota ou um rematado canalha (ou ambos num só) não reconhecem que, se a Petrobras fosse uma empresa privada, pagaria menos pelos serviços que contrata porque não seria preciso pagar o "Imposto Corrupção".

Venham cá: por que um partido político faz tanta questão de ter a diretoria de uma estatal? Para que suas teses sobre refino de petróleo ou hidrologia triunfem sobre as de seus rivais? Trata-se de uma luta de cavalheiros? Disputam as estatais para alimentar a República dos Ladrões. É cru, eu sei, mas é assim. E Requião, Barroso e outros sábios decidiram que a doação legal de campanha é que faz mal à democracia brasileira.

A disputa sobre mais Estado ou menos na economia e na sociedade não é nova, mas só no Brasil o assalto ao bem público promovido pelo estatismo se transformou numa categoria de resistência dos "oprimidos". Basta ver a tecla na qual petistas e congêneres decidiram bater: criticar a bandalheira na estatal seria falta de amor pelo Brasil. Samuel Johnson disse que o patriotismo é o último refúgio de um canalha porque não conheceu nossos ladrões.

O PT concorda com Requião e com Barroso. O partido enviou uma mensagem aos filiados, no dia 14, cobrando o apoio a uma emenda de "iniciativa popular" que institui o financiamento público exclusivo de campanha e o voto em lista fechada. O objetivo, está lá, é "fazer do PT o protagonista da grande e necessária reforma, que certamente mudará os rumos das eleições em nosso país". Considerando que o PT venceu as três últimas e é o primeiro partido da Câmara e o segundo do Senado, "mudar o rumo das eleições" deve implicar torná-las ociosas. Afinal, o Petróleo é nosso, mas a Petrobras é deles.

Mudança de ventos - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 18/04
Há dois pontos novos a se destacar nesta pesquisa Ibope divulgada ontem. O mais relevante para a disputa presidencial é que pela primeira vez a soma de nulos e brancos com não sabe empata com as intenções de votos de Dilma ou fica ligeiramente abaixo, a depender do cenário. A presidente continua líder e vencendo no primeiro turno.
Outro destaque da pesquisa é que não apenas a presidente Dilma está caindo na preferência dos eleitores - de 40% para 37% -, mas também o ex-presidente Lula, quando apresentado como opção a ela, cai para 42%, quando já teve até 55% dos votos. A má notícia para Dilma é compensada por essa má notícia para Lula.

Embora se mantenha como franco favorito quando surge como candidato, Lula já está praticamente empatado tecnicamente com a presidente Dilma, o que pode indicar que o que está decaindo no gosto popular é a maneira petista de governar.

Certamente terá contribuído para o desgaste do PT o acúmulo de notícias ruins dos últimos dias, como a crise na Petrobras e o caso da ligação do deputado André Vargas com um doleiro preso. O mensalão continua sendo um processo desgastante para o partido, e as denúncias de novas corrupções só reforçam essa faceta, doze anos depois de o PT chegar ao poder.

Mas a insatisfação com a situação econômica também está refletida na pesquisa. A desaprovação ao governo já é maior que a aprovação (48% a 47%), um indicador clássico de tendência de queda de votação. A avaliação negativa subiu de 27% para 30%, aproximando-se do nível de julho de 2013, durante as manifestações populares, quando o índice foi de 31%.

Há ainda um dado preocupante a mais: já são maioria (51%) os que não confiam na presidente Dilma. As maiores quedas de Dilma ocorreram entre eleitores jovens (8 pontos entre quem tem de 25 a 34 anos), nas cidades médias (11 pontos nos municípios entre 20 mil e 100 mil habitantes), na Região Sul (6 pontos).

Não é possível tecnicamente comparar pesquisas de institutos diferentes, mas a tendência de queda da popularidade da presidente Dilma, que se reflete em perda de votação, está registrada em todas as pesquisas divulgadas recentemente.

A pesquisa Ibope foi feita entre os dias 10 e 14 de abril, e pesquisas anteriores de institutos como o Datafolha já mostravam sua queda para o mesmo patamar. A divulgação quase concomitante das pesquisas Ibope e Vox Populi dá a sensação de que refletem o mesmo momento, mas elas têm vários dias de diferença.

O Instituto Vox Populi, que faz pesquisas para o PT e para a revista Carta Capital , colocou Dilma na casa dos 40%, dentro da margem de erro, embora tenha divulgado seu levantamento só onze dias após sua realização.

A pesquisa do Ibope tem o mérito de dar tranquilidade aos candidatos principais, embora todos tenham com o que se preocupar. A presidente Dilma continua na frente e vencendo no primeiro turno, e o fantasma do volta Lula vai se extinguindo à medida que também o ex-presidente cai na preferência do eleitor. Mais do que ninguém, Lula deve estar atento a essa tendência. Mas a diferença de Dilma para os adversários está diminuindo a cada pesquisa, o que indica a possibilidade forte de haver um segundo turno.

Quando Marina Silva é colocada em lugar de Eduardo Campos na pesquisa, a alteração, embora grande - de 6% para 10% -, não chega a afetar o resultado final, não justificando, portanto, uma mudança brusca de cabeça de chapa. O candidato mais estável é o do PSDB, senador Aécio Neves, que se mantém com 14% quando a pesquisa inclui todos os nanicos, e fica com 16% quando apenas os três principais candidatos aparecem na lista. A essa altura não há ninguém dentro do partido que possa lhe fazer frente.

A tendência de queda dos candidatos do PT, e o crescimento dos que não se sentem representados pelos seus concorrentes na disputa, mostram que os adversários de Dilma terão que convencer os eleitores de que são opções válidas para esse desejo de reformulação geral que mais uma vez aparece na pesquisa. Nada menos que 62% dos eleitores querem mudanças com outro presidente no lugar de Dilma, e somente entre 24% e 29%, dependendo da lista apresentada, escolheu seu candidato entre os adversários de Dilma.

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