Após de causarem no Jô e no Pânico, Esther Solano e Willian Novaes chamaram atenção com seu livro sobre black blocs. É pior do que se pensa.
Esther Solano, Bruno Paes Manso e Willian Novaes causaram um frisson nessas semanas apresentando seu livro sobre black blocs: Mascarados: A verdadeira história dos adeptos da tática black bloc. Sobretudo após se desentenderem com Jô Soares no Programa do Jô e com Carioca no Programa Pânico, mostrando que baixaria os acompanha onde quer que vão.
Como eu mesmo escrevi um livro sobre o movimento de massa brasileiro que teve seu auge físico em junho de 2013 (mas é anterior e continua acontecendo), também falando de black blocs (Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs, as manifestações que tomaram as ruas do Brasil), e como já havia lido o livro dos três autores, muitos me pediram para comentar os autores.
Odeio textos em primeira pessoa, mas preciso falar em primeira pessoa para falar do que odeio, e para tal empreitada. Desculpem-me. Sobretudo, desculpem-me o tema: algo assim só vale não pelo conteúdo em si, mas como contra-exemplo de como está a situação de mentalidade e de pesquisa, jornalismo e academia no Brasil. No mais, vale para dar umas risadas no processo de diagnóstico.
Quando o livro de Esther Solano e sua trupe foi lançado, o meu estava em revisão final com a editora Record. Já havia lido milhares (vários milhares) de páginas de livros opostos ao meu ponto de vista, citando-os às mancheias em meu próprio cartapácio.
Despiciendo dizer que minhas opiniões são também diametralmente opostas às do Trio Parada Dura. Mas não foi por isso que eu li, estudei e citei livros de pessoas radicais de quem discordo radicalmente, uma camarilha variando do stalinista Slavoj Žižek ao black blocker Francis Dupuis-Déri – mas não citei uma linha sequer de Esther Solano, Willian Novaes e Bruno Paes Manso.
Alguns livros dos quais discordo valeram para serem criticados, ou para explicar o que pensa a esquerda citando-os como fonte direta. O livrinho sobre black blocs dos três, ao contrário, é muito ruim. O pior de todos que li a respeito. Simplesmente porque não é um livro com pesquisa (isso de que tanto se jactam de terem feito): é o livro que menos sabe a respeito sobre o assunto de que falam.
A famosa Lei de Rothbard: acadêmicos se especializam naquilo em que são piores. Talvez Esther Solano, Bruno Paes Manso e Willian Novaes entendam muito de vinhos caros. Ou de Angry Birds. Ou talvez de mecânica de fluídos. Talvez tudo isso sem “pesquisa” nenhuma. Mas, mergulhando fundo na esterilidade desértica do academês, aquela linguagem que ao invés de produzir conhecimento, produz documentos (e livros e papers lidos apenas por quem quer criar novos livros e papers), o que inventaram de “pesquisar” na vida é o que menos entenderam.
Novamente, frise-se, não é por que eu discordo dos autores politicamente. O livro do MPL, por exemplo (20 Centavos: A luta contra o aumento, com o líder do movimento sem líderes Marcelo Pomar e o professor da USP Pablo Ortellado, um dos principais nomes das ocupações de escolas, do MPL e da nova esquerda de revolução 2.0 no Brasil), tem uma ideologia política ainda mais radical do que a do triozinho. Mas ao menos é um livro que sabe do que está falando.
É um livro que conta como o MPL é um coletivo “transpartidário” (embora se venda como “apartidário”), e até tem informações inéditas – foi a única fonte que encontrei que conta, por exemplo, que no dia 6 de junho de 2013, na primeira manifestação que geraria aquela quizomba, o MPL tinha uma reunião marcada na prefeitura de São Paulo, talvez com ninguém menos do que Fernando Haddad. Por isso, faz sua primeira arruaça na frente da prefeitura, num teatrinho que deixou Haddad assistindo tudo sem reação de seu próprio gabinete:
Apostando na estratégica clássica (sic) do Passe Livre, a manifestação passa rapidamente pelo prédio da prefeitura em direção ao Vale do Anhangabaú e dali à Avenida 23 de maio, uma das principais vias expressas da cidade. (p. 29)
Apenas quem leu tal livro (ou o meu, onde dedurei a artimanha) ficou sabendo da mentira que foram posteriormente os gritos do MPL de que “faltava diálogo” com a prefeitura, sendo que antes de tudo recusaram uma reunião para resolver o problema de junho de 2013 em 10 minutos de conversa civilizada.
Solano, Novaes e Paes Manso não trazem nenhuma informação nova. É difícil saber o que alguém poderia aprender sobre black blocs após suas 287 páginas e surpreendentes quatro referências bibliográficas, para mostrar como pesquisa é mesmo o forte desses três autores. Meu livro possui 29 páginas elencando referências. Talvez Esther Solano queira discutir “dados” e bater no peito dizendo: “Eu sou pesquisadora!” para se eximir de argumentar ao falar comigo, como tentou fazer com Carioca no Pânico. Fica o convite.
Foi o que eu já havia denunciado em um post na minha página no Facebook de agosto de 2015, quando justamente Solano e Ortellado eram as fontes que Mônica Bergamo (aquela que ninguém no jornalismo chama de esquerdista, muito menos de radical) usou para mapear negativamente as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff. Diga-se, Esther Solano não cansou de repetir que foi à Paulista mapear “quem pedia golpe militar”. Todos os 0,01%, que xingavam e eram xingados pelo restante do povo.
A tal pesquisa da tal pesquisadora
O livro “Mascarados”, com seu subtítulo pretensioso “A verdade história dos adeptos da tática black bloc”, é dividido em quatro partes. Cada um dos autores mostra sua “pesquisa” e, por fim, há uma entrevista com o Coronel da PM Reynaldo Simões Rossi.
Esther Solano, ladies first, enrola (como nos dois programas) para afirmar se defende ou não black blocs. Afinal, “é pesquisadora”, portanto, é “imparcial”. Como ralha contra Carioca no Pânico, “eu tenho um lado como indivíduo, não como pesquisadora. Você realmente não entendeu isso? Essa limitação?”. Depois de muito enrolar, murmura que não concorda com a tática black bloc e, por alguma superstição edimacediana, tem fé que consegue disfarçar de alguém com QI acima do de Paulo Henrique Amorim qual a sua posição política (o que seria o mesmo que dizer o que defende, mas teria o agravante da honestidade).
Sua retórica é malemolente como gelatina em terremoto. Por exemplo, afirma no Pânico e no Jô que foi “desconstruir” e “desmistificar” a visão que as pessoas tinham sobre black blocs. No Pânico, tenta desqualificar Carioca, ao lado de Willian Novaes, afirmando que as pessoas acham que os blockers são riquinhos.
Curiosamente, no seu próprio livro, afirma que seu senso comum lhe “dizia que o Black Bloc estaria composto só por pessoas daquela periferia mais excluída, mais pobre, a periferia negra” e, na linguagem típica do academês esquerdista, que adora misturar o concreto com o abstrato para dar a impressão de ter percebido algo profundo, que é “acostumada a se relacionar, ou forçadas (sic) a conviver com as violências estruturais do país, e cuja resposta seria, de forma natural, outro tipo de violência” (p. 47).
É o problema de quem tenta ser “chocante”, contar “a verdadeira história” que ninguém conhece: não percebe que é justamente o último a ser informado. Alguém aí, que não é pesquisador, inclusive os leitores de manchete que tanto criticamos, por acaso não sabe que há diversas faixas sociais juntas num black bloc? Waaaaw. Quando Solano percebe que, justamente ao contrário de sua própria visão preconceituosa, todos já estão mais bem informados do que ela, se sai dizendo que foi “desconstruir” justamente o contrário (que nem todos os blockers eram ricos). Cara eu ganho, coroa você perde.
Não é a única contradição nos primeiros 15 minutos de programa com o seu próprio livro (que exige que alguém tenha lido antes de ousar falar com ela). Willian Novaes diz que raros blockers são de faculdades públicas, que black blocs não se formam em movimentos estudantis de faculdades públicas como a USP. Talvez ele devesse corrigir sua colega, que escreveu o capítulo “Quem são eles? Do Capão Redondo à USP”.
Com os típicos jogos de palavras como “Embate no lugar de debate” (já debateu com um black bloc?), toda a sua “pesquisa” é citar fontes como Brasil de Fato (sua própria entrevista) e Carta Capital para descobrir que:
1) O black bloc é feito para chamar atenção da mídia, que não prestaria atenção neles sem isso;
2) Que sua violência é um teatro-espetáculo, o que é decorrência de 1);
3) Que é um “revide”, porque violência dos “vândalos” não seria diferente da violência de, por exemplo, um banco cobrar juro por um empréstimo (sempre a confusão entre abstrato e concreto, já quea esquerda domina apenas o imaginário coletivo, temperada com uma dose cavalar de ignorância econômica, que a pesquisadora não pesquisou);
4) Que, decorrência de 3), “a sociedade” é que é violenta, ao chamá-los de vândalos.
Há esquerdistas que, analisando o fenômeno dos novos movimentos de massa, da esquerda 2.0, chegam a novas conclusões. É o caso, por exemplo, de Fábio Malini e Henrique Antoun, em @ internet e #rua, dois organizadores dos “protestos sem organizadores”, que escrevem o único livro da esquerda que deve ser lido pela direita se quiser ter informações sobre o mapeamento digital, a agitação pelas redes, o histórico e as mudanças desde as rodadas de Seattle e o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), com explicações das complexas filosofias de Antonio Negri e Pierre Levy para a internet e a revolução pela multidão nas ruas. O livro é tão mal escrito quanto uma poça de vômito de uma sopa de letrinhas, mas, novamente, são dois autores que sabem do que estão falando.
Não é o caso de Esther Solano, que, grossa, antipática, arrogante, mal educada e dona de uma ironiazinha tosca com uma empáfia de quem quer viver de título para esconder um argumento medíocre, escreve páginas e páginas (daquelas começando com “Um ano depois da minha primeira manifestação como pesquisadora da tática Black Bloc, estou escrevendo estas páginas”) apenas para repetir, de diversas maneiras, a narrativa mofada e repetida do vitimismo da esquerda: de que, mesmo que o conhecimento político sobre anarquia dos maloqueiros que se vestem de preto para quebrar coisas aleatoriamente seja mais primitivo do que a noção de educação dos grandiosos “pesquisadores”, eles têm uma mensagem política a passar (não, diga, pesquisadora! não tinha reparado naquele “A” de anarquia gigante na cara deles!). Ah! E são os excluídos da sociedade.
Algo que alguém não soubesse que fosse sair da boca de qualquer blocker se perguntado por que está revoltadinho com o capitalismo e quebrando lojas, bancos de jornal, prédios públicos, agências bancárias e concessionárias pela cidade? São quase 150 páginas com esses clichês. Não servem nem para serem criticadas, como fiz com tantos outros livros em meu próprio.
O pior ainda é a aura de “pesquisa factual” que são simplesmente externalizações de seus sentimentos ao verem manifestações. Dá para ver Esther Solano com a revista Capricho na mão há uns 20 anos. Nada sobre as conseqüências políticas, um comparativo com outros movimentos de massa, uma análise do modelo, fosse política, econômica, moral etc. Nada. Apenas “Querido diário, hoje eu acordei e ainda estou pensando na manifestação de ontem, que hor-ror”.
Compare-se, por exemplo, com dois livros de radicais de extremíssima-esquerda lançados pela Boitempo, a editora mais comunista do país. Um é Occupy: Movimentos de protesto que tomaram as ruas, e outro Cidades Rebeldes: Passe livre e as manifestaçõesq que tomaram as ruas do Brasil. Nenhum dos dois precisa ser lido (tudo já dedurei no meu livro), mas note a coordenação entre um livro lançado em 2012 (dois mil e doze), com comunistas revolucionários do jaez de Slavoj Žižek, David Harvey, Tariq Ali, Mike Davis e Vladimir Safatle analisando como espalhar o movimento Occupy, inclusive com brasileiros no fracassado “Ocupa Sampa” palestrando sobre como criar uma versão brasileira do movimento (primeira dica: descartar os acampamentos, que destruíram o original). Logo depois, um livro curiosamente bem mais fraco, analisando os acertos e falhas de junho de 2013 (neste caso, estão bem mais perdidos).
Em suma: gente que lidera os “movimentos sem líderes”, que coordena aquilo que é “horizontal” (o que os americanos chamam de astroturfing), que analisa dos Anonymous aos black blocs, do Occupy Wall Street ao MPL, em uma variedade de aspectos. Gente que sabe do que está falando e tem informações que não teríamos sem os ler. Já Esther Solano tem como grande “pesquisa” conversar com blockers adolescentes falando que sofrem, e dizer que é a única a ter ouvido sua voz.
O pesquisador playboy
Uma pena que Bruno Paes Manso, o segundo autor do livro, não tenha ido no Pânico. Para quem escreve “a verdadeira história dos black blocs”, sua parte no livro é a mais legal. Afinal, Bruno Paes Manso não fala exatamente de black blocs. Fala de si próprio.
Lá, gastamos um tempo de vida brutal que poderia ser aproveitado praticando pesca de quermesse ou yawn pong em umas 20 e poucas páginas para dizer que Bruno Paes Manso era um rico, que viveu isso e aquilo, que foi descobrir como pobre pensa ouvindo Racionais MC’s. E depois, páginas e páginas de como foi cobrir os protestos que envolveriam black blocs e de como ficou surpreso com tudo aquilo e que a violência da qual sempre esteve protegido por sua riqueza ficou escancarada.
E conclui com um parágrafo com a seguinte passagem:
As cidades precisam melhorar sua qualidade de vida. Não aguentamos mais shopping center. Devemos aprender a conviver com as diferenças, abandonar os carros, andar de bicicleta. Junho me ensinou que, mesmo depois dos quarenta, não é possível se acomodar quando nos dirigimos ladeira abaixo. Conviver com novas ideias e novas gerações inconformadas foi revigorante. Salve Mano Brown, MPL, Criolo e quem mais estiver disposto a compreender a alma atormentada de São Paulo, para transformá-la. São Paulo precisa de mais amor (…). (p. 187)
Viu o que é “pesquisar”? Qquer apostar quanto que ele odeia o termo universal “esquerda caviar”? Precisamos mesmo é transformar São Paulo numa cidade do Paleolítico inferior.
Ah, nada sobre “a verdade sobre black blocs” ficou claro ainda? Que tal essa pérola para quem escreve um livro “revelador” da Ver-Da-Dei-Ra história dos black blocs, depois de um confronto na Avenida Paulista?
De fato, eu não pertencia àquela geração que, como jornalista, eu precisaria compreender. Antes de partir, já depois da meia-noite, eu pedi um cigarro, depois de dois anos sem fumar. Acendi. “Respirei muito gás. Um cigarrinho não vai fazer mal.” No dia 13 de junho de 2013, voltei a fumar. Muita coisa havia mudado. Quero voltar a largar o cigarro em breve. (p. 169)
Descobriu agora a “verdadeira história dos black blocs”? Se não, pelo menos já conhece a verdadeira história de Bruno Paes Manso. O homem que só descobriu que pobre existe depois dos 30 anos.
Você traiu o movimento punk, véio!
Já Willian Novaes se ocupa das entrevistas do livro, na terceira parte. É, de novo, a “pesquisa de campo”, já que ler um livro antes de escrever um, como vimos, é coisa de somenos importância. Como ensina seu colega Bruno Paes Manso, se você tem um mistério diante de si que não consegue decifrar, ao invés de pesquisar, basta escrever um livro revelando “a verdadeira história” dizendo que não tá entendendo lhufas.
É Willian Novaes quem xinga Carioca, no Pânico, de “louco”, e depois que Carioca rebate, solta várias injúrias. Sua coleguinha Esther Solano passa o restante do programa afirmando coisas como “temos alguns tipos de debate empobrecidos, como aqui é o caso do Carioca”, “é uma pequenês” ou “não respeito seus insultos, respeito a sua opinião”. Não se sabe se respeita os insultos de Willian Novaes.
Logo no começo do Pânico, Carioca afirma, como comentamos, que vários blockers são “playboys, filhinhos de papai”. Esther Solano, cujo único cacoete é se afirmar pesquisadora, responde “vamos voltar aos dados, e não à especulação”, dizendo que “é difícil, viu” conversar com quem não “pesquisou dados” como ela própria.
Bem, os dados são dados (!) pelo próprio Willian Novaes, na terceira entrevista do livro, à página 209. Novaes fala de um rapaz à época com 33 anos, dono de seis negócios, aristocrata das famílias Ortiz e Bartira, com tatuagens incluindo um dístico de Santo Agostinho em latim no peito que mora na riquíssima Avenida Nove de Julho. É o black blocker conhecido por Barão.
O discurso pobrista e vitimista e “você não estudou” dos autores do livro só se sustenta mesmo com quem não leu seu próprio livro. Afinal, a fonte para mostrar como eles estão errados são… eles mesmos, que tanto falaram em “dados”.
Ah, o Barão, o blocker que Willian Novaes finge que não existe para tentar desqualificar o que Carioca já sabia que existia. O Barão não vai pro confronto, óbvio: prefere financiar os blockers pobres para serem bucha de canhão e os peões do seu anarquismo (paga por advogados etc). Prefere… bem… ehrr…
[Barão] Lembra das suas ações diretas individuais, de “desapropriação”. “Quando vou ao supermercado, sempre pego algo escondido. E no banco roubo uma revista. Também, quando a máquina engole o meu cartão, dou vários murros. Precisamos parar de ser omissos.” É, ainda falta muito para os objetivos concretos de Barão serem alcançados. (p. 217)
Entendeu a “verdadeira história dos black blocs” que Willian Novaes tem a revelar agora?
Tem lá também umas entrevistas com mulheres. Algumas páginas depois de Bruno Paes Manso jurar de pés juntos, sem prova nenhuma, que Fábio Hideki, famoso blocker uspiano, foi preso e levou uma sessão de socos (se Hideki diz…) por ser um líder black blocker, “sendo que o black bloc nem tem líderes”, está lá o pimpão Willian Novaes falando da blocker Mana: “ao redor da estação Carrão do Metrô, na zona Leste de São Paulo, vimos a garota de cabelos vermelhos liderando os Black Blocs” (p. 231).
Ué…
“Todos ouviam e obedeciam aos gritos estridentes da garota de cerca de cinquenta e três quilos”. O capítulo inteiro é uma descrição de como a blocker Mana manda nos manos, ordenando que atirem pedras na PM quando inventam de fugir, pegando microfone para “comandar um ato pela liberdade de dois jovens presos pela Polícia Civil” etc.
Depois de relatos e mais relatos mostrando o problema fundamental da maioria (pais ausentes), não entendemos como tais pesquisadores tarimbados, professores, jornalistas de grandes publicações como Istoé, conseguem a façanha de não entender a crítica de Carioca, ao afirmar que o problema são famílias desestruturadas, e não causas econômicas (do contrário, todo pobre seria black blocker, mas essa lógica é difícil demais para os marmanjos).
Bem, na verdade, entendemos sim. O que dizer de alguém que escreve tal passagem?
“Uhuuuu, uhuuuu, uhuuuu”, é o grito de guerra dos Black Blocs para se motivarem e alertarem a todos que dali para frente o bicho vai pegar. (p. 243)
Ainda bem que foram a campo fazer pesquisa para nos contar a verdadeira história!
Conclui a pesquisa aquela musiquinha do Caetano Veloso “Caminhando contra o vento”, com tanto conteúdo no predicado quanto conteúdo na cabeça de quem flerta com isso. E fim.
Black blocs de esquerda? Magina!
Este é o livrinho dos autores que se acham a última Tubaína da favela por terem escrito um livro. A julgar pelo esforço de cada um, se o escreveram em seis meses, daria para escrever um pouco mais de uma página de Word por dia e sobraria. Este artigo faria algo como uns 10 livros deles em seis meses. Sozinho.
Nada contra livros curtos, mas… qual o conteúdo dessa estrovenga? Descobrir que black bloc também é gente e que pobre existe? Azeitar tudo com papo vitimista, reduzir no discurso “imparcial” do academês e depois ir para a mídia xingar seus anfitriões por eles criticarem a violência?
Claro, aí é a hora de sacar o manual de palavrinhas de obediência imediata do bolso e dizer que “vivemos um momento delicado, não conseguimos dialogar”. Repetindo: a turma que escreve livro incensando BLACK BLOCS quebrando tudo sem motivo reclama quando alguém diz que eles são playboys, reclama que precisamos dialogar porque há muito extremismo. Qual a melhor forma de diálogo para eles? Entrar ali na sala e tacar fogo em tudo? Alguém aí sabe o número da placa do carro de cada um?
A sorte dos autores, com a qual eles contam, é que ninguém vai ler um livrinho tão ridículo quanto o deles. Tanto que cobram fontes que os refutariam… que estão exatamente em suas páginas, enquanto Esther Solano se emperequeta dizendo “está medíocre, difícil responder a isso”, sem se tocar que se arvora como uma “pesquisadora” cujo grande livro é só um diário íntimo com adesivos da Hello Kitty no canto de cada página.
No programa do Jô Soares, Esther Solano solta frases medíocres e burras como narrar o pensamento blocker como “eu sou vândalo porque tô jogando pedra, e o banco é vândalo porque está cobrando taxa de juros”, e mais uma vez tenta surpreender com obviedades, afirmando que não havia um líder claro, “ao contrário do que se pensa”. Jô, que apesar de jurar ter visto uma suástica no meio de um black bloc que ninguém mais viu, respondeu o que todo mundo responderia: “É bem claro que não há chefe, desde a primeira manifestação”. Toda uma “pesquisa” que, quando acerta alguma verdade, é um óbvio ululante a todos os não-pesquisadores.
Jô terminou criticando um livro com subtítulo tão pretensioso, já que não teriam como contar “a verdadeira história” de uma maneira tão cabal. Os autores, mais uma vez, tentaram dizer que são várias histórias contadas. As primeiras palavras do livro são:
A realidade, se existe, é um poliedro. (…)
A realidade, se existe, não está composta por verdades absolutas, cânones, ou (sic) rigores ortodoxos e sim por pontos de vista, sentimentos, percepções.
Impor um padrão imutável de entender a vida é mais uma forma de violência.
A realidade, “se existe”. Para relativistas que negam a realidade, a única verdade é o que eles querem impor a nós em determinado momento, para tentar impor o contrário 10 páginas depois.
No Pânico, Esther Solano disse que Carioca não faz jornalismo, só ideologia, por ser contra “ocupação” de escola para dar aula de FEMINISMO (nada ideológico). Willian Novaes apresentou como contraponto que Carioca iria querer aulas de Jair Bolsonaro (quando Carioca só quer, ehrr, aulas). Diz então que Carioca é louco, idiota e otário (sem um esgar de reclamação de Esther Solano pela falta de capacidade de diálogo de seu colega co-autor).
Alguém poderia até imaginar, depois disso, que os autores pesquisaram mesmo, passaram incontáveis horas/bunda lendo e estudando o fenômeno, meditando nas suas conseqüências, avaliando seus métodos, traçando cenários possíveis, sopesando a distância entre suas idéias e sua consubstanciação.
Foi o que fiz em meu modesto Por Trás da Máscara: do passe livre aos black blocs, as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. Bem ao contrário dos pretensiosos pesquisadores com 4 livros de pesquisa, não saí xingando alguém para depois reclamar da falta de nível do debate (vide meu painel noV Seminário da Polícia Civil com o professor Germano Schwartz nesta semana, onde levo exatamente o risível livrinho dos autores para comentar).
Já os pretensos pesquisadores esbravejando “Como assim, velho?” quando Carioca apontou o óbvio (que quem paga por destruir uma agência bancária é o pobre, o que escapa formidavelmente a três pimpões tentando fazer análise político-econômica) só conseguem mesmo é serem os jornalistas metidos a manos. Vide a treta no Pânico:
Ah, ops. Desculpem, link errado. O certo é esse:
Mas até você confundiria também, não é?
…
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