quarta-feira, 14 de maio de 2014

DESORGANIZAÇÃO TOTALITÁRIA - RAFAEL BRASIL

DESORGANIZAÇÃO TOTALITÁRIA  -  RAFAEL BRASIL


Quem imagina que regime autoritário, ou mesmo totalitário, é organizado, como os iluminados positivistas e neo-positivistas, está totalmente enganado. A corrupção, acompanhada de prisões, perseguições no campo profissional, tortura e assassinato tornam-se a lógica destes sistemas.
No nazismo e stalinismo, as questões eram simplesmente “resolvidas” pelo assassinato. Se o sujeito não era um diligente dirigente de fábrica, bala nele. Se era do  exército, ou de quaisquer instituições do estado,  pretensamente onisciente e onipresente, o sujeito estava exposto a ser eliminado. E de ter suas famílias cruelmente perseguidas, quando não assassinadas. Por trás da aparente organização destes sistemas, consubstanciados na pomposidade das manifestações públicas e de uma maciça propaganda.
No Brasil, justamente no período mais duro, de 1969 a 1972 depois da decretação do AI-5, os setores mais duros do regime estavam criando um estado dentro do estado. Agindo à revelia do governo. Perseguindo torturando e matando.  Sob o pretexto de combater o terrorismo, pegaram muita gente que nada tinha a ver com a chamada luta armada. Desde comunistas do chamado partidão a democratas, e até cristãos conservadores. Depois o próprio Geisel trataria, com firmeza e habilidade, desmontar o aparato repressivo afastando os duros das forças armadas. Apesar de ruim na economia, pois foi um governo essencialmente estatizante, Geisel foi quem realmente iniciou a transição democrática. Contraditoriamente, de uma forma autoritária, abriu o caminho para a liberalização do regime e a posterior transição democrática.


FRACASSO DA COPA


Pipocam em todo o mundo notícias sobre o Brasil, país sede da copa do mundo. Com a copa, o mundo começa a conhecer melhor o Brasil real. Um país desorganizado e violento, e com uma estrutura política essencialmente corrupta. Nada de novo para nós brasileiros minimamente informados. E no Brasil, é o estado patrimonialista o principal culpado pela maior parte dos nossos infortúnios. Queremos um país melhor. Infelizmente o povo, e a maior parte dos chamados intelectuais escolheram o PT como repositório de suas esperanças. Pobre e ignorante povo. Pobre país.


PRECISAMOS É DA VELHA E BOA POLÍTICA


Sem essa de nova politica. Queremos e velha, que nos deu muita gente boa no passado, do turbulento século XX. Não queremos heróis. Precisamos é de homens com caráter negociador para aperfeiçoar nossas instituições democráticas, tão achincalhadas nesta triste era petista. É preciso justamente ser conservador. Conservar a essência da democracia e do republicanismo. Modernizar o estado e democratizar a política. Desestatizar e abrir a economia. Colocar disciplina nas nossas escolas, com a imediata volta do sistema fonético tradicional . Em outras palavras, fazer com que as leis e instituições funcionem.    E que se acabe com a violência, acabando também com a política de desarmamento. Aliás, a violência é a maior praga nacional. Temos um país em frangalhos, Claro, muita coisa vem de longe, muito antes do PT no poder. Mas eles nada fizeram e estão piorando o que resta. Com baderna desenfreada é que não vamos a lugar algum. Aliás, vamos, para o autoritarismo, mais uma praga nacional. Já tivemos os de direita. Os da esquerda é que são bem mais infernais. Estes são assessores diretos de Lúcifer,  o coisa preta. Vade retro, satanás! 
   

FIGUEIREDO, DIRCEU E A OEA


Nos tempos do último general da ditadura, Figueiredo, corria uma piada de ele queria “acabar” com a OEA. Afinal, no seu governo o tinha que ser o. Nada de essa de o ser a, OEA.
Dirceu apelou para a OEA desmanchar o julgamento do mensalão. Politicamente ele já faz tempo  é um zero. E tornou-se uma grande pedra no sapato do outrora pomposo “partido dos trabalhadores”.  Com medo o PT o apóia. De Pernambuco, João Paulo, Humberto Costa e outros menos votados, já foram beijar a mão do ex primeiro ministro informal de Lula. Parece máfia. Todos se solidarizando com a malandragem, ampla geral e irrestrita. O resultado disso vai ser nada. Ridículo. Ainda querem posar de presos políticos.

Já Genoíno alega ser doente, contrariando todos os pareceres médicos. E os petistas apelam para os direitos humanos. Coitadinho do Genoíno. Ficou triste porque só roubou para o partido, para a revolução. Afinal, segundo Trotski, não há nada de errado nisso, antes pelo contrário.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

OS RACIALISTAS , GILBERTO FREYRE E DARCY RIBEIRO - Rafael Brasil

OS RACIALISTAS , GILBERTO FREYRE E DARCY RIBEIRO


Na minha ignorância de comunista juvenil, não entendia porque meu ídolo Darcy Ribeiro, nunca falava mal de Gilberto Freyre, o “representante das casas grandes”, ou seja, das históricas e nefastas oligarquias da nossa história. Pelo contrário, Darcy sempre cobria Freyre de elogios. Sempre exaltava as características mestiças da nossa formação. Sobretudo, como salienta Freyre em sua obra, a mestiçagem cultural. O velho e bom Darcy sempre dizia que se não fosse a desigualdade, seríamos uma das nações mais exuberantes do mundo.
Politicamente, Darcy era de esquerda, e apostava no populismo nacionalista messiânico, tipo Vargas, que seria o mentor brasileiro. Já Gilberto Freyre, era conservador, apesar de ter sido comunista na juventude. O primeiro era ligado ao brizolismo, e o segundo apoiou o regime militar, e os governos conservadores de sua província, de onde nunca saiu.
Ao ler Casa Grande Senzala, e depois Sobrados e Mocambos me dei conta da minha ignorância provida de ideologia, como convém boa parte a muitos ignorantes. Não lia autores considerados conservadores, que estavam num certo “index” de obras não recomendáveis, digamos assim. Assim como Darcy, Freyre ressaltava nossas características mestiças, e descrevia nossa história através desta miscigenação. O branco amorenado pela dominação árabe, o português, com os indígenas e negros. De negros com indígenas, e por aí vai. Claro, ambos eram radicalmente contrários ao racismo e sempre apoiaram as leis brasileiras neste sentido.
Só que, com o tempo, naturalmente reconheci o óbvio. Gilberto Freyre é bem maior do que Darcy, sem querer fazer comparações, mais isto hoje é mais do que claro, digamos assim. Gilberto Freyre foi escanteado pelos intelectuais uspianos, notadamente marxistas, tratado como um intelectual menor. Meramente descritivo, chegado ao pitoresco, tendo sua obra , psicologicamente falando, como saudosa da sociedade patriarcal escravocrata. Que era anti-semita e brando em relação à opressão escravocrata sobre os negros africanos. Hoje ele é cada vez mais estudado, e suas obras são sempre reeditadas. Até Fernando Henrique, que fazia parte dos intelectuais marxistas ou próximos ao marxismo uspiano, pediu desculpas pelas bobagens que compartilhou durante décadas sobre a obra feyreana.
Hoje assistimos arautos do racialismo no país. Os negros são pouco mais de 4% da população. Já os mestiços, a grande maioria. Aí vem essa turma com a história de cotas para negros e outras bobagens. Incitando os negros ou mestiços a brigar com os brancos. Aliás, qual a verdadeira porcentagem de brancos no país?
Nas escolas, nos livros de história incluíram história africana. Mas como, se a África é um grande mosaico das mais variadas culturas, onde, em muitos casos, ainda impera o tribalismo? A própria escravidão negra era praticada, bem antes da chegada dos europeus, há séculos, pelos próprios negros africanos, sobretudo os muçulmanos. Aqui no Brasil, milhares de negros, quando libertos, tornavam-se severos senhores de escravos, afinal, todos tinham escravos. Os ricos para tocarem suas plantações, minerações, e serviços domésticos. Os pobres, com os chamados escravos de ganho. Que faziam pequenos serviços como vender doces nas ruas, ou mesmo os antigos serviços de prostituição, trazendo os lucros para o seu dono de ocasião. Em outras palavras, a questão da escravidão era um fato muito mais complexo do que uma briga entre europeus maus contra negros escravizados bons, sobretudo pela sua condição, deplorável incontestavelmente, de escravos.
O que temos mesmo é seguir a orientação de Darcy, que foi também um grande participante na cena política nacional há mais de cinquenta anos. Temos que fazer uma ótima escola para o nosso povo. Deveria haver uma verdadeira mobilização nacional neste sentido. Uma escola com bons, porque bem formados professores, e com salários dignos, claro. Com códigos de disciplina rígidos, sem essa de bagunça. Com a alfabetização essencialmente fonética, como no passado, e participação efetiva das comunidades e das famílias no processo educacional.
O chamado “sócio construtivismo” ao tirar do professor a centralidade do processo educacional, desmontou completamente nossa educação. Tiraram a autoridade dos professores, e a colocaram nas mãos de crianças e adolescentes, naturalmente cruéis e impetuosas, mimadas e autoritárias. Resultado: Temos já mais do que uma geração de pessoas bem nutridas, mas ignorantes. Sem educação familiar, e religiosa, temos a química perfeita para o desastre. Ou seja, a maior causa de morte de jovens no país hoje é a violência. Hoje os jovens nem respeitam os pais, estes cheios de culpas em limitar os ímpetos maléficos dos filhos, nem os professores, nem tampouco as religiões, as quais sempre tiveram sólidos princípios morais, construídos milenarmente: resultado: são mortas pelas gangues, pela polícia e tudo o mais. A criminalidade nunca chegou a estes limites de uma verdadeira guerra civil. Aonde os homens de bem, defensores da família e das instituições, são tratados, sobretudo pela mídia como “conservadores e caretas”. Enquanto escrevo, tenho muita pena dos professores, hoje, UMA DAS PIORES PROFISSÕES DO BRASIL. Tem-se que aguentar perorações de pedagogos claramente equivocados, e o barbarismo de crianças e adolescentes nas salas de aulas, sem ter quem os defenda. Por essas e outras todos fogem das salas de aula. É triste passar a vida sendo insultado por jovens impetuosos e naturalmente ignorantes, em que os pais “despejam” diariamente nas escolas sem a devida contrapartida de uma pelo menos razoável educação doméstica. Pobre país...

Hoje, nem temos mais , digamos, intelectuais. Até os anos setenta ainda os tínhamos, e podíamos nos deleitar com suas posições e controvérsias. Na falta de uma elite intelectual, segue-se a pobreza cultural. Na falta de paradigmas, até a classe média segue a subcultura do antigamente chamado lumpesinato. Vide as porcarias que hoje assistimos nas mídias. Dá vontade de chorar. Hoje, mais do que nunca, reina a imbecilidade, como diria o finado Nélson Rodrigues. Que deve tremer no seu túmulo diante das idiotices do nosso “universo” cultural que ele criticava com humor e sarcasmo nos anos sessenta. Que para nós hoje, era um mundo iluminado. 

História de quinze séculos - Olavo de Carvalho


História de quinze séculos
Olavo de Carvalho

Desmantelado o Império, as igrejas disseminadas pelo território tornaram-se os sucedâneos da esfrangalhada administração romana. Na confusão geral, enquanto as formas de uma nova época mal se deixavam vislumbrar entre as névoas do provisório, os padres tornaram-se cartorários, ouvidores e alcaides. As sementes da futura aristocracia européia germinaram no campo de batalha, na luta contra o invasor bárbaro. Em cada vila e paróquia, os líderes comunitários que se destacaram no esforço de defesa foram premiados pelo povo com terras, animais e moedas, pela Igreja com títulos de nobreza e a unção legitimadora da sua autoridade. Tornaram-se grandes fazendeiros, e condes, e duques, e príncipes, e reis.
A propriedade agrária não foi nunca o fundamento nem a origem, mas o fruto do seu poder. Poder militar. Poder de uma casta feroz e altiva, enriquecida pela espada e não pelo arado, ciosa de não se misturar às outras, de não se dedicar portanto nem ao cultivo da inteligência, bom somente para padres e mulheres, nem ao da terra, incumbência de servos e arrendatários, nem ao dos negócios, ocupação de burgueses e judeus.
Durante mais de um milênio governou a Europa pela força das armas, apoiada no tripé da legitimação eclesiástica e cultural, da obediência popular traduzida em trabalho e impostos, do suporte financeiro obtido ou extorquido aos comerciantes e banqueiros nas horas de crise e guerra.
Sua ascensão culmina e seu declínio começa com a fundação das monarquias absolutistas e o advento do Estado nacional. Culmina porque essas novas formações encarnam o poder da casta guerreira em estado puro, fonte de si mesmo por delegação direta de Deus, sem a intermediação do sacerdócio, reduzido à condição subalterna de cúmplice forçado e recalcitrante. Mas já é o começo do declínio, porque o monarca absoluto, vindo da aristocracia, dela se destaca e tem de buscar contra ela -- e contra a Igreja -- o apoio do Terceiro Estado, o qual com isso acaba por tornar-se força política independente, capaz de intimidar juntos o rei, o clero e a nobreza.
Se o sistema medieval havia durado dez séculos, o absolutismo não durou mais de três. Menos ainda durará o reinado da burguesia liberal. Um século de liberdade econômica e política é suficiente para tornar alguns capitalistas tão formidavelmente ricos que eles já não querem submeter-se às veleidades do mercado que os enriqueceu. Querem controlá-lo, e os instrumentos para isso são três: o domínio do Estado, para a implantação das políticas estatistas necessárias à eternização do oligopólio; o estímulo aos movimentos socialistas e comunistas que invariavelmente favorecem o crescimento do poder estatal; e a arregimentação de um exército de intelectuais que preparem a opinião pública para dizer adeus às liberdades burguesas e entrar alegremente num mundo de repressão onipresente e obsediante (estendendo-se até aos últimos detalhe da vida privada e da linguagem cotidiana), apresentado como um paraíso adornado ao mesmo tempo com a abundância do capitalismo e a “justiça social” do comunismo. Nesse novo mundo, a liberdade econômica indispensável ao funcionamento do sistema é preservada na estrita medida necessária para que possa subsidiar a extinção da liberdade nos domínios político, social, moral, educacional, cultural e religioso.
Com isso, os megacapitalistas mudam a base mesma do seu poder. Já não se apóiam na riqueza enquanto tal, mas no controle do processo político-social. Controle que, libertando-os da exposição aventurosa às flutuações do mercado, faz deles um poder dinástico durável, uma neo-aristocracia capaz de atravessar incólume as variações da fortuna e a sucessão das gerações, abrigada no castelo-forte do Estado e dos organismos internacionais. Já não são megacapitalistas: sãometacapitalistas – a classe que transcendeu o capitalismo e o transformou no único socialismo que algum dia existiu ou existirá: o socialismo dos grão-senhores e dos engenheiros sociais a seu serviço.
Essa nova aristocracia não nasce, como a anterior, do heroísmo militar premiado pelo povo e abençoado pela Igreja. Nasce da premeditação maquiavélica fundada no interesse próprio e, através de um clero postiço de intelectuais subsidiados, se abençoa a si mesma.
Resta saber que tipo de sociedade essa aristocracia auto-inventada poderá criar – e quanto tempo uma estrutura tão obviamente baseada na mentira poderá durar.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

OLAVO DE CARVALHO E O GOLPE DE 1964


OS RATOS E A REFORMA POLÍTICA - RAFAEL BRASIL

 OS RATOS E A REFORMA POLÍTICA


Os maiores ratos da política são àqueles que , por sempre estarem do lado do governo, já pensam em pular do barco, quando ele começa a afundar.  E isso já está acontecendo com os aliados do governo. Os ratos da política se aproveitam do que muitos eufemisticamente chamam de “presidencialismo de coalizão”.  Detém as tecnologias para roubar o estado, inclusive para se reelegerem. São as maiorias compradas, ou “cooptadas” pelos milhares de cargos na máquina do governo. Que suga mais da metade da economia nacional, e é geralmente privatizada. Ou pelos ladrões, ou pelas corporações. Destravar tudo isso, é obra para estadista. Precisaríamos, como diria Marco Maciel, de uma baita reforma política, para começar. É preciso falar também do assunto.  Alguém começará? 

DILMA DETÉM QUEDA?

Se Dilma cair muito nas pesquisas, Lula entra. E se entrar, como consertar os estragos da era petista? Como administrar esta era maldita? Como se desvencilhar de Dilma, se ganhar, e se ganhando, como consertar este abacaxi?

SARNEY E LULA

Principal conselheiro de Lula depois do mensalão, Sarney, durante o fracassado plano cruzado no fatídico ano de 1986, foi um dos presidentes mais populares do país. Aonde passava era ovacionado pela população. Saiu do governo sob vaias. E quase sem sair em público, inclusive nas solenidades. Popularidade vai e vem. Será que Lula se livraria de um abraço de afogado? E olha que Dilma representa a esquerda , digamos, mais ideológica no poder. Que vergonha para a velha esquerda nacional! Que antes, pelo menos era honesta. Ou parecia. Pobre, mas limpinha. Na verdade estão esculhambando tudo, ou quase tudo o que foi feito por Fernando Henrique.

DILMA E A PETROBRÁS

Dilma, do alto de sua enorme "inteligência e preparo" que lhe é habitual, disse que ninguém pode ser a favor da venda da PETROBRÁS. A Petrobrás é uma representação ou norma religiosa? Um dogma? Ora bolas. Devia ter alguém de coragem defendendo a venda pura e simples da empresa. Não só da Petrobrás, mas de TODAS AS ESTATAIS, ressalvadas os institutos de pesquisa, ou coisas do gênero.

Como diria Roberto Campos, se estatização fosse importante, em meados do século XIX estatizavam a lenha, que era o principal combustível. Ou mesmo o carvão. Se fosse bom os americanos o fariam. Mas eles preferem deixar o setor com gente do ramo. E o governo cobra os devidos impostos. Simples assim. Também devia-se vender o resto dos bancos do governo. E o banco central ter uma maior dose de autonomia. Não sou economista, mas sei bem que o que o Brasil precisa é de CAPITALISMO. Não este “socialismo” ao contrário, onde se tira dos pobres, cobrando-lhes mais impostos, e mantêm-se privilégios, sobretudo na chamada “nomenklatura estatal”. São muitos privilégios e mordomias. 

domingo, 4 de maio de 2014

La triunfante imperfección de la democracia - LA NACIÓN

La triunfante imperfección de la democracia

Quizá quien más cerca estuvo de ofrecer una definición certera de la democracia fue Winston Churchill cuando dijo que "la democracia es el peor de los sistemas conocidos, con excepción de todos los demás". Las denuncias por las incontables imperfecciones de la democracia provienen no sólo de sus enemigos -lo cual sería lógico- sino también de sus amigos, de aquellos que hasta darían su vida por ella. Lo cual requiere, por lo menos, una explicación.
El ejemplo de los críticos de la democracia que sin embargo la aman fue plasmado en un ensayo de seis páginas que una revista publicó el pasado 1 de marzo. Bajo el título ¿Qué anduvo mal con la democracia? , The Economist propuso en este ensayo una lista abrumadora de las fallas de la democracia, tan abrumadora que la mayor sorpresa del lector es encontrarse al final del ensayo con que The Economist defiende a la democracia y no le baja el pulgar. Es como si un tribunal, después de aprobar minuciosamente las pruebas que condenan a un acusado, decidiera absolverlo. ¿En qué quedamos entonces? La democracia, ¿es inocente o es culpable?
Las denuncias por las incontables imperfecciones de la democracia provienen no sólo de sus enemigos sino también de sus amigos, de aquellos que hasta darían su vida por ella
La conclusión de The Economist podría traducirse así: aún imperfecta, la democracia es tan, pero tan valiosa, que incluso los que la criticamos severamente necesitamos cuidarla. Y así, de esta manera, se distribuyen en tres partes los juicios en el mundo acerca de la democracia: una primera parte, cree en ella y la cumple; una segunda parte, dice que cree en ella pero no la cumple; sólo una tercera parte, probablemente la menor de todas, dice que no cree en ella y además no la cumple.
La preferencia por la democracia a lo largo del mundo proviene de la superioridad de su principio de legitimidad: la soberanía del pueblo. ¿Quién osa dudar abiertamente de este principio en nuestro tiempo? Por eso, decíamos que incluso aquellos que en los hechos lo vulneran necesitan fingir que lo cumplen, para ser aceptados por los demás. ¿Que son cínicos? Sí, pero el cinismo es el homenaje que la mentira rinde a la verdad.
Sería engorroso sintetizar las fallas de la democracia. Cuando intenta hacerlo, The Economist propone una palabra, majoritarianism, que quizá podríamos traducir al castellano por "mayoritismo" y que desemboca en la siguiente frase: "La mayoría, por serlo, tiene razón". De aquí provienen las dos versiones, una absoluta y la otra moderada, de "mayoritismo". Durante los tiempos eufóricos de la Revolución Francesa y de nuestra Revolución de Mayo, muchos compartieron la visión según la cual la voluntad general era la encarnación de la soberanía popular. Había que obedecerla, por tanto, como a un dios en la tierra. Pero a esta visión afrancesada de la voluntad general se opuso una versión práctica, es decir inglesa. Los ingleses pensaron, contra los franceses, que la "voluntad general" es una utopía porque lo que hay en suma, no es una sola voluntad general, común a todos, sino millones de voluntades individuales, diversas entre sí. El voto, según esta otra interpretación, no consistía en una suerte de ordalía unificadora sino, más prosaicamente, en un expediente práctico para resolver las diferencias. La mayoría, así, no necesariamente tendría la razón pero lo que sí tendría es el derecho de gobernar hasta el siguiente período, como si la tuviera.
Según esta doctrina, por otra parte, que la mayoría tenga el derecho de gobernar no le concede el don de la infalibilidad. A lo más, tendrá el derecho de equivocarse. Esta salvedad cubre asimismo el derecho de criticar y disentir del opositor, aun cuando su adversario tenga la facultad de gobernar. De esta manera se sostienen al mismo tiempo dos facultades concurrentes: la facultad de mandar, que pertenece al gobierno, y la facultad de disentir, que es el rol de la oposición.
El mayoritismo consiste en reducir el concepto de pueblo, que supone la totalidad del pueblo, a su parte más numerosa o mayoritaria
Es por esta ancha avenida que discurre el aluvión de las críticas a la democracia de aquellos que la aman. La principal de estas críticas, decíamos, es por el "mayoritismo". El pueblo es todo el pueblo. Pero el mayoritismo consiste en reducir el concepto de "pueblo", que supone la totalidad del pueblo, a su parte más numerosa o mayoritaria. Pero la mayoría no es la totalidad. Lo sabemos desde el colegio. El todo es mayor que las partes. Hay excepcionales momentos de la historia en los que todo el pueblo lucha por persistir; así fue, por ejemplo, en nuestras guerras de la independencia. Pero esto no es lo normal. Lo normal es que el pueblo esté dividido. Pero eso sí; que esté dividido según ideas e intereses cuya multiplicidad no ponga en riesgo su unidad.
La democracia, por otra parte, nos expresa. Los que la amamos la criticamos porque buscamos al mismo tiempo nuestra propia maduración. Fuimos y todavía no somos. Pero seremos lo que todavía no somos, aún en la imperfección. Esta es la incomprensible magia de la democracia que, con todos nuestros errores, estamos construyendo..

O negro e o macaco - João Ubaldo Ribeiro Estadão

O negro e o macaco - João Ubaldo Ribeiro

Estadão 
Uma das mais clamorosas - e para mim enervantes - manifestações do atraso da espécie humana é esse negócio de raça. A importância que damos à raça, a ponto de odiar-se, matar-se e morrer-se por causa dela, leva inevitavelmente ao lugar-comum: seria ridícula, se não fosse trágica. É difícil encontrar um assunto sobre o qual se digam tantas besteiras quanto este, sempre ignorando não só evidências antropológicas como dados da própria realidade cotidiana. E é também bastante difícil falar sobre ele ou debatê-lo. Muita gente perde o controle, espuma de raiva e afoga o debate em gritos e denúncias.
Começa pela ligação, que aqui sempre se faz, entre escravidão e raça. Falou, em escravos, falou em negros. Mas a maior parte dos escravos na história da humanidade não era de negros, o que lá seja isto. A escravidão, para generalizar razoavelmente, era o destino dos vencidos de qualquer raça, que não fossem exterminados. Inclusive, é claro, pois do contrário é que não seriam humanos, os da raça negra vencidos por outros da mesma raça, caso dos escravos vendidos ao Brasil.
É comum a noção de que "negro é negro", como se as incontáveis etnias negras se considerassem iguais. Isso equivale a entender que um alemão é igual a um polonês, um sueco igual a um italiano ou um espanhol igual a um russo. Não pode haver disparate maior - e, se bem olhado, racista - do que achar que, num continente gigantesco e diversificado como a África, todos os negros são iguais e, mais bobamente ainda, irmãos. Irmãos em Cristo e, assim mesmo, se não forem muçulmanos. Vão perguntar se as minorias negras massacradas por nações também negras se consideram irmãs de seus algozes, ou estes daquelas. Ou aos escravos negros de outros negros, situação até hoje existente na África. Há até quem se escandalize com guerras e genocídios entre nações negras. Ué, e guerra de branco contra branco?
Desculpem se atropelo argumentos, mas é que o assunto me deixa nervoso também e me dá uma certa exasperação. Agora me ocorre interromper o que vinha dizendo para lembrar outra prática enervante: falar em cultura africana. Não existe, nem pode existir, uma cultura africana, em nenhum sentido. Aplica um reducionismo grotesco aquele que - e lembro outra vez o tamanho e a complexidade da África - acha que só existe uma cultura negra ou africana. De novo, é um argumento que, se bem olhado, pode ser considerado racista. Existe a cultura africana dos povos a que pertenciam os que foram trazidos para o Brasil como escravos, o que é muito diferente de dizer que ela é "a cultura africana". Experimentem convidar um zulu para jantar e servir a ele comida ioruba, como na Bahia. Defender a existência de uma única cultura africana ou negra é insultuoso, ignorante e racista.
Aplicar padrões sociológicos americanos para o problema, no Brasil, é outra prática difícil de aturar. E faço a ressalva sempre exigida de que claro que no Brasil há racismo, patati-patatá. Mas a Bahia não é o Alabama. Já na década de sessenta, um casal, numa das Virgínias do sul dos Estados Unidos, foi condenado a dois anos de prisão porque era inter-racial, ou seja, um dos dois era negro. As Forças Armadas só foram integradas na guerra da Coreia e qualquer um que tenha vivido nos Estados Unidos sabe que lá é diferente e ou criamos nossas próprias categorias para examinar nossa realidade, ou prosseguiremos macaqueando até mesmo o racismo alheio.
Escrevi "macaqueando" aí em cima, sem de início lembrar a alusão a macacos em recentes incidentes de racismo no futebol. Mas ela vem a calhar, nesta salada que estou servindo hoje. É curioso como não paramos para pensar e notar que, quesito por quesito, algum racista negro teria razões para alegar que macaco é o branco e não o negro, o qual pode ser visto como muito mais distante do macaco que o branco. Se é verdade, não sei, nem isto tem importância alguma, mas pensem aqui num par de coisas. Imaginem, por exemplo, um ser inteligente de outro planeta, portanto não sujeito aos nossos condicionamentos, a quem incumbíssemos de esclarecer qual das duas raças é mais próxima do macaco. Para tanto, poríamos diante dele um branco nu, um negro nu e um chimpanzé, nosso primo próximo.
O primeiro impacto talvez fosse a cor e, de fato, o pelo do chimpanzé, assim como a pele do negro, é preto. Mas o bom observador não ia deixar-se levar por essa aparência. Façamos um exame cuidadoso e uma listazinha, junto com ele. O macaco é todo coberto de pelos, o corpo do negro é glabro, o branco pode ser o Tony Ramos; os pelos do macaco são lisos, os cabelos do branco também, os cabelos dos negros são crespos; raspado o pelo, a pele do macaco por baixo se revela branca e não preta; os lábios do macaco são finos, os do branco também, os dos negros são grossos; o macaco não tem bunda, o branco tem bunda chata, o negro tem bunda almofadada; até - perdão, senhoras - os renomados atributos masculinos dos negros são mais distantes do macaco, que é tipo piu-piu. Como se vê, basta escolher o que se quer levar em conta e, pelo menos neste exemplo perfeitamente plausível, o extraterrestre poderia concluir que o branco está bem mais perto do macaco que o negro.
Tudo bobagem, discussão que não leva a nada, somente ao ódio e à intolerância. Vamos parar de procurar modelos, ao menos nisto não sejamos tão colonizados, não permitamos que mais lixo contamine nosso pensamento. Os americanos é que têm obsessão por raça (lá nós, brasileiros, somos "hispânicos"), nós temos é a glória e o privilégio de ser o único país em que homens e mulheres de todas as raças se misturaram e misturam e onde a raça, Deus há de ser servido, ainda terá o lugar que merece, ou seja, nenhum.